Confrontar cristão é um dizer de amor santo?


Este é um comentário à postagem, intitulada "Confrontar é falta de amor?", de Augustus Nicodemus Lopes, do qual tenho grande admiração.

Parece que o problema em "tomar um posicionamento firme" reside no dizer uma verdade ou justiça em "questões éticas, doutrinárias e práticas", como se "palavras ou frases que poderiam ter sido ditas ou escritas de uma outra forma", com sabedoria, fossem acessórias a proferimentos desse tipo. No entanto, acredito exatamente no inverso disso, de que o problema (maior), em que vivemos, não é o simples dizer. Esse dizer, na verdade, é uma declaração subordinada a uma ação de proferimento como um todo, no qual o amor pretendido depende de certas condições em que proferimentos de confrontação desse tipo são realizados.

É como cobrar por um contrato em nome de outra pessoa sem uma procuração. Alguém aqui pode pensar que Jesus deu a procuração a todo cristão para falar a verdade, mas a metáfora é que o conteúdo do contrato mesmo sendo verdadeiro e justo, se torna nulo se não for realizado entre partes legítimas, uma das circunstâncias que condicionam a efetiva realização do contrato. O ponto são as circunstâncias em que a ação para dizer algo é realizada. É mais do que dizer.

Obviamente caberia uma exposição ou investigação bem maior para falar sobre essas condições e proferimentos, especialmente na Bíblia, mas basicamente a felicidade ou eficácia de tais formas de ação, que são mais do que simplesmente dizer uma verdade ou justiça, dependem de certas condições, como a sabedoria "em conhecer "o tempo e o modo" de dizer as coisas". Aliás, quando fazemos tais "declarações" (ignorando o proferimento como uma ação e não um mero dizer) estamos simplificando, idealizando ou generalizando, sem realizar casos concretos, como se fosse possível proferir assim na prática, sem considerar tais condições. Mas isso é porque a ênfase em questão (ao falar sobre esse assunto) é a declaração de justiça ou verdade, porém ao fazer o proferimento a ênfase são as condições de felicidade para que o amor na confrontação seja efetivo e não apenas pretendido.

Se o nosso amor se resume à declaração contida no proferimento, então podemos proferir sem amor, mas declarando com amor. E isso pelo menos precisa ficar claro ao outro ou a si, pois acredito que muitos males históricos a relação entre Igreja e Sociedade residem aqui. Isso também me lembra a seguinte frase de J L Austin do livro "Quando dizer é fazer" (inspiração desse comentário): "temos a tendência a pensar que a seriedade das palavras advém do seu proferimento como um sinal externo e visível, de um ato interior e espiritual". Não estou aqui esgotando o assunto, só querendo pontuar certas possibilidades.

Assim, é importante, fundamental ou essencial considerar as circunstâncias relevantes do seu contexto pessoal ao "dizer", por exemplo, em uma rede social, pessoalmente a alguém, a um grupo, num livro, a alguém que te conhece, que conhece seus defeitos, sua posição na sociedade, suas dúvidas públicas, seu caráter atualmente, sua maturidade etc.
Confrontar cristão é antes um proferir de amor santo.

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