Quando o (des)afeto no todo nos cega quanto ao caráter de uma de suas partes


Muitas discussões são infrutíferas porque não levamos em conta certas relações entre as coisas. Vejamos o exemplo de um projeto de lei no Congresso.

Você pode reconhecer o caráter benéfico de alguns pontos do projeto. Mas isso não implica o mesmo reconhecimento para o restante do projeto. Muito menos o mesmo para um governo que deu um golpe à la parlamentar em sua velha companheira.

"São coisas bem diferentes!" é outra maneira de dizer que inferir que por reconhecer partes boas num projeto é no fim reconhecer um bom governo é uma má inferência.

Mas as pessoas discutem, e até se odeiam, como se essa inferência fosse legítima. Colocada nesses termos, racionalmente não é. Porém tem uma força aí que nos faz ainda sustentar e brigar segundo essa má inferência.

Parece que (psicologicamente) o desafeto a qualquer coisa "maior" que "abarca" algo "menor" nos faz rejeitar mais facilmente tudo que é "menor" e "abarcado" pelo "maior". Não é sem motivo que tratados de Retórina na antiguidade exploravam esse recurso como bem persuasivo, não necessariamente verdadeiro.

Aí diante dessa disposição habituada, geralmente inconsciente, e diante da pressão em ter de se justificar por tal atitude, busca selecionar fatos convenientes para manter o afeto.
"Pode haver coisa bem vinda de Nazaré?"
(A boa discussão talvez seja em cima do questionamento de não haver muitas vezes projetos fragmentados, mas tudo ou nada. Aí talvez se descubra ou se revele a intenção da oposição e da situação.) 

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