Minha alma. Meu refúgio.


Em meados de 1600, ao olhar para a lua, com o inovador e revolucionário telescópio, Galileu havia exterminado todos os anjos celestes. Desde então restaram apenas os astros celestes.

Que impacto um instrumento fez na crença de muitos! Ainda mais quando antes só haviam ruínas da antiga morada do Olimpo. Com o tempo, as pessoas haviam sido convencidas de que suas fantásticas experiências pessoais (incorrigíveis!), com os deuses e daimones, eram aparências, diante da nova e real morada das almas dos santos cristãos, junto aos anjos celestes, ali no terceiro céu.

Em meados de 2600, ao olhar para a cérebro do ser humano, com o inovador e revolucionário "psicoscópio", um Nicolelis exterminará todos as almas. E então só restará corpos mentais. A última fronteira do cosmos humano será cruzada.

Que impacto um instrumento fará na crença de muitos! Ainda mais quando antes a imaterialidade da alma era a morada de todos os espiritualismos, cristãos ou não. E todas aquelas fantásticas experiências pessoais (incorrigíveis!) com tantas evidências (incorrigíveis!)? Não "tenho uma consciência", numa "alma" ou num "espírito", além de tudo que é físico ou material? E como fica a humanidade?

Quantos modos de falar ocultamente problemáticos! "O que quero ensinar: passar de um absurdo não evidente para um evidente" (Wittgenstein. Investigações Filosóficas. §464. 1953). Ora, "ao dizermos ter uma mulher, não dizemos mais do que habitar com ela" (Aristóteles. Categorias. 15b. 300 a.C.).

Um cristão chegou ao paraíso, e perguntou a outro: "É a sua alma que estou vendo?".

(Este breve texto é provocativo, não explicativo. É apenas sinalizador de variadas questões atuais e interrelacionadas, pelo menos em filosofia, que repercutem em nossa vida ordinária, científica e espiritual. Pode parecer desanimador, mas é para no fim ser restaurador).

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