Evolução Espiritual no Protestantismo(!) e no Espiritismo

I

Não vou esgotar o assunto, mas exemplificar um problema: muitas pessoas preocupadas em defender seus pontos religiosos, ignoram os outros - não importa se consciente ou não - como se o mesmo assunto não existisse, de alguma forma. E acaba apresentando algo como se fosse uma novidade. Vou exemplificar isto através de duas religiões que tenho maior proximidade: Espiritismo (Kardecista) e o Protestantismo (Reformado).

Farei apenas alguns apontamentos através de uma comparação entre os dois em torno de um mesmo tema: Evolução Espiritual. A intenção neste texto não será defender um ou atacar outro, mas colocar um problema que vejo: alguns, como no Espiritismo, parecem falar de algo como se o outro não soubesse - e talvez não saiba mesmo - e o outro (Cristianismo) parece negar algo como se não existisse. Vejamos as palavras de um espírita: “Introduz o novo conceito de evolução espiritual, onde cada um é o responsável direto pelo seu próprio crescimento, e ao mesmo tempo há uma co-responsabilidade pelo crescimento de todos, a fraternidade universal” [1].

Mas no Cristianismo se fala em Evolução Espiritual? Não. Porém não quer dizer que não exista. Talvez, por uma questão de não gerar confusão na cabeça daqueles menos preparados é natural que no Cristianismo não se fale mesmo no assunto, mesmo porque não é importante, não é o foco. Ao contrário de outras religiões onde evoluir espiritualmente é a base, o foco.

Também não vou explicar o que é evolução espiritual nas religiões onde é citada. Faça uma busca no Google e encontrará muita coisa.

II

No Cristianismo - e meu escopo é o protestantismo reformado - podemos dizer que existem dois tipos de evoluções espirituais: uma horizontal e outra vertical. A horizontal é resultado da ação direta do homem (e indireta de Deus) e a vertical é resultado direto e exclusivo de Deus. A vertical altera a natureza do homem em todas as suas faculdades. A horizontal influencia as faculdades do homem e a permanência desta influência depende da natureza do homem e das circunstâncias. Quando falamos natureza do homem entenda o espírito (a essência) como no Espiritismo.

A evolução vertical é assunto vasto, geralmente interligado ao tema da liberdade humana [2]. Por isso, em breves palavras podemos dizer que existem quatro níveis espirituais verticais pelas quais Deus pode fazer o homem passar, conforme o momento histórico da humanidade, antes ou depois de Adão, antes ou depois de Jesus, com ou sem Jesus (não continue sem antes ver a referência para melhor entendimento).

Uma coisa interessante no Cristianismo é que verticalmente um ser moral pode evoluir ou decair. Por isso existe a figura dos anjos caídos. Cairam verticalmente de nível e permanentemente porque não houve para eles um evento histórico semelhante como na humanidade: a redenção através da obra de Jesus Cristo. Isto não poderia ocorrer com um pensamento espírita de evolução espiritual, mas então está errado o Espiritismo? Não. Então o Cristianismo? Não. As premissas (a base da doutrina) é que mudaram e não podemos mais falar de certo ou errado estritamente com relação ao tema Evolução Espiritual.

A evolução horizontal é semelhante à evolução no Espiritismo, contudo não afeta permanentemente a natureza, a essência, o espírito do homem. Na verdade, ela só é possível dependendo do nível vertical em que se encontra. Não importa circunstâncias ou conhecimentos, a vontade do homem estará sempre limitada ao seu nível espiritual vertical. Exemplo: duas pessoas vivem praticamente sob as mesmas circunstâncias mas uma prefere o crime e a outra não, mesmo existindo reencarnações.

III

A Reencarnação mesmo que existisse não seria determinante ou necessário para a evolução vertical ou horizontal, numa ótica cristã. A necessidade de várias reencarnações em algumas religiões como o Espiritismo é porque numa vida não há condições de conhecer tudo para alcançar a perfeição moral. Entretanto, deve-se ficar claro que a causa da evolução não é diretamente as reencarnações – esta é uma condição necessária, não determinante – mas enquanto houver reencarnações o espírito saiba crescer em cada experiência, isto é, saiba usar seu livre-arbítrio para que cada conhecimento adquirido seja útil, logo não importa se viver milhares de reencarnações se não aprender com nenhuma. Aliás, no hinduísmo reencarnação não implica em evolução, mas num eterno retorno – tudo se repete.

É importante notar que a premissa de liberdade moral (ver [2]) é diferente e por isto não podemos fazer comparações qualitativas. Aliás, Platão - que influenciou Kardec - tinha uma visão de liberdade moral diferente de Aristóteles. Enquanto aquele acreditava que a vontade era determinada pelos conhecimentos morais e intelectuais, este acreditava que os conhecimentos morais e intelectuais influenciavam mas não determinavam a vontade, pois a ação do homem dependia também da natureza da vontade. Segue abaixo ilustrações da evolução no Cristianismo e no Espiritismo:

Fig. 01 - Evolução Cristã

Fig. 02 - Evolução Espírita


Referências


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