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Mostrando postagens de abril, 2017

Verbos para suavizar dilemas interrelacionais: "respeitar" e "tolerar"

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Particularmente identifico um uso próximo e sutilmente distinto entre "respeitar" e "tolerar". O primeiro enfatiza uma boa relação com uma parte de algo, mesmo havendo uma má relação com uma ou outra parte. O segundo, por sua vez, enfatiza a má relação, mesmo havendo boa relação em uma ou outras partes. Concordância, prazer, bem estar, ter semelhança ou ser a favor são exemplos de boa relação. Esses verbos, assim, servem para suavizar dilemas, no relacionamento entre pessoas. Um exemplo, é quando alguém é contra a causa de uma manifestação, mas a favor de alguém se manifestar pelo que acredita. Dependendo da situação, do que se quer enfatizar, pode-se "ter respeito por" ou "ter tolerância a". Dessa forma, quando alguém diz respeitar o outro é preciso estar atento a se está falando apenas de aceitação ou não. No meu universo de vivência isso é mais dúbio do que o tolerar. Falar em tolerância me parece mais claro ou próximo a suportar

Uma primeira leitura do Projeto de Lei (PL) 6787/2016 (Reforma Trabalhista)

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Fiz uma leitura do Projeto de Lei (PL) 6787/2016, não apreciada ainda por uma comissão, sem considerar as Emendas (5 páginas), mas focada em pontos próximos a minha realidade. Depois fiz uma leitura do Projeto considerando as Emendas, decretado pela Câmara dos Deputados (55 páginas). A famigerada Reforma Trabalhista é bem odiada por uns e amada por outros. Sim! Há tais posições limites na minha roda de amigos, logo há quem não se identifique com tais limites. Há quem enxergue pontos que podem ser positivos, mesmo desconhecendo outros pontos, que possam ser ruins. Esse é o meu caso, com ressalvas. E essa leitura não se coloca como palavra final, como uma certeza, principalmente vindo de um leigo em Direito. (Sobre a importância das dúvidas, diante daquilo que precisamos deliberar, recomendo a reflexão deste link: http://aislanfp.blogspot.com.br/2017/04/as-duvidas-nos-aproximam-nao-as-certezas.html ) Antes de apresentar a leitura, um parênteses, no qual apresento minhas

As dúvidas nos aproximam, não as certezas

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Acredito que as dúvidas nos aproximam, não as certezas. Tenho dificuldades em me aproximar, para dialogar pelo menos, dos que estão certos sobre meus sentimentos ou sobre minha condição, quando em discordância dessa certeza. Ora, estão certos! Assim, se me aproximo, em discordância, diante dessa certeza, sinto-me como aceitando minha condição inferior de ser corrigido do erro, que um ser racional não deveria ter. Nesse sentido, tenho dúvidas da responsabilidade dessas certezas. Ou estão transferindo suas certezas para outros mais afetuosos ou mais poderosos ou mais amados? Até hoje, e mais fortemente em séculos recentes, entre XVII e XIX, especialmente no campo filosófico, o "raciocínio more geometrico era o modelo proposto aos filósofos desejosos de construir um sistema de pensamento que pudesse alcançar a dignidade de uma ciência. De fato, uma ciência racional não pode contentar-se com opiniões mais ou menos verossímeis, mas elabora um sistema de proposições necessá

"Como a América emergiu de um país rústico para se tornar uma das maiores nações que o mundo já conheceu?"

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"Como a América emergiu de um país rústico para se tornar uma das maiores nações que o mundo já conheceu?". Essa é a pergunta de Neil deGrasse Tyson, respondida pelo mesmo, neste vídeo. A mensagem básica do vídeo é: "esta política está atrapalhando o avanço científico porque não reconhece estas teorias científicas". Uma recepção mais ou menos comum dessa mensagem é este comentário no link do vídeo: "Não se exige de ninguém que "acredite" na Teoria (...). Em CIÊNCIA não existe espaço para a crença. Em CIÊNCIA a pessoa inteligente aceita as evidências que corroboram as hipóteses. Podes até ficar horrorizado com as consequências da Teoria (...), mas não é possível fechar os olhos para as TONELADAS de evidências". Esse discurso é um jogo, em que o adversário é colocado contra o Bem, que se chama Racional ou Científico, por conseguinte quem é contra é do Mal, que se chama Erro, Irracional ou Anticientífico. E aqui há pelo menos um triplo prob

O jogo do dilema insuperável entre ser um especialista ou um generalista

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Há na mentalidade de muitos o dilema insuperável entre ser um especialista ou um generalista, como se não pudesse ser ao mesmo tempo um especialista e um generalista, ou não pudesse se tornar um bom cientista se fosse um bom filósofo da ciência.  Esse dilema na área de TI, assim como em várias profissões, é bem conhecido: ser especialista ou ser generalista. Há quem coloque que o problema aqui é enxergar isso como uma oposição entre o bem e o mal. Contudo esse é um limite ou extremo do dilema. Acredito que a melhor analogia para esse aparente dilema insuperável é o dilema entre ser honesto ou ser corajoso, colocado pela concorrência de duas comunidades, em que uma você alcança mais (direitos, sucesso etc) pela coragem, e na outra pela honestidade. Ambas são virtudes, e saber do que se trata coragem ou honestidade não te fará repectivamente corajoso ou honesto. É preciso, então, um investimento prático, uma prática habitual ou uma imersão numa comunidade. E como a vida é cur

"Qual o método científico desta teologia?"

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"Qual o método científico desta teologia?". Essa deveria ser a primeira pergunta a ser respondida em toda teologia. A primeira razão estaria voltada a ser transparente com o leitor ou com quem quer convencer de sua argumentação, das regras do jogo teológico. E em cima dessa razão, farei uma breve reflexão, ou melhor, agruparei alguns insights a respeito desse problema, logo muita explicação e referência, que seriam necessárias, vão ficar de fora. Assumindo que demonstração é uma argumentação no limite da simplicidade, ao ponto de não haver ambiguidade, entre os próprios termos utilizados, uma das coisas que diminuem a simplicidade é a linguagem ordinária, pois muitas vezes é necessário utilizar passos adicionais para ter segurança no que se está dizendo. Não é sem motivo o surgimento de linguagens artificiais para facilitar o entendimento e tornar a explicação o menos ambígua possível. Vivemos a herança de uma história conturbada na formação da noção de método c

Qual o novo mapa da mina eleitoral no Brasil? E por que isso é importante para o amadurecimento da democracia brasileira?

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Como tenho um diploma em Ciências Polícitas pela Universidade Facebook da Internet, então posso falar sobre tudo isso aqui nesse mundão das redes, com minha própria historiografia. Acredito que está nascendo um novo mapa da mina eleitoral no Brasil . Mas antes preciso falar de dois mapas da mina que o antecederam, para entender se há um modo de funcionar comum entre pelo menos os três. Passado um tempo, após ditadura e constituição de 1988, ainda lembro bem novo, antes do Plano Real, qual era a angústia do que parecia ser da maior parte da população: a economia. Parecia que todo plano era mais um plano. Mas mesmo com qualquer plano, muitos políticos se aproveitavam para se garantir nas próximas eleições. Esse era o discurso comum para ganhar votos, porque era a preocupação comum da maioria. E diante dessa oportunidade, muitos discursos colocavam o foco na economia como suficiente para resolver praticamente todos os outros problemas. E aí surgiram as privatizações, entre ou

Quando o físico pensa que é um teórico da ética - II

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Esta é a segunda postagem da série "Quando o físico pensa que é um teórico da ética".  A primeira postagem desta "série" está sob o título "O paradigma do tamanho físico para definir (in)significância" . A pergunta desta imagem ao final é retórica. Não há interesse em saber o que você é, diante dos fatos apresentados, porque a ideia é passar um sentimento ao final de que você é praticamente nada, de tão pequeno ou menor diante de outras coisas. Ou que você é tão insignificante quando olha o quanto se é fisicamente passageiro ou inferior numericamente. O argumento usa um recurso retórico de diminuição e amplificação (isso já estava em Aristóteles, na obra a Retórica, uns 350 a.C.), que pode ser usado em argumentos bem intencionados ou em falácias (mau intencionadas). Ele "brinca" com a quantidade numérica (e provavelmente com o tamanho físico, outra quantidade). Na verdade, a postagem é uma falácia . E podemos evidenciar isso por di

Até que ponto podemos atribuir a culpabilidade...

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"Se toda escolha é um exercício de liberdade (Kant, Sartre), mas há relações de poder que coagem os indivíduos a ações (Foucault, Marx). Até que ponto podemos atribuir a culpabilidade de um crime ao indivíduo (ou ao estado)?" A cilada desta questão é maravihosa! Não é sem motivo que gerou tantos séculos de discussões e busca de soluções. Essa questão também está presente em outras esferas de preocupação (e de meu interesse particular): entre religiosos e teólogos, por exemplo. MAS em que sentido, ou melhor, gênero de discurso, todos os termos empregados se articulam mutualmente sem ambiguidade? E se um ou mais desses termos se articulam em gêneros diferentes, esse gêneros se articulam também entre si sem ambiguidades? E por quê essa preocupação com ambiguidade? Antes de continuar, os "termos" aqui são "escolha", "liberdade", "relações de poder", "ações", "indivíduo", "culpabilidade", "

José Mayer, Aristóteles e a responsabilidade nossa de cada dia

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Caso José Mayer: atrizes saem em defesa de figurinista no ‘Vídeo show’ O  caso José Mayer  particularmente me fez lembrar um problema filosófico relacionado, presente desde a antiguidade, aproximadamente 350 a.C., a partir de Aristóteles, com a  tese da ação humana que é ética , ou melhor, dos  critérios pelos quais alguém é responsável moralmente pelos seus próprios atos . O filósofo desenvolve essa tese na obra "Ética a Nicômaco", obra em questão aqui (há outras, consideradas anteriores, sob o mesmo tema, como a "Ética a Eudemo" e a "Carta Magna"). O que falarei serão alguns pontos relevantes, entre o caso e o problema, de memória, das minhas leituras da obra, sem citação a trechos específicos, sem utilizar necessariamente algum vocabulário técnico filosófico. 1. Aristóteles faz uma distinção entre a responsabilidade não-moral dada a um animal ou a uma criança e a responsabilidade moral dada a um adulto. Ambas responsabilidades são derivad