Amado vizinho de cima

Amado vizinho de cima,

Imagino como pode ter sido chato alguém de fora ligar para sua casa e em vez de trazer alguma boa novidade (não seria legal?), faz um tipo de exigência. É realmente um incômodo.

A pessoa nem te conhece e já se sente no direito de mudar o seu hábito, dentro de sua casa, como se fosse aquele seu irmão disputando – ou melhor, aprendendo a compartilhar – o mesmo espaço de convivência.
Um desconhecido pedindo-lhe para não desfilar dentro de sua própria casa com aquele salto alto belíssimo, ou até solicitando algo absurdo como não deixar brincar com seus filhos, correndo sem parar numa só felicidade. É de fato...

Por outro lado, precisamos necessariamente conhecer as pessoas para amá-las?

Desde a sua chegada, passamos a dormir após seus filhos pararem de derrubar ou arrastar coisas no chão. Não queremos interromper a alegria do outro, não é? Eu também gosto de brincar com meu filho. Não é diferente toda noite quando se prepara para sair com suas amigas. Imaginamos como deve estar bonita com seu salto alto, porque para nós tudo parece uma passarela em todos os cômodos da casa, cada com um espelho do seu tamanho.

Não te conhecemos, mas por causa da fraca construção desse prédio, já nos tornamos íntimos, pois poderia sugerir alternativas bem caras, porém rentáveis, como adicionar um piso de porcelanato (vai valorizar bastante seu apartamento!). E se essa não for possível, como sofrido trabalhador brasileiro, cujo repouso diário, de dia e de noite, é essencial, talvez usar uma simples pantufa ou um chinelo já torne o seu salão muito mais belo e seus pés bem mais saudáveis.

Enfim, você entrou em nossas vidas há vários meses, introduzindo uma nova rotina, e só tivemos apenas uns poucos contatos pelo telefone, por uma constrangedora iniciativa nossa. Contudo todo esse tempo a toleramos em sua liberdade dentro da coletividade da nossa grande casa, chamada condomínio – com certa dificuldade, confesso, por causa do aumento do estresse contínuo. Ah! Não é esse o mal do século atual? Quer saber o quanto ele nos faz mal?

Não dá para mudar tudo nem o mundo sozinho, eu sei, todavia tornar os quase 365 dias de um ano menos doloridos para outro ser humano, independente de o conhecermos, é um ato de amor imensurável.

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