Postagens

Mostrando postagens de 2018

Um resumo da minha vida política

Imagem
Posso dizer que este texto de Adrualdo Catão, que recebi via WhatsUp, resume bem minha vida política, de Lula a Marina, e recentemente em Ciro, com ressalvas. Quem quiser me entender, está aqui uma boa fonte. "De onde surgiu o Bolsonaro?  Desculpem os amigos, mas não é de um "machismo", de uma "homofobia" ou de um "racismo" do brasileiro. A imensa maioria dos eleitores do candidato do PSL não é machista, racista, homofóbica nem defende a tortura. A maioria deles nem mesmo é bolsonarista.  O Bolsonaro surgiu daqui mesmo, do campo das esquerdas. Surgiu da nossa incapacidade de fazer a necessária autocrítica. Surgiu da recusa em conversar com o outro lado. Surgiu da insistência na ação estratégica em detrimento da ação comunicativa, o que nos levou a demonizar, sem tentar compreender, os que pensam e sentem de modo diferente.  É, inclusive, o que estamos fazendo agora. O meu Facebook e o meu WhatsApp estão cheios de ataques aos "

"Back to formula" na atividade acadêmica e na atividade política

Imagem
Quero (tentar) brevemente falar sobre uma situação não-agradável, por requerer um esforço não-planejado, mas extremamente necessário, que está muito presente na vida de estudantes, (que acreditam!) que exercem sua pesquisa adequadamente, bem como de cidadãos (que acreditam!) que exercem sua atividade política adequadamente, especialmente nas redes sociais. Uma metáfora para essa situação é uma cena do primeiro filme do Homem Aranha, em que Norman Osborn questiona (e mata) o seu colega de trabalho científico, por dito que o projeto precisava voltar à fórmula ("back to formula"). Isso o irritou profundamente, porque foi dito diante dos clientes do projeto. Há outros pontos em jogo. Osborn dedicou sua carreira e vida pessoal a esse projeto. Sua imagem de sucesso profissional estava em jogo com esse projeto. O caráter científico foi (já estava) engolido pela agenda social. Isso diz muito do que Thomas Kuhn "denuncia" nas revoluções (ditas) científicas. Meu ponto

A lógica de ser pai

Imagem
A lógica nem sempre obedece uma lógica, assim como o pai nem sempre é pai. Pensando a essência da lógica, bem distinta de como é vista comumente na atualidade, acabei pensando a essência da minha própria paternidade, já que agora vou ser (!) pai de mais um menino. O primeiro contato geralmente com a lógica se dá por alguma estrutura formal. Aprende-se, então, a validar alguns argumentos, após formalizá-los em alguma inferência formal. Com o tempo, operadores formais se tornam (!) leis do pensamento, do modo como ocorria entre modernos e medievais. Isto é, aquilo nos faz pensar de determinada forma, ou mesmo o que nos caracteriza como racional, é lógico. Nesse sentido, somos racionais porque pensamos logicamente. Mas desde o início do século XX, por causa de certas provas formais, surgiram várias lógicas (o pluralismo lógico). Ganhou força o pragmatismo, em suas variadas formas, que não apenas passou a questionar a noção de verdade como fundamental na lógica (formal), como

Um leve ajuste na tradução de João 15:15

Imagem
"Já vos não chamarei servos [δούλους], porque o servo [δοῦλος] não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer [ἐγνώρισα]." (João 15:15, ACF). Quero chamar a atenção para "servo" e "conhecer". 1. O substantivo (transliterado sem acento) doulos (δοῦλος), em versões mais antigas, era traduzido por “escravo”, mas muitos tradutores passaram a optar por “servo”. A razão da adoção por “servo” é evitar alguma conotação negativa de injustiça, como uma espécie de submissão violenta e forçada, como coloca Hendriksen (2011, p. 52). 2. Ao usar doulos, Jesus provavelmente estava fazendo uso do seu sentido de instrumento, não de “explorado” (injustamente). Quase 300 antes, na Ética de Aristóteles (1161b1-8), havia esse entendimento: “o escravo [doulos] é uma ferramenta viva tal como uma ferramenta é um escravo [doulos] sem vida. (...) Portanto, não pode haver amizade com um escrav

Lula, redes sociais e Sellars

Imagem
(Direto do Facebook). Sellars: “agarrar um conceito é dominar o uso de uma palavra” (BRANDOM, 2000, p. 6). O que vou falar tem muito haver com o que aconteceu ontem, especialmente aqui nas redes sociais, nos variados gestos (!) afirmativos e negativos, de apoio e repúdio a  # Lula , com charges, xingamentos, indiretas etc. Já falei sobre isso em outros momentos, em algumas postagens, mas volto a reforçar algo sobre os nossos "movimentos discursivos". A proposta aqui é expressiva ou elucidativa da natureza de nossos "gestos", não do seu mérito, se bom ou ruim. Alguns desses gestos são "Lula Livre!", "Esquerda fede!", "Não tenho político de estimação!", "Isentão!", "Defendo o pobre!", "Você defende o rico!" etc. E também vão entender o quão é difícil para mim me expressar por aqui sem o receio de perder preciosas amizades. Um  # gesto  é uma  # expressão . Nos casos mais simples (!), o gesto esgota u

Uma controvérsia na tradução de Mateus 16:23

Imagem
"Mas ele, voltando-se, disse a Pedro [Πέτρῳ]: Sai [Ὕπαγε] de diante de mim [ὀπίσω], Satanás [σατανᾶ]; tu és para mim uma pedra de tropeço [σκάνδαλον], porque não cuidas das coisas de Deus, mas sim das dos homens." (Mateus 16:23, Sociedade Bíblica Britânica). Há uma outra possibilidade para compreender essa passagem, que acredito mais simples e natural com os versículos mais próximos do capítulo. Vejamos antes estes seguintes pontos. 1. O nome "satana" [σατανᾶ], recebe tradicionalmente no NT a tradução "Satanás", porém, numa "leitura clássica", as opções são "oponente" ou "adversário". 1.1. O portal BibleHub adota o caso vocativo desse nome, por isso o nome próprio "Satanás" (Σατανᾶ). 1.2. O Perseus Hopper, especificamente Westcott e Hort, adota o acusativo, mas mantém em maiúsculo, como se fosse um nome próprio. 1.3. Tischendorf 8th Edition Greek New Testament mantém minúsculo. 2. Veja o jogo sem

Um exemplo de extremos de nossas redes sociais

Que característica relevante identifica um sábio? O que justifica alguém ser qualificado de modo justo como sábio? Vou tentar uma resposta para o que está em questão agora, a partir desse caso de Marielle, que parece estar dividindo as pessoas, como em época de eleições. Pois bem, uma característica própria do sábio é a ausência de contradição entre o que diz e o que fa z. Na verdade, essa é uma caracterísitca aplicável a muitas outras situações. Mas se pelo menos o sábio não a tem, então sua sabedoria é demagogia, charlatanismo, falsa, e por aí vai. A cultura cristã tem o exemplo clássico do monitoramento dos fariseus das ações de Jesus. Veja este trecho, traduzido de uma versão em grego (de minha preferência): ἦλθεν ὁ υἱὸς τοῦ ἀνθρώπου ἐσθίων καὶ πίνων, καὶ λέγουσιν Ἰδοὺ ἄνθρωπος φάγος καὶ οἰνοπότης, τελωνῶν φίλος καὶ ἁμαρτωλῶν. καὶ ἐδικαιώθη ἡ σοφία ἀπὸ τῶν ἔργων αὐτῆς. (Westcott e Hort. 1881. Mateus 11.19) "Veio o filho do homem, bebendo e comendo, e dizem: '

Minhas memórias. Minha alma.

Imagem
Esta é uma continuação do texto " Minha alma. Meu refúgio ". Uma dificuldade apontada, não explicada neste texto, são os relatos de primeira pessoa ("Eu vi"; "Eu senti"), que se apresentam de modo incorrigível, como se suas evidências fossem evidentes ("são fatos incontestáveis"). Primeiro, é preciso esclarecer a diferença entre evidência e evidente. Para isso, recorro a Austin : "A situação na qual se poderia dizer, com propriedade, que possuo evidências para afirmar que determinado animal é um porco é, por exemplo, aquela em que o próprio animal não está à vista, mas posso ver inúmeras pegadas semelhantes às de um porco nos arredores do local onde ele fica. Se encontro alguns galões de ração para porco, as evidências aumentam, e os ruídos e o cheiro podem fornecer mais indícios. Contudo, se o animal aparece e se mostra plenamente visível, não há porque reunir mais indícios; o seu aparecimento não me fornece mais uma evidência

Minha alma. Meu refúgio.

Imagem
Em meados de 1600, ao olhar para a lua, com o inovador e revolucionário telescópio, Galileu havia exterminado todos os anjos celestes. Desde então restaram apenas os astros celestes. Que impacto um instrumento fez na crença de muitos! Ainda mais quando antes só haviam ruínas da antiga morada do Olimpo. Com o tempo, as pessoas haviam sido convencidas de que suas fantásticas experiências pessoais (incorrigíveis!), com os deuses e daimones, eram aparências, diante da nova e real morada das almas dos santos cristãos, junto aos anjos celestes, ali no terceiro céu. Em meados de 2600, ao olhar para a cérebro do ser humano, com o inovador e revolucionário "psicoscópio", um Nicolelis exterminará todos as almas. E então só restará corpos mentais. A última fronteira do cosmos humano será cruzada. Que impacto um instrumento fará na crença de muitos! Ainda mais quando antes a imaterialidade da alma era a morada de todos os espiritualismos, cristãos ou não. E todas aquelas

Lições da Graça

Imagem
A graça é maravilhosa. Nos últimos anos, essa noção se tornou minha lei. Ter graça é não ter pretensão, mas fé. Ter graça é não ter discurso, mas ouvidos, mãos, lágrimas e abraço. Graça não se alcança nem se barganha, mas se acredita ter recebido sem merecer. Ter graça é falar com o coração e com o silêncio. Ter graça é ter contato, e não ter visão. Ter graça é confiar no tempo, não no argumento. Ter graça é viver com tudo, não tendo nada. Ter graça é ter equidade, quando o mundo não mais tolera a mudança nem o indivíduo. A graça é maravilhosa, e muito mais a dizer ao vivê-la. (Ultimamente tenho sido colocado em situações onde alguns noções se tornaram constantes. E quero dizer algo delas.) Jogue fora todas as pretensões que escravizam. Deixe-se dominar pela #Graça. Tenha graça. Não se torne escravo de uma soberania que acredita (!) ter. Seja um instrumento vivo, deixando-se ser sem a pretensão de ser. Não é pela força, pelo controle das palavras, do ambiente, do momento, dos ge

Uma sociedade sem "amor" e sem "amar"

Imagem
Certa vez um pesquisador descobriu uma sociedade cuja língua não tinha algo como a palavra "amor" e o verbo "amar". Depois descobriu que muitas outras palavras e verbos relacionados ao que sentimos estavam ausentes no vocabulário dessa sociedade. De antemão logo pensou que se tratava de uma sociedade fria, pobre e dura nas relações. Passado um tempo, de intercâmbio mútuo, entre o pesquisador e uma nativa, algumas novidades surgiram.  O pesquisador, na terra da nativa, tornou-se mais sensível às atitudes das pessoas, pois só assim conseguia traduzir o que contava como "respeito", "simpatia", "satisfação", "amor"... Mas também deixou de pensar tanto em tais palavras, de expressão dos nossos estados internos, e passou a agir mais e de forma mais variada. O pai de uma moça, por exemplo, expressava confiança a um rapaz, fazendo-lhe um chá, todos os dias. Já o rapaz mostrava segurança ao ajudar o pai nas tarefas domésticas.