"Uma história sobre o nosso mundo": primeira parte de um conto nosso.

I – Nem um começo nem um fim

E o porco entregou a galinha ao escorpião, com o sentimento de que não era sujo como os outros porcos. A raposa, contudo, olhava fixamente para um ponto distante, enquanto o porco passava bem próximo, a sua frente, como se diante de uma grande atrocidade, profundamente triste, porém incapaz de efetuar qualquer movimento, até mesmo com a própria face - nem mesmo conseguia chegar a uma explicação para tamanha incapacidade.

O porco, incomodado por aquele olhar da raposa, após alguns passos, voltou e perguntou: "O que foi? Estou limpo! Não sou como os outros. Eu perguntei. E ele me disse que era incapaz disso.". Levemente a raposa apenas movimentou a cabeça, de cima para baixo, umas duas vezes. O porco, então, após alguns segundos, impacientemente dispara: "Você não é diferente das outras". E antes de ir embora, a raposa respondeu: "Eu não queria, mas vi a lama que você nunca abandonou". O porco expressou o desejo em dizer algo mais, porém foi embora.

No caminho para casa, o porco lutava a cada passo: ora pensava em voltar, ora continuava os passos. Em sua mente as palavras da raposa brigavam com as palavras do escorpião. Em frente de casa, olha a lama do vizinho, com aquele mesmo olhar da raposa, e por alguns momentos, enxerga-se tomando banho nessa mesma lama, como se leve de todos os compromissos que assumiu, ao longo da vida, desde uma grande decisão no passado.

— Não entendi, pai. Você disse que iria contar uma história sobre o nosso mundo, mas não parece o começo nem o fim. E agora me diz para eu dormir — reclamava a filha, enquanto o pai a cobria com o cobertor.

— Durma, minha filha. Amanhã papai continua a história.

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