Adoção tardia


Recentemente num treinamento de um projeto para crianças e adolescentes em casas de acolhimento, a instrutora falou sobre adoção tardia, e durante a discussão do grupo, uma das participantes mostrou estranheza e o seguinte questionamento: “Como adotar alguém com 12 anos? É muito tempo. Não dá para educar, como se educa uma criança desde o nascimento; passar nossos valores ou jeitos; ser como a gente. É muito complicado e requer muita coragem. Eu não sei se faria tal coisa.”.

Hoje na escola de Gabriel (Colégio Exato), estava acontecendo a comemoração do Dia dos Pais. Foi muito legal: brindes, brincadeiras na salinha dele, prêmios, vôlei e futebol entre os pais, com direito a gol mais bonito. No entanto, uma dinâmica me chamou a atenção: a professora perguntou o que era ser pai. Ha hora apenas me veio isto: ser pai é enxertar um novo órgão em seu corpo e viver em função dele, assim como ser marido, padrinho etc. Pois é dessa forma que vejo Gabriel em minha vida: como mais um coração que bate em mim, por isso meu amor por ele é enorme.

Essa segunda situação me fez lembrar aquela primeira, porque pai é antes de qualquer relação biológica. Aliás, no nosso ordenamento jurídico “a verdadeira paternidade pode também não se explicar apenas na autoria genética da descendência. Pai também é aquele que se revela no comportamento cotidiano, de forma sólida e duradoura, capaz de estreitar os laços de paternidade numa relação psico-afetiva, aquele, enfim, que além de poder lhe emprestar seu nome de família, o trata verdadeiramente como seu filho perante o ambiente social” (Luiz Edson Fachin. Estabelecimento da Filiação e Paternidade Presumida).

Por isso, algumas pessoas se “redescobrem” como pais depois de vários anos, porque ainda não tinham escolhido serem, de fato, e assim “adotam” tardiamente seus próprios filhos, e recomeçam uma nova relação.

Assim são muitas pessoas com Deus: vivem acomodadas sob um conceito popular de “Deus é Pai de todos”, ignorando o outro bíblico de “adoção tardia” por Ele. Você sabe o que é isso e sua implicação?

O trecho seguinte do livro “A Grande Casa de Deus”, de Max Lucado descreve bem esse conceito bíblico:


"Quando vamos a Cristo, Deus não somente nos perdoa, como também nos adota. Através de uma série dramática de acontecimentos, passamos de órfãos condenados, sem nenhuma esperança, a filhos adotados sem nenhum temor. Veja como isto acontece. Você se aproxima do trono do juízo de Deus cheio de rebeldia e erros. Por causa de sua justiça, Deus não pode desprezar os pecados que você comete, mas por causa de seu amor, Ele não pode desprezá-lo. Portanto, em uma atitude que assombrou os céus, Deus castiga a si mesmo na cruz pelos pecados que são seus. A justiça e o amor de Deus foram igualmente honrados. E você, criação divina, é perdoado. Mas a história não termina com o perdão de Deus...
Teria sido suficiente se Deus tivesse limpado o seu nome, mas Ele fez muito mais. Ele lhe deu o nome dEle. Teria sido suficiente se Deus o tivesse libertado;porém Ele fez muito mais. Ele o levou para casa, para a grande casa de Deus.
Pais adotivos entendem isto melhor do que ninguém. Não tenho a intenção de ofender nenhum pai biológico, pois eu sou um deles. Nós, pais biológicos, conhecemos bem o anseio de ter um filho. Mas, em muitos casos, nossos berços foram facilmente preenchidos. Decidimos ter um filho e ele veio. Na verdade, às vezes o filho vem sem qualquer decisão antes tomada. Já ouvi falar de gravidez não planejada, mas nunca ouvi falar de adoção não planejada.
Por isso, os pais adotivos entendem a paixão de Deus ao nos adotar. Eles sabem o que significa sentir um espaço vazio dentro de si. Sabem o que significa procurar, começar uma missão e aceitar a responsabilidade por uma criança com um passado conhecido e um futuro duvidoso. Ninguém entende melhor o zelo de Deus pelos seus filhos do que aquele que salvou uma criança do desespero do orfanato, pois isto foi o que Deus fez conosco.
Deus adotou você. Deus o procurou, encontrou, assinou os papéis e levou você para casa.”.

Por isso, a cada dia, vivendo entre acolhidos, e como pai, percebo o quão grande é o amor de Deus quando nos adota como filhos, não quando nascemos, mas quando somos perdoados, dando-nos não apenas uma nova relação, porém uma nova natureza semelhante a dEle.

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