Aos que divulgam blitz: fazer o mal é também promovê-lo

Está ficando cada vez mais comum nos dias de hoje a divulgação de blitz no Twitter. Exemplo: @LeiSecaJP.

A blitz tem a finalidade de tirar de circulação infratores, principalmente pessoas imprudentes ou alcoolizadas, que possam causar acidentes graves, como, de fato, acontecem. Entranto, os que alegam sua divulgação justificam não haver uma estatística ou algo explícito ligando-os aos acidentes ou crimes. 

E precisa ser dessa forma? Não estão agindo como o jovem rico, que só descobriu o pecado que o condenou quando Jesus lhe mostrou os mandamentos de Deus numa zona cinzenta, sem algo explícito ou escrito dizendo com exatidão o que é ou não pecado e virtude?

Existe um conceito moral nas palavras de Jesus denominado princípio do complexo da justiça e do pecado, no qual o pecado não está apenas de um lado da moeda e a virtude do outro. 

Há uma continuidade entre a virtude e o pecado: quando me aproximo do pecado estou pecando, quando me aproximo da virtude estou fazendo justiça. São lados opostos, porém separados por um caminho nebuloso entre eles. A direção de nosso caminhar é que vai dizer em qual caminho já estamos.

Ela é apresentada no Sermão do Monte por Jesus (ver Mateus 5.1-28). Muitos passam por essa passagem e não entendem a ligação entre as bem-aventuranças e uma interpretação completa das leis. 

Jesus aplicou esse princípio da continuidade, por exemplo, no caso de assassianto (21 e 22) e de adultério (27 e 28). Ele estava corrigindo uma visão simplista da lei de Deus. Os judeus achavam que o cumprimento de uma lista de certo e errado era obedecer os mandamentos de Deus.

Muitos não pensam assim hoje? 

“Não matei, não roubei, não faço mal a ninguém, logo estou tranquilo porque não serei acusado ou condenado por Deus em nenhum desses pecados ou crimes.”. Não é bem assim!

As bem-aventuranças procuram mostrar como o nosso estado também é levado em conta assim como o nosso ato. Adultério significa todo o complexo ou caminho que envolve tal pecado, desde a cobiça, o seu estado até o ato consumado. “Não matarás” significa mais do que evitar o homicídio, implica promover a virtude oposta; é promover a vida. Portanto, se você nunca matou ninguém, mas não promove a vida certamente você é tão ofensivo para Deus quanto alguém que promove o assassinato.

Um exemplo bíblico é a passagem do jovem rico (Marcos 10.18). A causa do problema não era o amor à riqueza, mas sua visão simplista da lei: cumprir uma "lista conhecida" de virtudes ou regras explíticas da lei o tornava bom. Essa visão o fazia amar a riqueza mais do que ao próprio Deus enquanto achava que estava sendo bom cumprindo todos os mandamentos do seu próprio Deus.

O amor à riqueza ficou claro, quando Jesus o colocou numa zona sombria entre a virtude e o pecado. Não havia mais uma lei ou mandamento claramente dizendo o que era certo ou errado. Era o próprio Deus, na pessoa de Jesus, esclarecendo o quanto o seu modo de pensar e de viver promovia o contrário daquilo que ele acreditava ser bom.

Sua “obediência” a Deus "desapareceu" quando uma situação não predeterminada ou catalogada conflitou com seus desejos próprios, nesse caso o amor à riqueza.

"Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça" (Mateus 5:3), não por causa das regras escritas em determinado legislação, constituição ou livro que chamam de Justiça!

"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça" (Mateus 5:6), não os que possuem zelo em cumprir tudo bem direito do que está escrito nos livros.

"Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja" (Mateus 5:19), isto é, por toda e qualquer promoção envolvida nesse violação.

Os que divulgam blitz vivem o mesmo problema do jovem rico: não é preciso haver algo escrito, um guia ou lista com regras explícitas para saberem que de alguma forma estão colaborando para crimes e acidentes em trânsito. Estão promovendo o mesmo mal praticado por irresponsáveis que dirigem um carro como se fossem armas humanas.

Comentários

Aislan Fernandes disse…
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