Nem sempre somos verdadeiros sobre o que falamos ou praticamos





Muito desse barulho em torno da Comissão de Direitos Humanos (procure na Internet por “polêmica Comissão de Direitos Humanos” para se contextualizar), das pessoas expressando suas opiniões em redes sociais, não tem haver com a força de suas argumentações, mas com a fraqueza de suas virtudes. Aliás, difícil encontrar uma argumentação que passe empatia, como seria?

Um ponto de partida é a crítica dessa figura, feita por um movimento LGBT no Facebook.

A crítica falha em confundir justiça (combater injustiças) com valores (combater valores distintos). Defende como se estivesse lutando por injustiças (que realmente existem!), porém coloca também como injustiça a discordância quanto a certos valores, e aí mora o perigo, de qualquer movimento.

Bastaria talvez esta opinião entre os próprios comentários dessa publicação: “Quanto ao tirinha e o texto, discordo completamente. Sou branco e sou hétero e gosto disso, sim me orgulho disso. Ter orgulho de algo, não significa menosprezar outra coisa. Significa apenas que estou feliz com o que sou, gosto do que sou e não desejo ser de outra maneira. Um grupo que defende tanto a liberdade de expressão, a liberdade de se assumir como homossexual ou de ser aceito sem ser discriminado por ser negro, deve primeiramente começar a aceitar quem não se encaixa nesse perfil.”.

Mas o entendimento de “outras variáveis” envolvidas nessa confusão pode revelar muitas verdades sobre o que falam, acreditam, sentem ou praticam, cristãos ou não, gays ou não, seres humanos.

Valores




As pessoas possuem valores. Os valores representam convicções básicas a respeito de algo; contêm um elemento de julgamento, baseado naquilo que o indivíduo acredita ser correto, bom ou desejável (ROBBINS, 2005).

Por isso, é mais do que natural alguém agir de acordo com seus valores, na maior parte do tempo.
Especialmente quanto ao sexo, há dois valores que são comuns, mas divergentes entre si:


Os valores de uma ética baseada no prazer não é algo novo nem um caso isolado. O hedonismo, por exemplo, surgido na Grécia, é “uma teoria ou doutrina filosófico-moral que afirma ser o prazer o supremo bem da vida humana”, e sua vertente moderna “procura fundamentar-se numa concepção mais ampla de prazer entendida como felicidade para o maior número de pessoas” (WIKIPEDIA, 2013).

Já os valores de uma ética cristã e bíblica são baseados, pelo menos, no natural. Veja esta declaração de Paulo: “Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens (...), para fazerem coisas que não convêm” (Romanos 1:24-28).

Os valores geralmente influenciam o comportamento encobrindo a objetividade e a racionalidade (ROBBINS, 2005).

Ora, difícil alguém, principalmente um cristão, ser convencido pela Medicina, que não há problema algum à saúde em praticar o sexo anal, apesar do prazer que possa causar (basta uma pesquisa na Internet sobre precauções dessa prática para evitar certos problemas de saúde, sem perder o prazer). E não importa o meio: um objeto, alguém do mesmo sexo, de sexo diferente, de espécie diferente etc.

E hoje, com esse conhecimento científico, é possível encontrar o máximo de prazer com maior proteção, porém não era assim antigamente e por isso Paulo já dizia naquela mesma passagem o resultado natural: “recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro” (Romanos 1:27).

Por isso, estaria errada a seguinte frase do pastor Marcos Feliciano (mesmo não representando muitos cristãos!), em nome da naturalidade da espécie humana: “Me desculpe se eu agredir os seus ouvidos, mas o reto não foi feito para ser penetrado”?

Em termos técnicos (mas dá para entender), o reto é a abertura distal do trato gastrointestinal, existente para que os dejetos, decorrentes do processo digestivo, sejam eliminados. Mas o ser humano possui a “liberdade” para fazer o uso natural disso ou não.

Racionalidade

A noção de racionalidade ilimitada pelos seres humanos é contestada desde 1950 por pesquisadores dentro da Psicologia Cognitiva (STERNBERG, 2010).

Na verdade, "usualmente incluímos considerações subjetivas em nossas decisões", que "não somos necessariamente irracionais", mas "racionais, porém dentro de alguns limites", no que eles chamam de satisfatoriedade. Além disso, usamos "frequentemente atalhos mentais e mesmo vieses que limitam e, algumas vezes, distorcem nossa capacidade para tomar decisões racionais" (STERNBERG, 2010).

Aliás, bem antes disso, em meados de 1662, Pascal já dizia: "todos os homens são quase sempre levados a crer não no que é provado, mas no que lhes agrada", de modo que "nenhum amante será jamais conquistada pelo intelecto, nenhum partidário mudará de lado ou de opinião depois que alguém lhe tenha "demonstrado" o seu erro como se demonstra um teorema, nenhum fanático vai renunciar à sua cegueira por ceder a um raciocínio bem efetuado" (PASCAL, 2005).

E judeus e cristãos já entendiam isso desde antigamente: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o poderá conhecer?" (Jeremias 17:9).

Assim, as pessoas reconhecem a necessidade de tomar decisões com base na racionalidade, no entanto, na prática, essas decisões são caracterizadas por uma limitação de racionalidade, por vieses comuns e pela intuição (ROBBINS, 2005).

A dissonância cognitiva (próximo tópico) talvez seja uma ótima forma, na linguagem da Psicologia, para entender melhor essa limitação racional na prática.

Dissonância Cognitiva

Enquanto comportamento envolve um conjunto de ações relativamente permanentes que caracterizam uma pessoa, a atitude é uma afirmação avaliadora ou como se sente a respeito de algo (ROBBINS, 2005).


De forma semelhante, as pessoas mudam o que dizem para não contradizer suas próprias ações, porque geralmente buscam consistências em suas atitudes e entre suas atitudes e seus comportamentos (ROBBINS, 2005).

Para Robbins (2005), as pessoas buscam essas consistências através da mudança de atitude, de comportamento ou através de uma racionalização capaz de justificar a discrepância (seria numa linguagem bíblica, a culpa racionalizada pelo pecado?).

Segundo a teoria da dissonância cognitiva as pessoas buscam reduzir essas discrepâncias (dissonâncias) porque sentem um desconforto ao perceberem incompatibilidades entre suas atitudes ou entre suas atitudes e seus comportamentos, e então procuram uma estabilidade (por uma racionalização ou mudança de atitude ou de comportamento) em que seja possível conviver com um mínimo possível de dissonância (ROBBINS, 2005).

No entanto certos fatores moderadores podem influenciar a motivação das pessoas para diminuir a dissonância, de modo a não preferirem buscar consistência quando os fatos que causam essa discrepância são de pouca importância (talvez por um conhecimento limitado a respeito do assunto) ou gerados por imposição externa (ROBBINS, 2005).

Será que alguns membros daquela Comissão estão lutando por direitos humanos, buscando soluções, para injustiças praticadas contra grupos com comportamentos específicos, ou buscando criminalizar valores diferentes?

Para responder é preciso antes entender o que é justiça, logo adiante.

Justiça

“A justiça não é uma virtude como as outras. Ela é o horizonte de todas e a lei de sua coexistência” (COMTE-SPONVILLE, 1995).

Algo não é justo porque gera bem-estar ou eficácia, e, independe se gera felicidade na maioria, pois a felicidade e mesmo o amor não valeriam absolutamente nada sem a justiça, não seriam mais que interesses de egoísmo ou conforto (COMTE-SPONVILLE, 1995). Por isso ser injusto por amor não deixa de ser injusto.


Justiça também não é lei, porque se esta fosse injusta, justo seria combatê-la, tanto que a lei precisa da força (do Estado) para ser legítima ou reconhecida, enquanto a outra é discutível, pois é um valor (COMTE-SPONVILLE, 1995).

No levantamento do estudo da ética, especialmente da ideia de justiça, na história da filosofia Comte-Sponville (1995) entende que a “justiça é a igualdade, mas a igualdade dos direitos, sejam eles juridicamente estabelecidos ou moralmente exigidos”, semelhante a esta regra de ouro da justiça:

“Em todo contrato e em toda troca ponha-se no lugar do outro, mas com tudo o que você sabe e, supondo-se tão livre das necessidades quanto um homem pode sê-lo, veja-se, no lugar dele, você aprovaria essa troca ou esse contrato”. (MONTAIGNE apud COMTE-SPONVILLE, 1995).

A revolução na filosofia de Kant estava exatamente em estabelecer a ética, especialmente a ideia de justiça, sem um fundamento de validade em conceitos externos como leis ou resultados, mas como colocado por Salgado (2005) em princípios próprios como a razão e o dever: “É justa toda ação que permite, ou cuja máxima permite, que a livre vontade de qualquer um coexista com a liberdade de qualquer outro, segunda uma lei universal” (KANT apud COMTE-SPONVILLE, 1995).

A justiça nem é egoísmo e nem altruísmo, mas a equivalência dos direitos na convivência entre as pessoas ou a moderação para não permitir as pessoas se entregarem a uma ou outra virtude, por isto amar é difícil, porque “só sabemos amar, quando muito, nossos próximos” (COMTE-SPONVILLE, 1995).

Lutas

Quais são as verdadeiras injustiças? E quais os verdadeiros interesses? E como a igreja tem reagido a tudo isso?

Não deixarei respostas prontas (talvez num próximo post), mas veja alguns fatos e tira suas próprias conclusões diante de todo o exposto aqui.

"Pessoas com orientação sexual hetero, em situações específicas de ausência de outras do sexo oposto, tais como prisão, serviço militar e outras, eventualmente, podem praticar relação sexual com as do mesmo sexo. Em função dessas experiências, algumas podem desenvolver a orientação bissexual. Assim como a bissexualidade poderá ser desenvolvida a partir de relações homossexuais na idade adulta, a homossexualidade poderá ser aprendida e desenvolvida ao longo da vida." (JUSTINO, 2012).

"Quando alguém abandona a homossexualidade, a mídia divulga que a pessoa sofreu lavagem cerebral, que foi obrigada pela igreja, família e sociedade. Ela sofre discriminações e é estimulada a se rebelar contra o seu próprio sistema de crenças e valores. Se a pessoa é “corajosa” e apresenta publicamente o seu depoimento de mudança, a tendência é levantar suspeitas sobre a autenticidade da mudança. Por isso é necessário ampliar o nosso entendimento, observando o contexto em que vivemos." (JUSTINO, 2012).

"Os ativistas gays propagandeiam as maravilhas da vida gay. Conquistaram a mídia e usam o mundo acadêmico (parte das “Ações Afirmativas das minorias sociais para a garantia dos Direitos Humanos”) para realizarem o projeto de “homossexualização da sociedade”. Os neonazistas atuam de forma a limpar, purificar e higienizar. Prontos para exterminar da face da terra os que vivenciam a homossexualidade, é possível que sejam os responsáveis por diversos assassinatos de gays" (JUSTINO, 2012).

"O preconceito não se restringe aos neonazistas. A igreja também o evidencia quando convive com pessoas que vivenciam a homossexualidade e não abre espaço para que possam falar sobre os seus conflitos — o que pode gerar a “morte” para essas pessoas. Nega-se a realidade de que nas igrejas existem pessoas precisando de libertação da homossexualidade. A discriminação é patente também nas pregações, nas quais todos os que apresentam fantasias e desejos homossexuais ou vivem vida dupla são condenados ao fogo do inferno" (JUSTINO, 2012).

“O desejo sexual, ou libido, não está nas suas genitais. Ela ocorre em um local do sistema límbico do cérebro onde ocorrem todos os vícios.” (GUSTAVO, 2013).

A questão da sexualidade não está ligada apenas a questões de gênero, mas é profundamente um problema humano, entre vários outros.

Diante disso tudo, é importante não perder de vista as virtudes, independente de todas as suas dúvidas, caso leitor, porque nem sempre somos verdadeiros sobre o que falamos ou praticamos, mas precisamos lutar pela liberdade de todos, independente de seus valores ou motivações, e lutar para que a graça de Deus não seja assassinada em nossas vidas e nas dos outros.

Referências

[1] ROBBINS, Stephen P., Comportamento Organizacional.  São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.
[2] WIKIPEDIA. Hedonismo. Documento online em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hedonismo. Obtido em 07/04/2013.
[3] STERNBERG, Robert J. Psicologia cognitiva. São Paulo: Cengage Learning, 2010.
[4] PASCAL, Blaise. Da arte de persuadir. São Paulo: Landy Editora, 2005.
[5] COMTE-SPONVILLE, André. Pequeno tratado das grandes virtudes. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
[6] JUSTINO, Rozangela Alves. Os Movimentos Pró-Gay e Neonazista. Documento online em: http://www.monergismo.com/textos/homossexualismo/movimentogay.htm. Obtido em 07/04/2013.
[7] GUSTAVO. Os efeitos do excesso de pornografia em seu cérebro. Documento em: http://gustavoserrate.wordpress.com/2012/01/21/os-efeitos-do-excesso-de-pornografia-em-seu-cerebro. Obtido em 07/04/2013.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Leituras: Psicologia Cognitiva - Robert J. Sternberg

Ἐν ἀρχῇ ἦν ὁ Λόγος, καὶ ὁ Λόγος ἦν πρὸς τὸν Θεόν, καὶ Θεὸς ἦν ὁ Λόγος. (Como Deus e não Deus?)

Tradução e comentários de Lucas 20:34-38 - os filhos deste e daquele mundo