Leituras: Pura Picaretagem

Gostei do livro "Pura Picaretagem" [1] de Daniel Bezerra e Carlos Orsi, e recomendo, especialmente aos cristãos, com algumas ressalvas.

É um bom manual para denunciar uma literatura de autoajuda e esoterismo que se aproveita da desinformação e das lacunas existentes na Física Quântica, no entanto não deixar de fazer afirmações, nas quais ressalvas são necessárias, sobre outras questões direta ou indiretamente envolvidas no tema principal.

A primeira ressalva refere-se à história contada sobre Galileu, o pai do "Método Científico, que vem a ser a observação e medição criteriosa de um fenômeno, a elaboração de hipóteses para explicá-lo e o teste dessas hipóteses". No livro, esse método rendeu "sucessos estrondosos" que geraram "dissabores com a Igreja" (p. 29).

Aqui a história é mal informada e se tornou um dogma, principalmente de ateus. Recomendo alguns artigos, no site "Logos - Apologética Cristã", pesquisando por "Galileu". Mas antes de pesquisar, seguem alguns pontos:

1. "A geocêntrica visão aristotélica (a terra como centro) do sistema solar dominava as discussões científicas e teológicas da época" [2], portanto não houve "dissabores" apenas com a Igreja;

2. "Galileu primeiro desafiou a compreensão da ciência da época e, em seguida, a Igreja" [2], logo não havia "sucessos estrondosos".

Logo, "o fato de que a comunidade científica da época não estava convencida dos modelos heliocêntricos endossados por Copérnico e Galileu é muitas vezes deixado de mencionar por céticos, que fazem parecer que somente a Igreja (como um todo e simplesmente) se opunha às ideias de Galileu. Ledo engano" [2].

É interessante notar como um religioso é geralmente citado numa discussão científica. Colocam desta forma: "havia uma discussão entre o padre fulano e o físico sicrano" (você nunca iria entender que havia uma discussão realmente científica). Em vez de "havia uma discussão entre o padre e físico fulano e o físico sicrano".

A segunda é uma visão bonitinha da evolução científica: "Novas ideias são constantemente adicionadas e comparadas às noções anteriores, de forma que o edifício da ciência está sempre crescendo, ainda que de forma gradual" (p. 61). 

Na verdade, como não se valoriza o estudo histórico, sociológico e filosófico das ciências, não se percebe a força do paradigma (vide outra postagem) nelas (tão mostrado por Thomas S. Kuhn [3]), e pior, é passado pelas escolas, aquela impressão ou aprendizado de que o desenvolvimento científico foi linear, cumulativo e não em ciclos revolucionários.

"Em parte por seleção e em parte por distorção, os cientistas de épocas anteriores são implicitamente representados como se tivessem trabalhando sobre o mesmo conjunto de cânones estáveis que a revolução mais recente em teoria e metodologia científica fez parecer científicos" [3].

A terceira é o entendimento errado de Marcos 11.23 (p. 89), que motivou outra postagem, com maior detalhamento sobre ela.

A quarta é colocar o monismo materialista, ou pior, apenas o que se mede em laboratório, matéria e energia (p. 91), como "perfeitamente compatível" com a ciência (p. 92) e "suficiente em todos os campos de investigação científica" (p. 93), ignorando completamente o (crescimento) Design Inteligente na comunidade científica (o que é normal, dentro da tese de paradigma de Kuhn, e também pelo ateísmo dos autores), já que não há apenas matéria e energia, mas informação na natureza (vide web book do Dr. Marcos Eberlin: Fomos Planejados [4]).

A quinta foi a crítica ao caráter transcendental, pois não poderia ser tratado cientificamente, mas pela "fé, filosofia ou religião" (p. 105), no entanto ironicamente um dos autores coloca assim: "para o bem ou para o mal, o que acontece em nossas vidas depende em grande parte do acaso" (p. 160), ignorando as evidências científicas da existência de informação (inteligente) na natureza (vide web book do Dr. Marcos Eberlin: Fomos Planejados [4]).

O paradigma científico do Evolucionismo, por exemplo, está vivendo uma crise frente ao crescimento da TDI (Teoria do Design Inteligente), por causa não apenas da falta de evidências, mas da presença de evidências científicas que a falsificam [4].

Mesmo um livro que busca denunciar picaretagem no mundo científico não está ausente de sutis picaretagens.

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[1] Bezerra, Daniel. Pura Picaretagem - Como os livros de esoterismo e autoajuda distorcem a Ciência para te enganar. Saiba como não cair em armadilhas! / Daniel Bezerra, Carlos Orsi. - São Paulo: LeYa, 2013.

[2] Logos - Apologética Cristã. Disponível em: http://logosapologetica.com/

[3] KUHN, Thomas s. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Editora Perspectiva S.A, 5ª edição, 1998.

[4] Marcos N. Eberlin. Disponível em: http://www.fomosplanejados.com.br/