Debate não é embate


Debate não é embate.

Recentemente conversando com um amigo tentei passar o meu sentimento do que vejo muito por aí, intitulado de "debate", quando na verdade é um embate.

O debate busca promover o entendimento de diferentes posições, com mesma oportunidade de voz, como numa espécie de retórica heurística: descobertas podem acontecer. E só quem ganha é o público, não excluindo os debatedores. Nos dias de hoje, isso passou a ser chamado de "diálogo", para se diferenciar do debate comumente praticado. No entanto, até "diálogo" está sendo feito ao espelho, entre "debatedores" de mesma posição.

Já o embate busca promover um vencedor. Enquanto um fala, o outro já pensa na resposta. Enquanto o outro fala, parte do público faz barulho para abafar a voz do inimigo de seu campeão. A retórica é a arma mais eficaz, não excluindo momentos de paz, em meio a guerras. Difícil saber quem ganha, depende do volume dos partidários. Isso é geralmente o "debate" de hoje.

Dito isso, há momentos para debates e embates. 

Difícil esperar um debate entre apologistas (crentes ateus ou religiosos), porque não está em jogo descobertas intelectuais, mas compromissos de grupos representados por eles. Um ateu simplesmente não deixará seu ateísmo porque foi "vencido" num "debate". Ou um teólogo-filósofo fará uma autorreflexão enquanto escuta o argumento do outro, mas preparará uma defesa, porque muito coisa está em jogo, e não dá para simplesmente colocar a fé dos outros num jogo intelectual (não excluindo essa possibilidade). Por isso, alguns desses proponentes, quando em crise, por causa da força dos compromissos em choque com a força das reflexões, geralmente desaparece, e reaparece convertido a alguma outra posição.

Por outro lado, no ambiente acadêmico e científico, o que se espera não acontece com frequência. Rótulos são criados e grupos partidários são gerados. O palco para o embate, intitulado de "debate" está pronto, e poucos conseguem perceber, assim como poucos conhecem a grande revolução nas ciências, causada por Thomas Kuhn. Aliás, não é por acaso essa referência, o que pode acontecer em comunidades, acontece naturalmente com pessoas individualmente.

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