Fé não é oposição à razão
O
entendimento da supranaturalidade não é motivo para desencorajar a fé e a razão
respectivamente daqueles que oram pelo “impossível” ou dos que buscam crescer
nas ciências, “porque andamos por fé, e não por vista” (II Co 5.7), pois é “a
certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem” (Hb
11.1).
Assim
a fé é uma oposição à visão e não à razão,
pois quem reconhece a supranaturalidade da Vida, não se limita mais em viver
confiando apenas em uma porção da realidade: natural, visível. Por conseguinte,
essa convicção faz crescer a certeza no Autor de toda naturalidade.
Agora,
nem tudo é invisível. “Crer é também pensar” a implicação dos axiomas cridos e
na coerência de seu sistema de pensamento, de modo a não cometer uma prática
incoerente com a própria crença. Desse modo, a fé não é cega por não haver uma
demonstração ou comprovação científica, pois nem tudo pode ser deduzido.
Ora,
nas ciências sempre haverá axiomas, que nunca foram deduzidos, mas assumidos
sem prova. E há uma razão simples para isso:
"Se alguém tentar provar os axiomas, essa pessoa deve se dirigir
para trás de prévias proposições. Se essas também devem ser deduzidas, então
deve haver prévias proposições, e assim por diante ad infinitum. A partir do
que se conclui: Se tudo deve ser demonstrado, nada por ser demonstrado, pois
não haveria nenhum ponto de partida. Se você não pode começar, então certamente
não pode terminar." (CLARK, 2005) .
Logo
a fé cega é aquela exercida por quem não sabe qual a sua verdadeira oposição: a
visão e não a razão. Ora, advertia Paulo daqueles que receberam "em si
mesmos a recompensa que convinha ao seu erro" (Rm 1.27), pois o
arrependimento não remove as consequências naturais dos pecados cometidos.
Além
disso, a “alma vivente” humana não foi feita para entender o complexo, mas para
viver a simplicidade da fé ou a fé da simplicidade, que "é o contrário da
duplicidade, da complexidade, da pretensão", mas não simploriedade ou
falta de inteligência (COMTE-SPONVILLE, 1995) .
Aliás,
inteligência não é congestionamento, complicação ou esnobismo, mas "a arte
de reduzir o mais complexo ao mais simples"; tendo o "desinteresse,
desprendimento, desprezo de provar, de prevalecer, de parecer"; sendo "despreocupada,
mas não descuidada", contrário do “amor próprio, do narcisismo, da
autosuficiência”, "antes a infância como virtude" (COMTE-SPONVILLE,
1995) ;
“meninos na malícia, mas adultos no entendimento” (I Co 14.20).
Segundo
o Nobel de Física, Serge Haroche, a "lógica do mundo quântico é muito diferente
daquela que conseguimos estabelecer usando nossos próprios sentidos”, pois para
o “nosso organismo e o nosso cérebro (...) os fenômenos quânticos não são
relevantes, o chamado mundo clássico" (LOPES, 2013) .
“Ele
fez tudo apropriado a seu tempo. Também pôs no coração do homem o anseio pela
eternidade; mesmo assim este não consegue compreender inteiramente o que Deus
fez” (Ec 3.11).
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CLARK, G. H. (2005). Ateísmo. Acesso em 4 de 6
de 2013, disponível em Monergismo:
http://www.monergismo.com/textos/apologetica/ateismo_gordon_clark.pdf
COMTE-SPONVILLE, A. (1995). Pequeno tratado das
grandes virtudes. São Paulo: Martins Fontes.
LOPES, R. J. (11 de 05 de 2013). 'Teletransporte
vai continuar sendo ficção', diz Nobel. Acesso em 15 de 5 de 2013,
disponível em Folha de S.Paulo:
http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2013/05/1276764-teletransporte-vai-continuar-sendo-ficcao-diz-nobel.shtml
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