Um padrinho protestante: uma breve imersão na fé católica pelo batismo infantil

Esta semana tive uma experiência gratificante no batismo da minha afilhada numa igreja católica, mesmo sendo protestante. E foi gratificante relembrar, por um lado, o significado desse ritual bem como, triste, por outro lado, as divergências, muitas vezes, mesquinhas dentro do cristianismo ou entre cristãos.

Inicialmente havia uma preocupação quanto às possibilidades de um "crente" participar de uma ordenança católica. Até durante uma reunião de preparação para o batismo o assunto foi também esclarecido: não havia problema, desde que estivesse ciente da realidade representada por cada símbolo.

E foi muito bonito presenciar cada um daqueles símbolos: a água, a leitura, a roupa branca, a vela, o sinal da cruz etc. Há uma explicação de cada símbolo neste link. Quem batizou foi um padre catarinense há uns quatro anos aqui na Paraíba.

Em alguns momentos o batismo parecia, pelas palavras do padre, ter o sentido de apresentação e de professar publicamente a fé dos pais e dos padrinhos pela criança. Não lembro mais com exatidão.

Foi muito bom participar desse momento e professar publicamente meu compromisso na educação cristã da minha afilhada. Foi uma prazerosa imersão na prática da fé católica. Minha vizinha olhou com curiosidade quando não participei do Ave Maria e de outras orações pedindo o auxílio dos santos católicos. Não foi por desobediência a "minha religião".

No entanto, fora desse momento particular, há um contexto externo de divergências (normal num mundo democrático). 

Basta esta declaração do teólogo protestante Gordon Haddon Clark: "O batismo é uma doutrina sobre o qual há desacordos óbvios entre os cristãos: o significado do batismo é disputado; não há acordo sobre o sujeito que devem ser batizados; o método do batismo entre as igrejas é diferente; e, se considerarmos algumas das pequenas correntes de pensamento cristão, é negado até mesmo que Cristo tenha ordenado o batismo.".

De qualquer forma, há um texto muito bom sobre a liberdade, quanto a tradições eclesiásticas, de Vincent Cheung, "Ordenação e Tradição Humana", que me fez lembrar de uma certa tentativa para celebrar o nascimento de meu filho Gabriel.

Era para ser algo semelhante a um batismo no rito porém com o sentido apenas de consagração de sua vida a Deus. Havia até conversado com um amigo pastor para enriquecê-lo com alguns símbolos: velas, roupas, leitura (reflexão), louvor e padrinhos. Sim! Padrinhos e madrinhas, pois seriam pessoas compromissadas em educá-lo na vida cristã, assim como os pais. Estava tudo certo. Teoricamente seria algo muito bonito, principalmente aos convidados, familiares, vizinhos e conhecidos (a "comunidade"), porém nunca aconteceu porque... Basicamente, os seres humanos são frágeis, assim como nós e a própria igreja.

Seria uma ordenança única e particular, baseada na liberdade dada pelo próprio Cristo e na criatividade dada por Deus. Porém deu para vivenciá-la um pouco com o batismo infantil da minha querida afilhada Evellyn.

Minha posição quanto ao assunto é bem próxima do batismo infantil presbiteriano, apesar de ser batista reformado, para quem entende o que é isso.

Seria positivo ao próprio evangelismo mudar a forma tradicional de apresentação das crianças, comumente nas igrejas batistas, para algo mais rico em símbolos sem perder a identidade histórica e cristã reformada?

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