Reflexões em Mateus - 2

Os judeus começavam a ficar mais incomodados com as atitudes, pois, diante do tradicionalismo que viviam, tudo parecia um contra-senso ou blasfêmia:

· Jesus perdoar pecados (pois como Deus tinha essa autoridade);

· Jesus participar da mesa de pecadores (pois como Salvador tinha essa missão de salvar pecadores);

· Os discípulos de Jesus não jejuarem na sua presença (pois o jejum é para se aproximar de Deus e Ele estava ali na pessoa de Jesus).

Diante da multidão “exausta e aflita” (9.36) Jesus fala da necessidade de trabalhadores para cuidar dessas pessoas. Nesse sentido dá autoridade para curar enfermidades físicas e espirituais e instruções aos seus doze discípulos.

Essas instruções foram bem específicas aos doze discípulos em função da situação em que passariam como apóstolos:

· Preferência pelas ovelhas da casa de Israel;

· Quanto a si:

o “de graça recebestes, de graça dai”

o “digo é o trabalhador do seu alimento”

o Como “ovelhas no meio de lobos” seriam “prudentes como serpentes e símplices como pombas”

· Quanto aos outros:

o Ficar num povoado questionando quem é “digno” até ser expulso dela

o Seriam odiados por causa do nome de Jesus;

o Famílias (as deles?) ficariam divididas por causa de Jesus.

· Quanto a Deus

o Não deveriam temer os homens, porque só podem matar o corpo, mas Deus pode fazer perecer tanto o corpo como a alma;

o Sabe o que estão passando;

o Sabe o valor que eles têm.

E talvez a tarefa mais difícil para esses doze discípulos seria ficar entre a vida e a morte, entre ficar com a família e seguir Jesus, entre amar sua família e amar Jesus, entre não confessar Jesus para continuar vivo e confessar Jesus e ser morto.

Mas se diante da ameaça de morte, não confessasse Jesus diante dos homens, seria bem pior ser também negado diante de Deus ou seria inútil conservar a vida e não tê-la eternamente.

Jesus coloca João como um divisor entre dois momentos:

· Até João

o Todos os Profetas e a Lei profetizaram;

o João é o “maior” entre “nascidos de mulher”

· De João até aquele momento:

o O “reino dos céus é tomado por esforço/violência, e os que se esforçam se apoderam dele” – expressão que indica o quão violento (alto legalismo?) é o “sistema religioso” criado pelos líderes judeus da época, de tal modo que era como se estivessem se apoderando (caráter de violência) do reino dos céus e não simplesmente entrando (semelhante à idade média!);

o João não é “maior” que o “menor no reino dos céus”.

Nesse sentido João é mais do que profeta por ser objeto de profecia: o arauto, a preparação do Messias. E desse modo “maior”, como se fosse alguém em segundo lugar, dando espaço para o outro ficar em primeiro lugar (ver João 3.30). Contudo o privilégio dessa proximidade com o Messias será maior que a experimentada por João para qualquer um no “reino dos céus”.

A geração dos judeus daquele momento não usava de sabedoria para reconhecer João como o “profeta-marco” e nem Jesus como o Filho do Homem, por isso bem-aventurado quem não achasse motivo de tropeço em Jesus.

A resposta dada por Jesus aos discípulos de João (que o questionara se ele era o Messias esperado) era baseada em profecias de Isaías a respeito da redenção de Israel. Notar que os acontecimentos que estão ocorrendo são parte dos esperados para a redenção de Israel, mas Jesus não citou todos (porque o restante ocorrerá na segunda vinda).

Mas essa geração julgava João como tendo demônio e Jesus como “glutão e bebedor, amigo de publicanos e pecadores!”, mesmo diante dos milagres que Jesus manifestava. Eram semelhantes a meninos que se tocasse flauta esperavam dança, se lamentassem, esperavam pranto...

E eles tiveram ainda a oportunidade de ter experimentado tamanho milagres (que seria motivo para profundos arrependimentos) que povos anteriores não viram. Por isso o julgamento seria maior (mais exigente) sobre eles!

Jesus exclamou que deus graças a Deus por não ter escolhido “curar” essa cegueira espiritual dos sábios e instruídos daquela geração de judeus.

Em nenhum momento (Jesus coloca que) a responsabilidade desses sábios e instruídos é menor que a dos apóstolos, mesmo aqueles sendo incapazes espiritualmente de reconhecer Jesus e os últimos terem recebido de Deus tal capacidade.

Mesmo com toda uma vida dedicada em sabedoria e instrução, aqueles que deveriam melhor conhecer a (seu próprio) Deus, estavam cegos e haviam criado um sistema religioso tão violento que era como se o “reino dos céus” estivesse sendo apoderado/tomado/conquistado por eles.

Nesse sentido, Jesus dá graças a Deus por fazer de simples trabalhadores seus principais líderes em vez de terem sido aqueles sábios e instruídos.

Dessa forma:

· Jesus realmente trazia alívio e descanso, pois o jugo de seguir de Jesus era suave e seu fardo era leve.

· Diferente do pesado e cansativo “sistema” (legalista) daqueles sábios e instruídos.

Quem busca e aprende de Jesus encontra a descanso para a alma, encontra a Deus.

Pergunta-chave: O caminho para Deus é apertado, mas não é pesado e cansativo.

Leis cerimoniais não são mais importantes do que as pessoas, desse modo não são regras absolutas, pois podem ser quebradas sem haver culpa em situações de exceção. Existe a violação, mas é retirada a culpa (12.5). É o caso de violar o sábado, mas não é imputada culpa em caso de fome (12.1, 3), se for o sacerdote (12.5), curar (12.13) ou fazer o bem (12.12).

Parece então haver uma hierarquia entre uma lei maior (fazer o bem) e leis menores (guardar o sábado) em que não é imputada a culpa dessas menores no cumprimento da maior.

Pergunta-chave: Deixamos de cumpri mandamentos mais importantes em função de picuinhas?

Os fariseus não estavam gostando das curas que Jesus fazia, principalmente por ser no sábado. Eles estavam presos a um legalismo e não conseguiam ver que a culpa não era imputada no cumprimento de uma lei maior.

Então começaram a acusar Jesus de expelir demônios pelo poder de Belzebu (nome depreciativo para o Diabo), no entanto Jesus alerta que:

· Logicamente tal poder não subsistiria se ele mesmo estivesse dividido;

· Os judeus possuíam exorcistas e sabiam dessa lógica (se tornariam assim juízes das palavras dos fariseus);

· É chegado o reino de Deus porque expulsar os demônios é equivalente a amarrar o valente antes de saquear sua casa;

· Somente hipócritas podem falar coisas boas sendo maus, pois uma árvore boa não produz mau fruto.

Depois do alerta de Jesus alguns judeus então pedem um sinal. Mas Jesus diz que o único sinal que seria dado a uma geração má e adúltera seria o de Jonas: “três dias e três noites no coração da terra” como foi Jonas no ventre do peixe (alusão a sua morte na cruz e ressurreição).

No entanto essa geração de judeus será julgada e condenada porque os gentios se arrependerão com “a pregação de Jonas” e após o sinal, como os judeus não se arrependeriam, os demônios que foram expulsos voltariam e o último estado desses homens seria pior do que o primeiro porque traiam mais demônios.

Pergunta-chave: Quando julgamos, lembramos de nossas práticas?

Jesus falava em parábolas com a motivação de:

· Discípulos entenderem os “mistérios do reino dos céus”;

· Mas ficar oculto o entendimento aos outros (geração de judeus de coração endurecido).

A razão era simplificar a comunicação das verdades espirituais para um entendimento fácil já que os discípulos eram pessoas simples? Não. Primeiro porque os próprios apóstolos não seguiram esse método. Segundo, os discípulos não entendiam a parábola, exceto quando Jesus a explicava claramente em seguida (ver Marcos 4.13; João 16.29-30).

Na verdade as parábolas eram usadas para obscurecer as verdades espirituais às multidões (13.34-36), mas não aos apóstolos que ouviam a explicação num momento posterior mais reservado (13.11, 17).

É como se fosse uma forma de instigar (por meio dessa dificuldade de entendimento) os que realmente estavam interessados em buscar a Deus (não tinham um “coração endurecido”), de modo que aquele que buscasse, encontra-se (7.6-7).

Pergunta-chave: Procuramos sinceramente entender as aparentes “contradições bíblicas” ou “injustiças cristãs” que ouvimos?

Parábola fundacional porque entendê-la torna a pessoa capaz de entender outras parábolas e o restante das Escrituras (produtividade espiritual).

· Semente à Pessoa que prega o evangelho ou o evangelho.

· Tipos de Terreno à Pessoas que ouvem o evangelho

o Beira do caminho à Não entendeu de tal forma que era como se a pessoa nunca tivesse ouvido coisa alguma (um sonho que não lembra mais).

o O terreno pedregoso à Fica até excitado (alegre) com o ensino da palavra, mas o coração não é transformado de modo que o comprometimento falha freqüentemente nas dificuldades e logo abandona o que ouvia.

o Os espinhos à Até concorda com o ensino da palavra, mas não a pratica, não a leva a sério como tentando servir a dois senhores.

o A boa terra à Entende o que ouve, persevera diante das dificuldades no que entendeu e as pratica de forma produtiva:

§ Não deixa de passar por dificuldades;

§ Prioriza o reino de Deus (7.24);

§ Progride espiritualmente.

· Condições interiores dos terrenos ruins

o Falta de entendimento;

o Falta de consistência;

o Falta de comprometimento.

Pergunta-chave: O que mudou em nossa vida nos anos que se passaram? E qual foi a importância dada ao entendimento da Palavra nesses anos?

A parábola do joio (13) parece ter sido dita para evitar uma busca equivocada e ilegítima dos “terrenos ruins” (da parábola do semeador), pois só os anjos no dia do julgamento final saberão fazer tal distinção.

Pergunta-chave: Evitamos fazer conclusões (apressadas) a respeito das pessoas que parecem ter abandonado a fé, rejeitado o ensino da palavra ou terem sido descuidadas na prática cristã?

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