Quando deixamos de conversar bem pelo encanto da boa conversa

Há, por exemplo, os que, preocupados com uma boa condução da discussão, acabam olhando mais para a forma da comunicação do que para o que está acontecendo. Assim uns entendem que a discussão só vai para algum lugar, se em cada momento, todos falassem de uma determinada forma, que acreditasse ser adequada. Para uns adequado é falar com um volume suave ou constante. Nesse caso, não pode haver aquele levantar da voz repentino ou variado. Mudança no volume da voz é reflexo de alteração do espírito. E alteração é descontrole. É assim que muitos inferem um comportamento inadequado. Mas e o que foi dito, apesar da variedade de formas de falar?
Há, por exemplo, os que, preocupados com uma boa condução da discussão, acabam olhando mais para o bem pretendido em toda conversa - chegar a um entendimento comum ou uma resolução - do que para a variedade natural de possibilidades de diferentes vozes, modos de se expressar, que refletem diferentes histórias, situações e vocabulários. Aí ao menor ruído inicial de desentendimento, alguns já começam a desacreditar que aquilo vai levar a algum lugar. A tensão quando surge não é interpretada como um ruído natural da comunicação, mas como um defeito de uma ou mais pessoas. A crença, então, encerra a discussão antes de começar de fato. E assim uns concluem: não dá para conversar com vocês. E o que precisa ser dito se acumula com o tempo, e se manifesta em ações inadequadas, porque a conversa não fluiu antes, mesmo após algumas tentativas, ou acredita que não vai fluir mais.
Há, por exemplo, o caso em que todos fingem, em nome da boa condução da discussão, que deve ser perfeita, sem ruídos, caso contrário não é uma (boa) discussão. Ora, uma conversa não é boa pela ausência de ruídos, assim como um exercício não é bom pela ausência de esforços.
O ponto é que há ruídos numa comunicação que são naturais. Não por causa das pessoas, mas da vivência natural que todos nós passamos. É preciso superá-las, tolerá-las, suportá-las, ter paciência, insistir mais um pouco, para melhor compreender o outro e ser compreendido. Pois é no meio de todos esses ruídos aonde a mensagem começa a se tornar clara. E uma vez clara, há o avanço de fato.
Agora quando não estamos dispostos a suportar os ruídos que são naturais, não há muito o que conversar, (porque a prática da conversa não é um modelo ou uma teoria), mas agir de outra forma: esperar outro momento em que a disposição apareça ou a imaturidade para tais situações se dissipe. E a maturidade em lidar com tudo isso não é garantia de estar certo em suas colocações. Mas se sentir ao final ouvido faz um bem danado.
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