Ouvir mais e falar menos


Muitas coisas me ensinaram a falar menos e ouvir mais.

De certo modo, foi a Filosofia Analítica, especialmente a que iniciou a abordagem pragmática, em que Wittgenstein enuncia a tarefa primordial da filosofia: remover os enganos dos modos de falar. De outro modo, uns anos atrás, havia aprendido isso de Rubens Alves, com a Literatura: ouvir para falar e não falar para ouvir. Na Ética, com Aristóteles, aprendi muito com a noção de prudência, ao deliberar sobre qualquer coisa para agir bem e não meramente agir. No Cristianismo, em que a moderação é boa em tudo (Eclesiastes e Timóteo).

Em um sentido geral, há uma lição aí, que recai sob situações bem próximas, práticas e concretas. Não precisa ir longe e teorizar algo absoluto ou universal. É o caso, por exemplo, quando numa roda de conversas, levantamos algum problema, e rapidamente (!) nos encantamos com a ideia de que opiniões, ali levantadas, são boas ou produtivas, ou que ajudam de alguma forma, porque algo é melhor do que nada - Sim! Com as devidas ressalvas. Acredito que na maioria dos casos são improdutivas ou até nocivas, se (!) não estiverem claras as circunstâncias em que as coisas são ditas. Sem essa clareza, a conversa não só não chega a lugar nenhum (improdutivo), como também gera algumas faíscas (nocivo) nos relacionamentos, em função do conteúdo do que se acredita, que parece refletir o caráter do outro. Essa situação é bastante comum quando se fala em política, religião ou futebol - o trio básico da inteligibilidade de qualquer discussão informal. 

Mas o problema de sentir que o outro não lhe entende pode estar na falta da virtude de ouvir antes as circunstâncias (prudência, moderação, não se encantar pelos modos de falar, ouvir antes de falar, ou coisas semelhantes). São as circunstâncias que nos autorizam a dizer se um agir é bem realizado ou mal realizado. Não dá para fazer uma doação simplesmente dizendo "Estou doando a você uma coisa", quando falta um ingrediente nas circunstâncias do que foi dito: a coisa. Esse agir é nulo. Assim o ponto é: se as circunstâncias são claras, mas uma ou mais estão ausentes, então prefira não agir, ou agir com cautela, deixando isso claro aos outros, para não mal agir; ou pior, se as circunstâncias não são claras, muito maior a prudência, em puxar um assunto mais próximo, prático e concreto. É por aí...

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