Quando a alma não é a única esperança - parte 1

Se alguém perguntasse a razão da continuidade da vida após a morte, qual seria provavelmente a resposta? Imortalidade da alma? Homem formado de espírito ou alma? Comunicação com mortos ou desencarnados? Experiências com anjos, fantasmas, espíritos ou divindades? Sentido da vida? Centelha divina? Penso, logo existo?

De qualquer forma, a maioria das respostas geralmente é fundamentada numa antropologia cultural religiosa.
 
Essa antropologia religiosa pode ser encontrada, por exemplo, no Espiritismo Kardecista e no Cristianismo. No primeiro há o seguinte fundamento: "1 – o corpo ou ser material análogo aos animais e animado pelo mesmo princípio vital; 2 – a alma ou ser imaterial, espírito encarnado no corpo; 3 – o laço que prende a alma ao corpo, princípio intermediário entre a matéria e o espírito" [1]. Nessa crença o homem é um corpo, espírito e perispírito. Já no outro há internamente diferentes posições, dependendo da interpretação da Bíblia: corpo, alma e espírito (tricotomia); corpo e alma (dicotomia); apenas corpo; unidade psicosomática ou "pessoa total".

Além disso, no próprio Cristianismo, há ainda discussões em torno do significado ou existência de cada elemento dessas posições. Um exemplo disso é a teoria da pré-existência da parte imaterial do homem, dividida em criacionisa ou traducionalista, em que na primeira a alma é criada por Deus quando seu corpo nasce e na segunda é transmitida por geração natural, tal como o corpo.

Enfim, muitas dessas crenças possuem uma herança histórica antiga relacionada com o dualismo proposto na filosofia ocidental por Platão e Aristóteles, afirmando ser a inteligência uma faculdade do espírito ou da alma, não assimilada ao corpo nem entendida como uma realidade física, isto é, fenômenos mentais são exteriores ao corpo físico.

No entanto, essa antropologia metafísica ou religiosa pode se tornar problemática num futuro distante, principalmente para muitas religiões, pessoas ou experiências religiosas. 

Uma das razões desse problema pode estar relacionada com o avanço da neurociência, podendo se tornar a próxima grande revolução da ciência, quando todos os mistérios do cérebro humano forem revelados, permitindo o entendimento de como mente, vontade ou emoções funcionam. 

E o livre-arbítrio?

Apenas como um exercício de pensamento, veja o trailer do filme, de ficção científica, "O Décimo Terceiro Andar" ("The Thirteenth Floor") de 1999, em que alguns cientistas conseguem "trocar de corpo", melhor dizendo, conseguem migrar toda sua personalidade (porque está armazenada no próprio cérebro) para um outro "cérebro artificial", na verdade uma outra pessoa, porém existente apenas numa simulação de computador. Após essas trocas, os hospedeiros nunca lembravam do que tinha acontecido. O final do romance é supreendente!


Aliás, antes da descoberta de seres invisíveis a olho nu, como os microorganismos, a origem de diversas doenças era explicada como causas espirituais e normalmente ninguém pensava diferente. Hoje, porém, não é tão diferente assim: muitas pessoas "espiritualizam" problemas naturais atribuindo causas a demônios (como na concepção cristã), espíritos obssessores (como na concepção espírita), falta de fé, energia positiva baixa, entre outras coisas semelhantes.

Anthony Hoekema, teólogo protestante, no entanto defende que quando se lê na Bíblia palavras como alma, corpo e espírito é comum pensar em entidades próprias, mas nunca se pensa em estados diferentes do homem, representações ou consequências de suas relações ou valores com o exterior, seja homem, uma entidade divina ou a natureza. Segundo ele, na Bíblia não há qualquer intenção antropológica em definir o homem como alma e corpo ou outra coisa. Logo, é um assunto passível de evolução na teologia cristã. 

E a continuidade da vida após a morte? E a existência de seres espirituais como anjos, demônios e o próprio Deus?

Até agora há três indagações:
  • E o livre-arbítrio? 
  • E a continuidade da vida após a morte?
  • E a existência de seres espirituais?
Algumas dicas para pensar:
  • Deus existe como nós?
  • Seres espirituais possuem corpos ou são menos materiais do que nós?
  • Deus não é onisciente? 

Continua... Mas antes um trailer de um filme sobre uma ficção (hoje!) bem interessante:



Referências

[1] KARDEC, Allan. "O Livro dos Espíritos".
[2] HOEKEMA, Anthony. "Criados à Imagem de Deus".

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