Se entregar ou não por completo no matrimônio?


Após ter um esclarecimento maravilhoso, este fim de semana, sobre uma realidade da graça de Deus, acabei tendo, por conseguinte, uma iluminação de uma dúvida a respeito do se entregar num matrimônio. Até que ponto a entrega é imprudência, sadia, irresponsável ou algo do tipo? Um amigo confidente sabe muito bem do que estou falando.

E aqui não é receita de bolo, no sentido de quais ingredientes e procedimentos são necessários para se fazer um certo bolo, mas de falar em um princípio para não se chegar a um bolo ruim ou a não fazer bolo algum ou a fazer bolo demais. 

É sadia a preocupação em não chegar a um momento de decepção, frustração ou enganação, após longo período investindo ou se entregando a um relacionamento. Para alguns, entregar-se envolve compartilhar contas (bancárias etc), para outros, tomar certas decisões numa carreira (acadêmica, profissional etc), entre outras coisas, que se interrompidas lá na frente, geram um grande prejuízo, emocional, psicológico, material etc. 

Diante desses riscos, alguns preferem se arriscar totalmente, por acreditar, por exemplo, que, em última instância, sempre haverá uma possibilidade de ruptura inesperada, ou preferem deixar tudo pronto para uma possível separação no meio do caminho. De fato, há essa possibilidade, para quem não conhece o futuro, por outro lado, não há maior intensidade a quem vive pela metade garantida.

Nesse ponto, cabe então falar do princípio da moderação, uma oposição ao excesso e à ausência, que não deve ser confundida com mediocridade. O medíocre é o que segue uma receita de bolo, que talvez funcione para um ou muitos, acreditando valer para todo tipo de bolo. Já o moderado pesa e analisa o quão inseguro se encontra na relação, o quão recíproco ela é, ou o quão mutuamente se conhecem, e em camadas, etapas ou momentos, entrega um pouco de si ao outro, não necessariamente ao mesmo tempo do outro fazer o mesmo. O moderado busca continuamente identificar os extremos, de seu contexto pessoal, para então refletir e agir, a cada momento de sua vida. 

Nunca vamos conhecer totalmente o outro, enquanto uma pessoa individual (há muito a dizer sobre isso, fora do presente escopo). O ponto aqui é ressaltar a necessidade de balancear certas inseguranças e seguranças, no seu contexto pessoal, tomando os outros como exemplos e referências, e não cópias ou padrões. Talvez a maioria do seu universo de vivência não tenha exemplos moderados . Talvez seu universo de vivência não tenha certos valores de outro universo.

No entanto, não foi dito aqui em como evitar sofrer, caso um relacionamento decepcione, frustre ou acabe, mesmo estando em sua maior intensidade, alcançada por moderação. Em situações assim, há outra relação em que é possível a máxima intensidade ou plenitude, do qual toda espécie de ressurreição é possível. Esse milagre ocorre no matrimônio entre Deus e sua criatura, entre Jesus e sua noiva (a igreja). E aqui o protestante se torna menos protestante, o católico menos católico e o espírita menos também, conforme crescem no re-conhecimento da multiforme graça de Deus.

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