Qual a causa humana da "cultura do estupro" ou que é realmente a cultura do estupro


Eis aí uma boa referência para começarmos a perceber alguns problemas, por conseguinte possíveis soluções. Sim! Ao final, talvez uma luz. E se reclama, porque é um "textão", só lamento porque isso só reforça o quanto medíocres somos.

Há quem entenda tal "cultura do estupro" entre estas opções (não necessariamente excludentes):
1. O estupro é um fenômeno culturalmente masculino, porque consequência do machismo;
2. O estupro tem uma causalidade (cadeia causal), identificada em várias atitudes, ações e valores culturais; 3. O estupro como prática cultural indígena, mas apenas "técnico" porque não participa da "nossa" cultura (fora do escopo desta reflexão).

Por causa do primeiro, alguns homens começaram a pedir desculpas por serem homens. Por causa do segundo, agora se pode falar em estuprador em potencial ou pequeno estuprador (por causa de atos intermediários) e em estuprador pleno (ato final).

Mas já temos uma teoria científica (de Humanas) a respeito do assunto? De algo tão sério já estamos estabelecendo previsões baseadas em opiniões? E de uma "opinião científica" já estamos cobrando ou discutindo políticas públicas? (Uma importância da ciência é tentar diminuir a seleção pessoal do que queremos que seja um mal ou um bem.)

Um outro problema felizmente está implícito na opinião, e dele podemos apontar para uma luz. É um problema ético, antes de mais nada. Isso porque por trás do que se diz como cadeia causal do estupro pode se identificar pelo menos imprudência e indiferença (falta de empatia) - essa última pode ser uma variação daquela.

Quem destes é mais imprudente? O que julga haver uma cadeia causal do estupro por merecimento (o machismo) ou por coisas que a encorajam como teorizada pela "cultura do estupro"? Isto é, o que diz "foi estuprada porque estava usando shortinho" ou o que diz "foi estuprada por causa de atos intermediários envolvendo machismo da sociedade"?

Parece que tais opiniões não querem no fim responsabilizar o ser humano, colocá-lo como um princípio inicial de ações, logo alguém a ser imputado um bem ou um mal. É como se dizendo o contrário disto: "Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus" (isto é, todos ao serem tentados, são tentados por Deus, porque tudo está em seu controle). Você pode também substituir "Deus" por circunstâncias ou pela natureza ou pelo meio.

Essa discussão, logo, não é nova. Aristóteles, em seus tratados éticos, revolucionou a ideia de que um ser dentro de uma cadeia de eventos naturais poderia ter certa responsabilidade de suas ações. A quem interessar essa via ética-filosófica pode ler "Ética a Nicômaco".

Mas voltando à via opinativa, lembre da campanha "Não Foi Acidente", sempre presente aqui no Facebook. Qual a sua causa? Há sim uma causa de ordem física, de ordem social, de ordem psicológica, mas em meio a elas há a causa de ordem ética. O imprudente ignora a cadeia fisiológica do álcool, a força do grupo social, a paixão no calor do momento, e se deixa levar por todas essas cadeias até chegar a um acidente fatal.

E quais forças podem ser usadas contra a imprudência, em seus vários formatos? A imprudência tem gênero? A imprudência tem um problema específico? A imprudência tem um caminho certo?

A "cultura do estupro", assim, pode se revelar imprudente em vários níveis: por quem a define e por pelos que são alvos dela.

Postagem de Facebook de Jean Wyllys

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Leituras: Psicologia Cognitiva - Robert J. Sternberg

Ἐν ἀρχῇ ἦν ὁ Λόγος, καὶ ὁ Λόγος ἦν πρὸς τὸν Θεόν, καὶ Θεὸς ἦν ὁ Λόγος. (Como Deus e não Deus?)

Tradução e comentários de Lucas 20:34-38 - os filhos deste e daquele mundo