Uma sociedade sem "amor" e sem "amar"


Certa vez um pesquisador descobriu uma sociedade cuja língua não tinha algo como a palavra "amor" e o verbo "amar". Depois descobriu que muitas outras palavras e verbos relacionados ao que sentimos estavam ausentes no vocabulário dessa sociedade. De antemão logo pensou que se tratava de uma sociedade fria, pobre e dura nas relações. Passado um tempo, de intercâmbio mútuo, entre o pesquisador e uma nativa, algumas novidades surgiram. 

O pesquisador, na terra da nativa, tornou-se mais sensível às atitudes das pessoas, pois só assim conseguia traduzir o que contava como "respeito", "simpatia", "satisfação", "amor"... Mas também deixou de pensar tanto em tais palavras, de expressão dos nossos estados internos, e passou a agir mais e de forma mais variada. O pai de uma moça, por exemplo, expressava confiança a um rapaz, fazendo-lhe um chá, todos os dias. Já o rapaz mostrava segurança ao ajudar o pai nas tarefas domésticas. Assim, com o tempo, o pesquisador aprendeu a ser menos frio, pobre e duro nas relações.

Já a nativa, na terra do pesquisador, passou a nutrir a novidade da dúvida, nas relações pessoais, à medida que aprendeu a dominar a palavra "intenção". E percebeu, por exemplo, que a riqueza de expressão linguística era tão diversa quanto a nulidade de conteúdo de frases como "eu te amo", "gosto de você" ou "confio em você". A expressão tinha em si a novidade da possibilidade do erro ou do nulo, o que não acontecia antes porque a história das atitudes de cada um era o que se tinha em mãos.

Durante o reencontro, a nativa, então, disse ao pesquisador: "Vocês não só conseguem dizer o que está implícito em nossas práticas, mas tomam isso como verdade para agir, possibilitando assim toda uma variedade de erros e maldades, que nunca imaginamos antes pensar a respeito".

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