Viver é peregrinar

Só a introdução do livro "Vivendo com Propósitos", de Ed René Kivitz, já trouxe várias lições, que só agora comecei a ler, pois o tenho guardado há muito tempo.

A primeira coisa foi conhecer a lei da linearidade, de Larry Crabb, "uma lei que declara que existe um A que leva ao B que você quer. Calcule A, faça o que manda e terá a vida que mais deseja". E ela está presente numa das principais maldições da nossa época: "os livros de auto-ajuda que reduzem a vida humana a uma complexa série de causas e efeitos. Esses livros fazem promessas perigosas e induzem a pessoa a adotar uma série de atitudes e comportamentos que - se seguidos à risca - supostamente resultarão em harmonia, progresso e sucesso nos relacionamentos e nos alvos profissionais. (...) No final das contas, porém, geram neuroses e frustrações".

Essa lei era bem semelhante ao que os amigos de Jó tentaram lhe ensinar, em vão!

Já a segunda coisa foi a apresentação da conclusão do autor, que não seguiu esse "caminho largo do simplismo", de que o "propósito da vida não é atingir um alvo predefinido que aflui para a felicidade platônica ou ao nirvana cristão. (...) Viver é peregrinar. Uma peregrinação visível cheio de interações invisíveis. Viver é transitar entre um lugar e outro, um estado de ser e outro, uma condição humana e outra, um mundo e outro. (...) Não se trata de fuga para o céu nem da busca de equilíbrio interior-intimista. A peregrinação não é apenas psíquica e emocional, mas também essencialmente espiritual. Não é necessária para uns poucos traumatizados por experiências circunstanciais, mas sim uma tarefa imprescindível a todo ser humano rumo ao máximo de suas possibilidades como ser criado à imagem e semelhança de Deus".

E por fim, o poema de Nikos Kazantzakis do seu livro "Ascese - os salvadores de Deus":
"Por uma só coisa anseio: aprender o que se esconde atrás dos fenômenos; desvendar o mistério que me dá a vida e a morte; saber se uma presença invisível e imota se esconde além do fluxo visível e incessante do mundo.
Pergunto e torno a perguntar, golpeando o caos: quem nos planta nessa terra sem nos pedir licença?
Quem nos arranca da terra sem nos pedir licença?
Sou uma criatura fraca e efêmera, feita de barro e sonhos. Mas sinto em mim o turbilhonar de todas as forças do Universo.
Antes de ser despedaçado, quero ter um instante para abrir os olhos e ver.
Minha vida não tem outro objetivo.
Quero achar uma razão de viver, de suportar o terrível espetáculo diário da doença, da fealdade, da injustiça e da morte.
Vim de um lugar obscuro, o útero; vou para outro lugar obscuro, a sepultura.
Uma força me atira para fora do abismo negro; outra força me impele irresistivelmente para dentro dele."


Começou bem!

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