Uma reflexão para continuidade de atividades lúdicas como a feita no letreiro do Busto de Tamandaré no ato “Por todas Elas”

Imagem do http://g1.globo.com/
A proposta aqui é apresentar uma reflexão, após consideração de algumas opiniões, para haver a continuidade de atividades, de natureza semelhante à realizada no letreiro "Eu amo Jampa" do Busto de Tamandaré, durante ato "Por todas Elas", promovido pelo Governo da Paraíba. No entanto, para haver tal continuidade é preciso se perguntar de que maneira isso é possível, diante de tantas críticas e polêmicas. Assim, reformulando melhor a proposta, a questão é saber de que maneira atividades dessa natureza podem (e até devem) ser feitas sem perder de vista a sua mensagem.

Um primeiro passo é contextualizar a polêmica das diversas opiniões contrárias, da maneira como se tornaram conhecidas.

Um grupo (Grupo A) tomou conhecimento, do que aconteceu com o letreiro, com informações semelhantes a da notícia da WSCOM. Notícias assim descrevem o ato no letreiro como "picharam", já a notícia do G1 como "mancharam". Para completar, parece que não havia uma previsão, por parte do Governo, para o ato realizado no letreiro, durante o ato "Por todas Elas", conforme notícia do portal do Governo da Paraíba. A situação, assim, apresentou-se desta forma ao Grupo A: um patrimônio público foi depredado, e "manchar", no fim das contas, tornou-se (a esses) um eufemismo para "pichar".

Até então muitos, especialmente do Grupo A, não sabiam do tipo de tinta usado no letreiro: guache. Parece aqui que o problema era não terem informado que o material usado na atividade era essa tinta. E isso formou um outro grupo (Grupo B), que buscou justificar a atividade, por não ter havido de fato uma depredação física ao patrimônio, que gerasse prejuízo financeiro, já que no outro dia pela manhã saiu simplesmente com um pano úmido, por funcionários da Emlur. Isso gerou postagens no Facebook com esta imagem:

Além disso, muitos do Grupo B justificaram a liberdade de tal atividade porque expressava algo mais importante do que o patrimônio em questão: a vida ou o sofrimento das mulheres versus um letreiro sem vida. Inclusive para reforçar tal liberdade, ainda se acrescentou situações nas quais poderiam ser grupos religiosos, famílias ou ONGs, defendendo crianças com câncer, e as mãos no letreiro seriam de tais crianças. 

Brevemente contextualizadas as opiniões contrárias, numa particular experiência, em grupos A e B, a polêmica ainda continua viva no momento no Facebook, seja entre os que já conhecem o caminho até aqui mostrado e entre os que ainda estão tomando conhecimento das coisas por um dos grupos, e repetindo uma daquelas opiniões. Nesse contexto, parece não haver possibilidade para um debate progressivo, mas um embate segregador. Agora se faz necessário apresentar uma proposta, mais uma opinião, porém com pretensão conciliadora, não menos final por isso.

Um caminho para a continuidade de tais atividades, sem perder de vista a mensagem, é primeiro relembrar algumas noções em comunicação. Dentre essas noções podemos citar:
  • Canal de comunicação: meio pelo qual a mensagem de um emissor chega ao receptor desejado;
  • Emissor: quem cria a mensagem;
  • Receptor: quem recebe e entende a mensagem, conforme criada pela emissor;
  • Um canal de comunicação ideal não permite distorções ou ruídos à mensagem, ao contrário de canais abandonadas ou sem manutenção adequada.

Com base nessas noções, se um ato lúdico, seja ele qual for, em qualquer patrimônio, público ou privado, quer passar uma mensagem, então deve ter um início e fim determinado (não abordando ainda a questão jurídica, mais adiante). Quando um canal de comunicação é estabelecido, durante um ato, também são estabelecidos os emissores e receptores. Por isso, quem estava lá, entendia bem a mensagem visual e sua importância. E quem não estava, não conseguiu entender a mensagem, porque já não havia mais a manutenção de um canal, e emissor ainda estava ligado.

Situação semelhante pode acontecer numa sala de aula. Um professor faz uma atividade lúdica com os alunos da noite, construindo castelos, com as cadeiras da sala, pintando com tinta guache as paredes, tirando fotos e fazendo vídeos do momento, para repetir a comunicação da mensagem, em outros canais, porém não limpando a parede e não retornando as cadeiras às posições originais. No dia seguinte, os alunos da manhã, com outro professor, ao chegarem na sala, procuram interpretar o que aconteceu no dia anterior. E cada um começa a emitir um julgamento, em função do que estão recebendo como mensagem, de um emissor ligado, mas de um canal não mais em manutenção. E os julgamentos alcançam os que estavam no dia anterior e uma nova polêmica nasce.

Outra situação ocorre com bancários em greve. Geralmente eles se colocam, na entrada dos bancos, com faixas e cartazes, colados na parede e em vidros, para manifestar a sua indignação. O emissor está ligado, excepcionalmente enquanto a greve continua. Uma vez terminada atividade, o patrimônio volta ao estado físico original em que se encontrava.


Manifestações nas ruas não é diferente. As ruas ficam interditadas enquanto o ato se realiza, mas uma vez terminado, são liberadas da maneira como estavam antes.


Essas e outras situações semelhantes ilustram que de fato "há momentos em que a sociedade não encontra meios não lesivos para certas manifestações" (MORAES, 2006), no entanto, no contexto da comunicação, para não perder de vista a mensagem ou finalidade do próprio ato ou manifestação, é necessário deixar o patrimônio como estava antes, ainda que o ato seja considerado de menor potencial ofensivo, por não contribuir para "o aumento da sensação de insegurança ou violência urbana" (MORAES, 2006).

Assim o problema, nesse fato, não é nem tema (mulheres, feminismo, câncer, greve etc), nem emissor (mulheres, feministas, religiosos, bancários etc), nem valor da importância das coisas (patrimônios, vidas, salários etc), nem falta de conhecimento ou empatia, mas a condução do ato em si. Dessa forma, após passar uma mensagem clara aos que estavam presentes, poderia desfazer a lesão ao patrimônio, para não passar, por má condução, outra mensagem aos que não puderem estar presentes. Ocorrendo, portanto, dessa forma, outros mais atos poderiam ou deveriam ser feitos mais vezes, em diversos lugares, e adquirindo mais e mais a empatia daqueles que não participam diretamente, em ato.

Há coisas que não são más nem boas, mas as fazemos de uma forma ou de outra, conforme a utilizamos. Um movimento pode durar toda uma vida, mas os atos públicos precisam ter um início e fim determinados, para exatamente não manchar a finalidade maior do movimento. Isso acreditando que todo movimento e ato é passível de crítica, pretensiosamente construtiva e conciliadora.

Referências

MORAES, Vinicius Borges de. A pichação e a grafitagem na óptica do direito penal:. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 970, 27 fev. 2006. Disponível em: . Acesso em: 3 jun. 2016.

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