Qual o novo mapa da mina eleitoral no Brasil? E por que isso é importante para o amadurecimento da democracia brasileira?


Como tenho um diploma em Ciências Polícitas pela Universidade Facebook da Internet, então posso falar sobre tudo isso aqui nesse mundão das redes, com minha própria historiografia.

Acredito que está nascendo um novo mapa da mina eleitoral no Brasil. Mas antes preciso falar de dois mapas da mina que o antecederam, para entender se há um modo de funcionar comum entre pelo menos os três.

Passado um tempo, após ditadura e constituição de 1988, ainda lembro bem novo, antes do Plano Real, qual era a angústia do que parecia ser da maior parte da população: a economia. Parecia que todo plano era mais um plano. Mas mesmo com qualquer plano, muitos políticos se aproveitavam para se garantir nas próximas eleições. Esse era o discurso comum para ganhar votos, porque era a preocupação comum da maioria. E diante dessa oportunidade, muitos discursos colocavam o foco na economia como suficiente para resolver praticamente todos os outros problemas. E aí surgiram as privatizações, entre outras coisas. E a oposição, por virtude ou interesse, tentava mostrar outra possibilidade, mas não estava no mapa da mina eleitoral, e, por isso, não foi ouvida. Vou chamar esse momento de PSDB-PMDB.

Passado um tempo, os "outros problemas" (sociais, educacionais, de terra etc) mostravam sinais de que não seriam resolvidos apenas por uma economia "forte". Mais e mais evidências passavam a ser conhecidas por grande parte da população, através da Internet com seus vários meios de comunicação populares e instantâneos. Surgiu então a ideia de programas sociais. O mundo era um mundo humanitário. As propostas por si só já garantiam o sucesso dos programas: quem não seria a favor da erradicação da miséria, da péssima educação, entre outros? Agora a oposição poderia entrar no jogo, porque o mapa da mina lhe era favorável, com qualquer programa, pois bastava ser um programa social. Por outro lado, havia o medo de perder o que havia conquistado economicamente, pois os "da economia" estavam associados historicamente contra os "do social". A solução natural, por força da oportunidade, foi uma aliança econômico-social e partidária que deu a esperança para vencer o medo. Vou chamar esse momento de PMDB-PT.

Passado um tempo, o mapa da mina das soluções sociais parecia estar se esgotando, especialmente após 2013, com aquele #VemPraRua histórico apartidário, e agora com a Operação Lava-Jato. Paralelo ao discurso de quitação da dívida com o FMI, crescia a dívida pública brasileira como nunca antes, ao ponto do esgotamento dos próprios programas, tempos depois. Mas como o mundo era um mundo quebrado, com a crise internacional imobiliária dos EUA, a justificativa então foi montada em cima disso. Com uma mentalidade político-cultural mais "de esquerda" do que "de direita", (inverso do momento anterior), começou a crescer o medo de perder o que havia conquistado socialmente, diante do descontentamento crescente da insensível "direita", segundo a "esquerda" (qualificação mínima, já que também é dita fascista, entre outras coisas). Vou chamar esse momento de PMDB, e é o momento no qual estamos vivendo agora.

Qual é agora a solução natural, por força da oportunidade? Alguns ainda insistem em velhos discursos, entre a "economia" e o "social", mas não parecem dar sinais de serem mais mapas da mina eleitorais. Não parece mais convencer a maioria, cada vez mais cética a tudo que representa política. E esse é o ponto da segunda pergunta que ligo com a primeira pergunta, ditas no começo. Isso, para mim, é evidência do amadurecimento da democracia brasileira. É difícil enxergar isso se preso a algum velho ícone da política brasileira. Meu ponto não é quem efetivamente fez o melhor, mas o quê efetivamente tem ganhado a confiança do eleitorado, e de que modo isso tem ajudado o Brasil a ser melhor.

Para o bem ou para o mal, novos mapas da mina eleitorais, de algum modo, amadurecem a democracia, mais do que novos gestores públicos. E esse amadurecimento agora está levando a uma mentalidade que está se encontrando finalmente (?) com a real natureza da coisa pública: ser administrada. E ser administrada implica implicitamente ser sustentável a longo prazo, um bem a longo prazo. Os novos políticos agora não mais convencem mostrando números, reciclados de velhos números, mas números que se sustentem administrativamente, para que não se perca os benefícios de uma economia forte e de um programa de governo social. Depois da Economia e do Social, agora é a vez da Administração. Esse é o novo discurso que gerará uma nova esperança contra os medos do passado. Quem conseguir mostrar, mesmo que pouco, a corrupção sendo vencida pela mentalidade da administração eficiente, terá o mapa da mina eleitoral em mãos.

E agora pessoalmente (mais do que foi dito) posso falar de dois nomes que estão no novo contexto: Ricardo Coutinho, atual governador da Paraíba, e João Doria, prefeito de São Paulo. O primeiro é figura antiga do novo contexto, porém esse contexto ainda não era um mapa da mina. Novos políticos vão ganhar se souberem aproveitar o mapa da mina do momento. Se eles serão tão bons quanto esperamos, aí é outra coisa, fora do meu ponto aqui. Meu ponto é que de alguma maneira tudo isso força naturalmente a melhorar mais e mais a estrutura pública do nosso Brasil, como aconteceu antes. 

Não dá para trocar tudo, de uma vez, mas uma coisa por vez de tudo. Essa é minha esperança.

(Essa reflexão surgiu esta manhã, após um bom bate-papo, com um cafezinho, na casa da minha querida vizinha D. Nevinha.)

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