Natural, Sobrenatural e Supranatural
Como
pode ter lido em Gênesis, a origem do homem pode ser entendida em termos
naturais, mesmo não exaustivamente, mas não apenas de forma antinatural.
Na
verdade, popularmente tem havido uma diferença entre eventos naturais e
sobrenaturais em que o primeiro rege-se por leis da natureza, mas o segundo,
não. Exemplo dessa mentalidade são os milagres.
Sproul, nesse sentido, chama a atenção para os diferentes usos do termo milagre
- Uso leviano ou rotineiro, como um pôr-do-sol ou escapar por um triz;
- Deus operando por “meios secundários das leis naturais”, referindo “às coisas comuns que apontam para uma causa incomum no poder de Deus”, como a complexidade do nascimento de um bebê;
- Deus operando por “meios secundários num tempo e lugar mais específicos”, como a estrela de Belém;
- Deus “contrariando o que é natural”, como a ressurreição de mortos, na qual “pode não haver nenhuma explicação natural para tais eventos”.
Certamente
o autor de Gênesis não teve a preocupação em descrever a formação das espécies
da forma mais natural possível, como
conhecemos hoje, isto é, em termos científicos, que, na verdade, sempre se
modificam com o tempo (qual seria o termo mais adequado ou a explicação mais
precisa?).
No
entanto, ficou evidente sua preocupação maior em atribuir a responsabilidade soberana de tais
eventos ao Criador, de forma simples, sem a complexidade envolvida em toda a
natureza. Aliás, a intenção dos autores bíblicos em descrever os milagres não está
relacionada com o objetivo de invalidar as Ciências Naturais ou lutar contra
elas (o que seria um absurdo para a época), mas são sinais, prodígios ou
maravilhas que “apontam para além de si mesmos, para algo mais significativo”,
como o poder dado a Moisés “a fim de demonstrar que o tinha enviado” ou “o Pai
autenticar o ministério do Filho” (Sproul, 1999, p. 60) .
Além
disso, a forma natural como percebemos ou verificamos as coisas, com
cientificidade ou não, é apenas de uma porção da realidade, num fragmento do
tempo, pois já não é possível acompanhar certos eventos que se iniciaram no
passado (muitas vezes, únicos na história) e não mais existem, ou os que irão
começar no futuro e ainda não existem, ou mesmo, os que estão no presente,
porém numa unidade de tempo diferente. Aliás, "para Agostinho Deus não
criou o mundo no tempo, mas com o tempo”, a “criatura temporal de Deus”, que “está
próximo da alma do homem”, como algo “psicológico, uma percepção de sucessão
contínua no campo da consciência com aspecto de localização e de anterioridade”,
“uma distensão da alma, pois posso estender ou encurtar a duração das sílabas
pronunciada num verso” (JUNIOR, 1995) .
É
tolice, então, atribuir toda naturalidade ao científico (esse foi o grande paradigma
do Naturalismo[1]
filosófico), como também adotar uma crença num sobrenatural, que vai contra as “leis da natureza” (que não são
absolutas e exaustivas!), em função do desconhecido, uma vez que o próprio Deus
as determinou para serem assim.
Ora,
rotular algum evento de antinatural é conhecer o fenômeno o suficiente para
concluir que não pode ser natural. O quanto a nossa ciência é capaz de conhecer
as coisas? Pouco tempo atrás a Física Quântica era uma ficção, um milagre ou
uma loucura.
Assim,
de agora em diante, a palavra supranatural
será o natural não alcançado pelo homem, apontando para o plano eterno de Deus,
que não é o “tempo dilatado ou esticado, mas a simultaneidade de todas as
coisas” (JUNIOR, 1995) , porém ocorrendo na realidade do tempo,
para privilégio dos homens, por meio de suas Ciências, de modo a não ser
confundido com o sinônimo sobrenatural, já carregado de outro sentido.
[1] É "a
visão de que o método científico é a única forma efetiva de investigar a
realidade universal" (NATURALISMO, 2013)
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JUNIOR, O. M.
(1995). TEMPO - DISTENSÃO DA ALMA
HUMANA: UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE O TEMPO EM AGOSTINHO DE HIPONA. Brasília: Universidade de Brasília (UnB).
NATURALISMO. (2013). Naturalismo (filosofia).
Acesso em 4 de 6 de 2013, disponível em Wikipédia:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Naturalismo_(filosofia)
Sproul, R. C. (1999). Verdades Essenciais da Fé
Cristã: doutrinas básicas em linguagem simples e prática. São Paulo:
Cultura Cristã.
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