Reflexões em Mateus


José estava diante de uma grande frustração, pois a conclusão mais óbvia era a traição de sua esposa por estar grávida. José não tinha como pensar outra possibilidade além da anunciada pelo anjo. Era algo novo, além de sua compreensão. José não ignorou o fato. José foi esclarecido a não fazer o que seria antes mais justo ou lógico a fazer: expor a traição. O casamento ganhou uma nova dimensão de significado com o anúncio do anjo.
Pergunta-chave: Qual a dimensão do meu casamento?
Alguns judeus, acostumados com o tradicionalismo de serem filhos de Abraão (“povo escolhido”), já não se preocupavam mais em ser “bons frutos” (3:7-10).
João Batista apresenta uma perspectiva de filiação com Abraão que vai além do aspecto genético.
Pergunta-chave: Criamos também um tradicionalismo (pessoal) que nos incentiva à passividade?
Características do Filho de Deus:
· Poder de batizar com o Espírito Santo e fogo (3.11) – parece relacionado com arrependimento, transformação;
· Poder sob a matéria (4.3);
· Poder sob os anjos (4.6);
· É Senhor (4.7);
· Poder para curar enfermidades físicas e espirituais (4.23-24).
Jesus é anunciado como Filho de Deus no batismo. Esse anúncio não parece ter sido dado a multidões.
É tentado no deserto. Humanamente fica numa situação de extrema necessidade física (fome) e psicológica (sozinho no deserto).
A tentação não parece estar necessariamente relacionada com satisfazer as necessidades humanas, porém em não usar o poder de Filho de Deus como uma vaidade, necessidade ou egoísmo. Não foi dito “Se está com fome”, mas sim “Se és Filho de Deus”.
Pergunta-chave: Qual a motivação de nosso crescimento profissional, social e material?
Parecia haver uma grande expectativa quanto ao “evangelho do reino” (4.23), pregado por Jesus.
Diante então da multidão Jesus começa a falar das “diretrizes” desse evangelho (5:3-11) com o fim de serem o “sal da terra” (5.13) e a “luz do mundo” (5.14).
Diante dessa expectativa Jesus esclarece que não veio para revogar a “Lei ou os Profetas” (mandamentos mosaicos e as profecias) e que a mesma tem eficácia plena (5.19) “até que tudo se cumpra” (5.18).
Pergunta-chave: Buscamos ser agradáveis com as pessoas (sal) sem deixar de sermos modelo de comportamento para as mesmas (luz)?
A justiça baseada na Lei tem a sua validade até seu cumprimento completo por Jesus (5.18). O batismo também parece fazer parte desse cumprimento (3.15).
Jesus até o momento não fala a razão. Até o momento a expectativa das multidões era Jesus como Messias, um profeta com grande poder.
Pergunta-chave: O que sabemos e esperamos de Jesus?
Parecia haver uma justiça popular ou tradicional já entendida como oficial ou suficiente entre as pessoas da época: a justiça praticada e ensinada pelos fariseus e escribas. As pessoas a utilizavam como referência da prática justa e legítima para Deus.
No entanto Jesus dá exemplos de como a “Lei ou os Profetas” pode ser aplicada de forma bem mais abrangente (5:21-47). Por isto ele fala em exceder a justiça “dos escribas e fariseus” (5.20).
Talvez a intenção aqui de Jesus não seja substituir práticas de uma justiça por outra, mas mostrar como a Lei pode ter uma aplicação muito mais humana, abrangente do que uma lista moral do que deve ou não fazer. Aliás, algumas pessoas para facilitar a vida dos outros procuram resumir ou orientar em situações novas ou complexas, ações concretas que podem ser feitas a respeito do que é justo. Jesus fez isto também. No entanto a tendência das pessoas é fazer dessas orientações concretas, a própria lei. Esse é o fenômeno do legalismo: as pessoas ficam presas na dimensão da letra da lei e não desenvolvem a capacidade de aplicar a essência da lei (as bem-aventuranças).
Pergunta-chave: Criamos também um legalismo que nos impede de sempre revermos a nossa prática e pensamento?
Jesus regula as práticas principais de piedade – ajuda aos necessitados, oração e jejum – e a prática de acumular riqueza material.
O principal erro cometido nessas práticas é fazê-las com a motivação de serem vistos ou glorificados pelos homens. É a “vaidade espiritual”. São pessoas que buscam na verdade reputação de piedosos. Por isso, “já receberam a recompensa” de serem vistos como piedosos, mas não de Deus.
Na oração, o erro é usar de repetições como se Deus não soubesse de antemão as nossas necessidades, como se houvesse uma fórmula nessas repetições.
Pergunta-chave: Somos vaidosos em práticas de piedade?
Não é errado trabalhar (buscar crescimento) para comer, beber e se vestir. O problema acontece quando:
· A riqueza passa a ser a garantia, a segurança para essas coisas em vez de Deus. Consequentemente a pessoa passa a servi-lo, quer dizer, viver em função dele;
· A preocupação ou ansiedade em torno dessas coisas são maiores que buscar o reino e a justiça de Deus;
· Ignora que Deus sabe as nossas necessidades.
Pergunta-chave: Somos materialistas ou buscamos primeiro a Deus?
Podemos ver mais “claramente” (sensibilidade? empatia?) o problema do outro quando primeiro resolvemos o mesmo problema em nós, caso contrário fazemos julgamento indevido.
A expressão cães e porcos é utilizada no sentido de pregarmos o evangelho de forma despretensiosa, não forçando o ouvinte à aceitação.
A “Lei e os Profetas” se resumem à máxima: querer fazer aos outros o que queremos que façam a nós (muita parecida com a máxima do filósofo Kant).
Pergunta-chave: Temos empatia suficiente em fazer aos outros o que queremos que façam conosco?
Falsos profetas são conhecidos pelos seus maus frutos. Os bons frutos não estão relacionados a dons sobrenaturais (profecia, curas, línguas, entre outros), mas ao caráter piedoso, a busca em primeiro lugar do reino e da justiça de Deus. É a maturidade espiritual.
Praticar as palavras de (seguir) Jesus é construir uma casa sobre a rocha de modo que possa suportar as tribulações que virão (e não evitá-las!). Não segui-lo, apenas ouvi-lo é construir a casa sob areia e vindo uma forte tribulação, a casa cair (perder a esperança, razão de viver, razão de fé, etc).
Pergunta-chave: Qual base buscamos na espiritualidade: experiências milagrosas ou caráter piedoso?
Jesus efetuou muitas curas, mas o interessante era a fé das pessoas envolvidas:
· O leproso;
· O servo do Centurião (este não era judeu);
· Sogra de Pedro;
· Endemoninhados
o Cafarnaum;
o Terra dos gadarenos.
Essas curas não implicavam em transformação necessariamente de caráter (arrependimento ou perdão) e em alguns casos, como os dos gadarenos, as pessoas ou a sociedade daquele local estava de tal forma dependente e escrava do pecado que preferiram a saída de Jesus do local.
Pergunta-chave: Até onde estamos dependentes de algum tipo de pecado?

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