Lições para um luto sadio


No próximo dia 30 (dezembro de 2012), completará um ano da perda de nossa amada Lili, e nesse tempo senti de perto a dor de uma irmã, minha esposa, de seus pais e do marido dela. Não foi, então, um ano nada fácil. No entanto, muitas lições, apontamentos e relatos, dos livros de José Carlos Bermejo e de C. S. Lewis, foram confirmadas.

O livro "Estou de luto" do José Carlos "foi escrito para quem vive o drama de perder um ente querido, mas também vai interessar a todos que, direta ou indiretamente, convivem com a situação e não sabem o que fazer ou dizer, nem como ajudar.".

Já o livro "A anatomia de uma dor" do C S Lewis "encontram-se não mais ideias teóricas a respeito do sofrimento, mas o relato sincero de toda a confusão emocional, mental e espiritual experimentada por alguém quer perdeu a pessoa mais amada" (p. 8).

Os apontamentos, observações ou lições a seguir de modo nenhum substituem uma leitura, altamente recomendada, desses livros. O primeiro é organizado (como um pequeno tratado) e possui o relato de muitas pessoas, já o segundo requer atenção para não confundir as lamentações com falta de esperança do luto do próprio Lewis. Eles também são mais direcionados a um luto crônico, de uma perda inesperada.

1. Confusão Emocional

A noção de racionalidade ilimitada pelos seres humanos é contestada desde 1950 por pesquisadores dentro da Psicologia Cognitiva, pois "usualmente incluímos considerações subjetivas em nossa decisões", que "não somos necessariamente irracionais", mas "racionais, porém dentro de alguns limites", no que eles chamam de satisfatoriedade. Além disso, usamos "frequentemente atalhos mentais e mesmo vieses que limitam e, algumas vezes, distorcem nossa capacidade para tomar decisões racionais" (STERNBERG, p. 432, 433).

Aliás, bem antes disso, em meados de 1662, Pascal já dizia: "todos os homens são quase sempre levados a crer não no que é provado, mas no que lhes agrada", de modo que "nenhum amante será jamais conquistada pelo intelecto, nenhum partidário mudará de lado ou de opinião depois que alguém lhe tenha "demonstrado" o seu erro como se demonstra um teorema, nenhum fanático vai renunciar à sua cegueira por ceder a um raciocínio bem efetuado" (PASCAL, p. 16, 65).

E na Bíblia já havia algo assim: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o poderá conhecer?" (Jeremias 17:9).

Aqueles que mais sofrem com a perda de alguém, mais estão mergulhados numa fragilidade racional, numa violenta tempestade de confusão emocional, necessitando mais ainda de ações con-fortadoras, isto é, precisando de força para aguentar a passagem desse tormento. Madeleine, que perdeu o marido após "um casamento longo e pleno de realizações", a esse respeito disse:
"A verdadeira consolação da religião não é cor-de-rosa nem cômoda, mas con-fortadora, no sentido verdadeiro da palavra: com força" (LEWIS, p. 14).
Os vários elementos dessa tempestade aparecem sem aviso, em quantidade e intensidade difíceis de discernir (citando alguns deles):
  • Aflição, angústia, agonia, medo, suspense;
  • Dor, tristeza, sofrimento, egoísmo;
  • Ressentimento, indignação, revolta, lamentação;
  • Culpa;
  • Esperança.
"Não estou com medo, mas a sensação é a mesma. A mesma agitação no estômago, a mesma inquietação, o bocejo, a boca seca" (LEWIS, p. 29).
"E o luto ainda se parece com o medo. Talvez, de modo mais estrito, com o suspense. Ou mesmo com esperar; fazer hora à espera de que algo aconteça. Ele confere à vida um caráter permanentemente provisório. Parece que não vale a pena começar algo. Não consigo sossegar. Bocejo, tenho gestos de impaciência, fumo em demasia. Até então, sempre tivera muito pouco tempo. Agora não há nada, senão o tempo. Quase o tempo puro, a sucessão vazia" (LEWIS, p. 54, 55).
"Acho que estou começando a entender por que o luto se parece com o suspense. Ele advém da frustração de muitos impulsos que se haviam tornado habituais. Um pensamento após o outro, um sentimento após o outro, uma ação após outra - tudo levava até H. Agora, o alvo não existe mais" (LEWIS, p. 66, 67).
"O luto é como um bombardeiro dando voltas e lançando suas bombas para atingir um raio de ação; o sofrimento físico é como a barragem fiz nela, sem uma trincheira na Primeira Guerra Mundial, horas nela, sem uma pausa em momento algum." (LEWIS, p. 61, 62)
"Não seriam todos estes apontamentos agonias mentais insensatas de um homem que não aceita o fato de não haver nada que possamos fazer com o sofrimento, exceto padecê-lo?" (LEWIS, p. 54).
"Não, meu verdadeiro medo não é o do materialismo." (LEWIS, p. 51)
Detalhe: C. S. Lewis havia escrito, um tempo antes desse acontecimento na sua vida, um livro sobre o sofrimento ("O problema do sofrimento"), como o "megafone de Deus" para falar com seus filhos (p. 8). Alguns (incluindo ele mesmo) pensaram que todas as suas teorias foram confrontadas com essa perda (o "castelo de cartas"?).
"Com efeito, a experiência vai da negação à raiva, da tristeza à ansiedade, do desinteresse à irritação, do vazio à culpa... Choque, surpresa, incredulidaderejeição ou manifestações agressivas são reações normais, enquanto se mantiverem dentro de certos limites que não tenham repercussões irreversíveis sobre a própria pessoa ou sobre os outros" (BERMEJO, p. 16).
O sofrimento nem sempre é legítimo ou verdadeiro, podendo revelar um certo egoísmo de quem sofre.
"Que tipo de apaixonado sou para pensar tanto nas minhas aflições e tão pouco nas dela? Até mesmo o grito desesperado "Volte!" é por minha causa. Nunca questionei se sua volta, quer fosse possível, seria boa para ela. Quero-a de volta como um elemento imprescindível na restauração do meu passado. Será que eu poderia ter-lhe desejado algo pior?" (LEWIS, p. 62).

2. Culpa

O sentimento de culpa é muito frequente, por vários motivos:
  • "A forma como foi vivida a relação";
  • "Maneira como se viveu a última etapa", que fica "gravada de maneira muito intensa na lembrança";
  • "Pelo fato de estar superando o luto";
  • "Arrebatou a possibilidade de pedir perdão ou perdoar" (BERMEJO, p. 19, 20).
"Parece que investir energia em sair do luto ou restabelecer certa normalidade no cotidiano suporia falta de respeito ao defunto, como se não levasse muito a sério a pessoa que se perdeu. (...) Certamente é uma leitura insana das relações interpessoais" (BERMEJO, p. 32).
"Algumas pessoas sentem culpa (de novo!) se investem energia em um novo amor. Outras até moralizam sobre isso e dizem ser uma afronta ao falecido estabelecer novas relações íntimas com outras pessoas (especialmente se constroem novos casais). (...) De fato, para muitas pessoas esta é a tarefa mais difícil de realizar no processo do luto: investir energia em novas relações" (BERMEJO, p. 88, 89).
Bermejo utiliza a imagem da "mulher vestida de preto por anos sem fim, como se a morte de seu marido ou de seu filho tivesse ocorrido na semana passada" para ilustrar o efeito de uma culpa crônica: a "incapacidade de reintegrar-se com normalidade no tecido social, devido ao fato de que o sofredor está absolvido por constantes recordações, fantasiando constantemente sobre o passado, investindo nele toda a energia, sem ocupar-se do presente e sem construir nenhuma nova relação" (p. 31).


Entretanto é preciso atenção para perceber quando o luto se torna uma patologia psiquiátrica, necessitando então de ajuda profissional. Bermejo cita, então, alguns possíveis indicadores (p. 34):
  • Não conseguir falar do falecido;
  • Intensas reações emocionais;
  • Incapacidade para desapegar-se de coisas materiais;
  • Sintomas físicos semelhantes aos de quem morreu;
  • Distanciamento de todos os conhecidos do falecido;
  • Compulsão em imitá-lo;
  • Impulsos destrutivos;
  • Excesso de tristeza;
  • Consumo de substâncias tóxicas etc.
Mas nem toda culpa é inoperante e estéril, produzindo apenas "mais angústia e desassossego", "através  de remorso pelo que se fez ou se deixou de fazer, mas pode ser reparadora, oferecendo "meios para que algo negativo possa ser motivo de crescimento pessoal" (BERMEJO, p. 77).
"O que não foi ou deveria ter sido feito questiona o próprio modo de viver e pode ser canalizado para impregnar as relações atuais ou futuras daqueles valores que agora são valorizados" (BERMEJO, p. 77).

3. Amputação Afetiva

Apesar dessa confusão emocional ser passageira, diminuindo com o tempo, aquela frustração, relatada por Lewis, pode ser o resultado de uma amputação afetiva.
"A morte de uma pessoa amada é uma amputação" (LEWIS, p. 12). 
"Recuperar-se tão cedo? Mas as palavras são ambíguas. Dizer que o paciente está recuperando-se depois de uma operação de apendicite é uma coisa; depois de lhe amputarem a perna é outra bem diferente. Depois dessa operação, ou o coto cicatriza ou o homem morre. Se cicatrizar, a dor atroz e contínua cessará. Dentro em pouco ele recobrará a força e será capaz de caminhar com uma perna de pau. Ele "se recuperou"; mas é provável que sinta dores recorrentes no coto por toda a vida e talvez padecimentos bem ruins; ele sempre será um perneta. Dificilmente haverá algum momento em que se esqueça disso. Tomar banho, vestir-se, sentar-se e levantar-se de novo, até mesmo deitar na cama, tudo será diferente. (...) No momento, estou aprendendo a andar com muletas. Talvez em breve me seja dada uma perna de pau; mas jamais serei um bípede de novo" (LEWIS, p. 71, 72).
A dor dessa amputação, no entanto, não precisa ser negada, suavizada nem reduzida "a uma experiência obscura e sem saída", mas "soar ao ritmo da esperança" (BERMEJO, p. 7).
"Evitar conscientemente uma dor nos conduz, mais cedo ou mais tarde, a algum tipo de "colapso emocional"" (BERMEJO, p. 66).

4. Sofrimento por Afeto e não por Intelecto

A morte é conhecida por todos, no entanto, quando são afligidas por ela, parecem duvidar se todos realmente conhecem a sua dor (BERMEJO, p. 9). Lewis, por exemplo, mesmo um profundo pensador a respeito do sofrimento, não deixou de padecê-lo pessoalmente.
"Eu fora alertado - eu alertava a mim mesmo - quanto a não contar com a felicidade terrena. (...) Não há nada que eu não tivesse considerado. É claro que é diferente quando as coisas acontecem conosco, não com os outros, e na realidade, não na imaginação" (LEWIS, p. 58).
"Custa-me assimilar o que qualquer pessoa diz. Ou, talvez, o difícil seja querer assimilar" (LEWIS, p. 29)
Por isso, atitudes mais sábias ou benéficas são aquelas mais focadas em proporcionar forças frente ao turbilhão de emoções e não tratados sobre a vida, a morte, a religião, a espiritualidade, entre outros, ou mesmo ações ou campanhas de vingança ou ódio, como se o problema fosse apenas intelectual, racional ou moral.

Aliás, "a literatura da Grécia e da Roma clássicas desenvolveu o consolo como um conjunto de argumentos que eram oferecidos ao sofredor em forma de simples cartas ou de tratadas filosóficos. (...) Todavia, talvez não estejamos ainda tão longe da tradição que levava a consolar com frases feitas", por causa de crenças  (antes, gregas) que concebem "os sentimentos e as emoções como desordens da alma, e as pessoas afetadas por elas, pouco prudentes e sábias" (BERMEJO, p. 132, 133).
"Não é exatamente a razão que mais nos ajuda nos momentos de dor pela perda de um ente querido, embora às vezes pareça que desejamos isso e pretendamos fazer-nos estóicos e tentemos consolar-nos com argumentos em vez de afetos" (BERMEJO, p. 13).
"O afeto sincero, comunicado de modo profundo com nossos sentimentos, muito mais que com a razão, será o caminho mais adequado para acompanhar quem vive a perda de um ente querido e elabora a dor" (BERMEJO, p. 133)
Nesse sentido, as seguintes ações de afeto são terapêuticas ou consoladoras:
  • Choro;
  • Contato e abraço;
  • Escuta;
  • Recordação;
  • Pedir ajudar.
"Chorar tem um efeito benéfico de libertação: relaxa, desafoga, produz descanso e tranquilidade de espírito, promove a reconciliação consigo mesmo e com os outros, repara, restabelece a ordem e o equilíbrio com o passado para permitir viver o presente de modo sereno, abranda, deixa visível a fragilidade, ou, caso se prefira, a fortaleza dos sentimentos e do apreço pelo ente querido. E abrandar-se é humanizar-se" (BERMEJO, p. 51, 52).
Se o conhecimento realmente fosse crucial, Jesus não teria chorado, teria explicado tudo. Nada falou, apenas "chorou com os que choram".
"Jesus pois, quando a viu chorar, e também chorando os judeus que com ela vinham, moveu-se muito em espírito, e perturbou-se. Jesus chorou. Disseram, pois, os judeus: Vede como o amava." João 11:33-36.
"As mãos, no contato corporal, têm muito poder quando nelas está posto o coração" (BERMEJO, p. 56)

Sobre o escutar, é preciso ponderar duas coisas:
  • Contar sobre os últimos momentos pode ser um alívio, desde que não seja repetitivo e aí se torna um fardo (BERMEJO, p. 58);
  • Pode se ouvir de tudo, logo nesse momento deve se evitar qualquer julgamento.
"Por isso estou aprendendo como é importante escutar e ter alguém que escute sem julgar. Sim, sem julgar nada, nada" (BERMEJO, p. 60).
De forma semelhante, na recordação, que é terapêutica, é preciso cuidado para não cair na obsessão (BERMEJO, p. 62). Bermejo lembra que há "datas e situações em que a recordação se torna particularmente viva" (p. 162):
  • Natal;
  • Ano Novo;
  • Acontecimentos familiares intensos.
Nessas situações algumas pessoas:
  • Acham que recordar "pode estragar a festa";
  • "Não se permitem expressar uma recordação em público, precisamente para não serem considerados "desmancha-prazeres", simulando alegria quando na realidade estão sofrendo";
  • "Não se permitem celebrar, pois parece uma ofensa à pessoa querida que não está presente".
"No entanto, a verdadeira celebração é aquela capaz de dar espaço - especialmente no coração - às pessoas que não estão, mas que se desejaria que estivessem" (BERMEJO, p. 163).
Bermejo então cita a estratégia de fazê-los verbalmente presentes, que pode ser dolorosa por um lado, porém benéfica do ponto de vista emocional (p. 163). Veja este depoimento:
"Pouco a pouco estamos aprendendo a viver sem você; e embora não seja fácil, porque você preenchia tudo, percebemos que é mentira que a morte rouba a vida, pois a vida é como uma tocha que passa de mão em mão. E você estará sempre conosco, ocupando um lugar muito especial em nosso coração" (BERMEJO, p. 163).

5. Mito do Tempo Curativo

Essas ações terapêuticas são uma evidência do mito de que "o tempo cura tudo", "pois há feridas que não se curam nem com o tempo. tornam-se crônicas, infeccionam e matam", se não deixar esses elementos favoráveis fazerem efeito (BERMEJO, p. 49). Portanto, o tempo é um requisito, não fator terapêutico. Sem ajuda, sem terapia natural ou profissional, se torna o pior inimigo.
"A medicina do tempo, considerada em si mesma, não é segura. O tempo é neutro. O que ajuda é aquilo que cada um faz com o tempo" (BERMEJO, p. 167).

6. Idealização Patológica

Lewis, mesmo durante o luto, estava bem consciente de uma patologia muito comum (até normal) nessa situação: idealização da pessoa falecida.
"Se eu der rédea solta a esse estado de espírito, em poucos minutos terei substituído a mulher real por uma simples boneca pela qual vou chorar desesperadamente" (LEWIS, p. 30).
"Alguma coisa nunca é tirada de nós e, depois, é-nos devolvida do mesmo modo em que se apresentava. Como os espiritualistas sabem jogar a isca! (...) Pois é isso que todos nós apreciamos. Um passado feliz reconquistado" (LEWIS, p. 48).
"Toda realidade é iconoclasta. A pessoa amada na Terra, até mesmo nesta vida, não cessa de triunfar sobre a simples ideia que você faz dela. E você quer que seja assim; você a quer com todas as resistências, todas as falas, toda a sua imprevisibilidade, isto é, em sua realidade franca e independente. E é isso, e não outra imagem ou lembrança qualquer, que devemos amar mesmo depois que ela morra" (LEWIS, p. 83).

Contudo essa patologia pode gerar culpas que impedem um luto sadio.
"O processo de elaboração do luto significa reinstalar dentro de si mesmo os entes queridos; dar a eles uma presença interna na qual o ser perdido não seja um perseguidor interior que gere culpa, e sim uma boa recordação" (BERMEJO, p. 13)
Essa idealização, segundo Bermejo (p. 23), constitui uma expressão de amor e perdão, se não se tornar um luto crônico (patológico).
"Na realidade, não se deve esquecer a pessoa amada, nem a manter no mesmo lugar vital. O objetivo não é esse, mas sim reestruturar o tipo de vínculo e a forma de relacionar-se com ela, tomando consciência realista daquilo a que se deve realmente renunciar (a presença física e todas as suas implicações) e ao que não (o significado no coração e na própria história)" (BERMEJO, p. 88).
"Conservar o quarto do morto intacto, como uma espécie de "museu" em sua honra, pode ser um indicador de complicações no luto, de negação, ou culpa por associar a ideia de retirar suas coisas com uma sensação de "matá-lo" no coração, ou manifestar diante de si mesmo, diante do falecido e dos outros uma espécie de "indiferença" por sua morte" (BERMEJO, p. 103).
Uma ajuda, então, para remover as coisas do falecido é muito importante.

7. Redescoberta Pessoal

No meio desse tormento de emoções, a esperança pode brotar, permitindo uma redescoberta da própria fé como nunca antes na vida.
"Deus certamente não estava fazendo uma experiência com minha fé nem com meu amor para provar sua qualidade. Ele já os conhecia muito bem. Eu é que não. Nesse julgamento, ele nos faz ocupar o banco dos réus, o banco das testemunhas e o assento do juiz de uma só vez. Ele sempre soube que meu templo era um castelo de cartas. A única forma de fazer-me compreender o fato foi colocá-lo abaixo." (LEWIS, p. 71).
"Talvez eu nunca tenha sentido mais intimamente a força da presença de Deus do que pude sentir durante os meses da agonia de meu marido e depois de sua morte" (LEWIS, p. 12).
"Você nunca tem consciência do quanto de fato acredita em alguma coisa enquanto a verdade ou a falsidade dessa coisa não se torna uma questão de vida ou morte para você. É fácil dizer que você acredita que uma corda seja forte e segura, enquanto a está usando apenas para amarrar uma caixa; mas imagine que deva dependurar-se nessa corda sobre um precipício. Será que não iria primeiro descobrir o quanto na verdade confia nela?" (LEWIS, p. 45)
"Aqueles que dizem que não devemos temer à Deus porque Ele é bom, será que nunca foram ao dentista?" (LEWIS, p. 64)
"Pode um mortal fazer perguntas que Deus considera não passíveis de resposta? Absolutamente, sim. Todas as perguntas sem sentido não são passíveis de resposta. Quantas horas há num quilômetro? O amarelo é quadrado ou redondo?" (LEWIS, p. 85)
"Na fragilidade experimentada no luto se mostra a fortaleza do amor que unia as pessoas agora separadas pela morte" (BERMEJO, p. 48)

8. Esperança, se Luto Vivido

O luto precisa ser vivido, para haver esperança em enfrentar a dor, aprender com ela e transcender o que vemos e sentimos.

A diferença entre luto sadio e luto patológico está relacionada com o tempo e a intensidade da "recuperação", por isso alguns, que "morreram" um luto, chegam a ter posições bastante pessimistas de recuperação ou de esperança ao aconselhar outros, porque não aprenderam a vivê-la de forma sadia, como que "cego guiando cegos".
"Quem, por ocasião do luto, não aprende a lição, torna-se mais apático. Quem aprende com ele, humaniza-se" (BERMEJO, p. 149).
"A esperança faz com que o presente seja vivido em tensão com o futuro e que se antecipe o sabor do esperado, porém sem esgotá-lo. A esperança tem a ver com a confiança, não com o otimismo superficial ou com a certeza absoluta. Melhor dizendo: é irmã da insegurança, e do medo, mas convive com a coragem, a paciência, a integridade e a constância. Esperar é aguardar com paciência" (BERMEJO, p. 125).
"Viver a própria morte consiste também em elaborar de forma sadia o luto antecipador, em fazer da experiência das perdas uma oportunidade para buscar sentido nas relações interpressoais e nos valores que podem qualificar a própria perda" (BERMEJO, p. 154).
Se a morte não causasse tanto dor e, por outro lado, tanta esperança, não seria o último inimigo a ser vencido por Jesus.
"Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte" (1 Coríntios 15.26).

Referências

STERNBERG, Robert J. Psicologia cognitiva. São Paulo: Cengage Learning, 2010.

PASCAL, Blaise. Da arte de persuadir. São Paulo: Landy Editora, 2005.

LEWIS, C. S. A anatomia de uma dor - Um luto em observação. São Paulo: Vida, 2007.

BERMEJO, José Carlos. Estou de luto - Reconhecer a dor para recuperar a esperança. São Paulo: Paulinas, 2008.

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