Banidas Manifestações da Presença de Deus


Introdução

Estamos passando por um movimento na Igreja – principalmente no contexto onde estamos inseridos – que muitos estão chamando de avivamento ou pelo menos estão buscando por ele, onde a presença de Deus se torna manifesta. Nesse avivamento a presença de Deus não é apenas reconhecida por causa da Sua onipresença, mas sentida através de Sua glória. E quem sente a experiência da glória de Deus ou, como eles chamam, a “presença manifesta de Deus” não é mais o mesmo, a ponto de sua presença pessoal impactar os corações de incrédulos, curar doenças, expulsar demônios...
Um princípio que podemos notar nos grandes avivamentos da Igreja é a vivificação de algo que estava morto ou sendo mortificado ou não havia nascido ainda na Igreja, seja uma verdade ou uma prática cristãs. Contudo muitos podem confundir avivamento com “ventos de doutrina” e precisamos com os ensinamentos tirados desses avivamentos do passado e da própria Bíblia ter o cuidado de não banir (negligenciar ou esquecer) certas verdades (práticas) de Deus, certas manifestações da presença de Deus. E isto podemos fazer sem intenção, pois o problema não é a intenção é o zelo sem entendimento (Rm 10.2).

“Presença Manifesta de Deus”

Em nosso contexto – João Pessoa na Paraíba – só podemos nos basear em duas fontes de referências para falarmos desse avivamento: David M. Quinlan e Tommy Tenney. Porque exatamente são as principais influências aqui. As idéias de ambos são muito semelhantes e falam sobre o mesmo ponto: o avivamento da Igreja por meio da experiência da “presença manifesta de Deus”.
“A visão que temos de Deus, influencia a nossa atitude e o nosso relacionamento para com Ele, afetando até mesmo a nossa maneira de O adorarmos. Pare e reflita sobre isto. A profundidade do nosso louvor e adoração (imperativos divinos) é inteiramente relativa ao conhecimento que temos de Deus, e este por sua vez, é inteiramente refletido em nossas ações e em nosso comportamento 24 horas por dia” (QUINLAN). Baseado nisto precisamos conhecer qual as características principais desse movimento para assim podermos entender suas práticas e doutrinas e, se possível, fazer críticas ou recomendações. Vejamos:
1. Ênfase na experiência. “Isto é mais do que simples argumentos, teorias ou doutrinas, é experiência” (TENNEY, grifo dele). É mais do que experimentar o reconhecimento da onipresença de Deus, porém experimentar a manifestação da presença de Deus.
2. Uma profunda intimidade ou satisfação com Deus se alcança com essa experiência. “Talvez nossos maus caminhos expliquem o fato de estarmos satisfeitos somente com a proximidade de Deus ao invés de desfrutarmos de Sua presença” (TENNEY).
3. Gera perda ou diminuição, no momento da experiência, de capacidades naturais e até espirituais porque a glória de Deus é manifestada no local. “Não demorou muito para o pastor engatinhasse para fora da sala, dizendo, atordoado: Para mim, isso é glória demais!”; “O resultado final da busca é a glória de Deus. E é ela que permanece, não os dons dos homens, a unção, ministérios, opiniões ou habilidades” (TENNEY). É como se o homem “morresse” mas ainda ficasse vivo – “Existe uma estreita relação entre a glória de Deus e a nossa morte” (TENNEY) – fazendo uma associação da morte de homens se na presença da glória de Deus (Êxodo 33.17, 18, 20, I Reis 8.10,11, Juízes 5.5, Naum 1.5) com morte no Novo Testamento (Romanos 12.1 e I Coríntios 1.29): “No Novo Testamento, morte equivale a arrependimento, quebrantamento e humildade diante de Deus, é disto que estou falando” (TENNEY, grifo dele).
4. A proximidade física dos que experimentam essa experiência será suficiente para converter pecadores. “Quando andarem conosco no shopping, serão convencidas do pecado e correrão para se reconciliarem com Deus, sem que nenhuma palavra seja dita”; “Temos que chegar ao ponto em que o mero reflexo do que houve entre nós conduza os perdidos ao arrependimento e à conversão” (TENNEY). “Não devemos usar palavras persuasivas, e sim a demonstração do poder de Deus. Só o poder de Deus e a atuação constante do Espírito Santo nas vidas dos membros de uma igreja é que irá convencer o mundo de seu pecado levando-o aos pés de Jesus”; “A presença manifesta de Deus é a marca e o sinal distinto que nos diferencia do demais credos. Uma vez que os pecadores notam isto, correm atrás da realidade que todos almejam, a qual é conhecer e servir a um Deus vivo” (QUINLAN).

Experiência e doutrina

Por mais que esses autores não gostem de ênfase em doutrina ou mesmo a idéia de doutrina, quando se faz descrições de uma experiência como sendo verdades bíblicas (aplicáveis em qualquer contexto ou comunidade) está se fazendo doutrina exatamente para se regular ou orientar aquela experiência. A experiência depende da doutrina para ser autêntica ou verdadeira. Há uma diferença entre pregar (ensinar) doutrinas e pregar doutrinalmente. A doutrina deve ser o meio para orientar a prática (pregar doutrinalmente) e não o fim em si. Quando alguns falam pejorativa ou negativamente de doutrina estão falando de “preceitos de homens”: “Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homem” (Mt 15.9). O problema não é a doutrina. Doutrina errada gera experiência falsa! O mesmo princípio se encontra em: “Porque lhes dou testemunho de que têm zelo por Deus, mas não com entendimento. Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à justiça de Deus” (Rm 10.2,3).
O perigo, do qual todo cristão deve ter o cuidado de não cair, é não ser levado por qualquer “vento de doutrina”: “para que não mais sejamos meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina” (Ef 4.14). Vento de doutrina é um movimento ou força temporários para pessoas inconstantes e que por isso podem experimentar momentos de frustração (falso firmamento de alegria) ou confusão. Frustração foi exatamente o que aconteceu com alguns discípulos de Jesus que receberam poder para expulsar demônios num determinada ocasião. Vejamos dois versículos: “Contudo, não vos alegreis porque se vos submetem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus” (Lc 10.20); “E quando entrou em casa, seus discípulos lhe perguntaram à parte: Por que não pudemos nós expulsá-lo? Respondeu-lhes: Esta casta não sai de modo algum, salvo à força de oração e jejum” (Mc 9.28-29). Ora, o poder que os discípulos receberam para expulsar demônios numa determinada região não servia neste último episódio com Jesus. Portanto qualquer poder experimentado por alguém numa região, evento ou experiência não vale para todos os casos com o mesmo efeito, o mesmo procedimento (mesmas emoções ou atitudes) e as mesmas causas.
Esses mesmos erros estão ocorrendo hoje na questão da adoração ou verdadeira adoração. Há uma ênfase no como adorar, em vez de quem adorar: “A adoração é mais importante que a pregação, porque a pregação é para o homem, mas a adoração é para Deus” (TENNEY). Isto é perigoso e falacioso, porque a adoração é em “espírito e em verdade”, isto é, a veracidade (importância?) da adoração depende de a pessoa ser filho de Deus, ter o Espírito de Deus – adoração é algo exclusivo à família de Deus – e depende da verdade a respeito de quem é adorado. Portanto a pregação orienta a pessoa a confirmar se ela tem o direito e privilégio de adorar e informa a quem está adorando. A pregação conduz a adoração. O problema novamente é confundir pregação de doutrinas com pregação doutrinalmente visando à adoração. Quando se começa com o como da adoração, com certeza vamos sair do centro, porque o como começa com o homem, e com seus gostos e preferências, mesmo que diga que não se queira isso. Temos que começar com o quem da adoração, porque a forma como correspondemos a Deus em adoração depende diretamente da maneira como conhecemos ou reconhecermos as verdades a respeito de Deus e sua obra por nós. A pregação tem o seu papel específico, assim como a adoração no culto a Deus, porém ambos são para Deus, tanto o guia como o guiado.
A adoração, assim como a humildade, é antes de qualquer atitude um reconhecimento de Deus. E quando ocorre este reconhecimento a presença de Deus se torna manifesta – não é um mero reconhecimento da onipresença de Deus. Não foi assim com Jó? Ele experimentou a presença de Deus – “Com os ouvidos eu ouvira falar de ti; mas agora te vêem os meus olhos” (42.5) – quando reconheceu uma verdade: incapacidade de conhecer a Deus e o Seu controle sobre todas as coisas ruins e boas plenamente (42.3). Essa manifestação de um aspecto da presença de Deus em Jó produziu crescimento no conhecimento da verdade e humildade (42.6). Quando se redescobre uma verdade ou um aspecto dela a presença de Deus se torna manifesta, mas esta manifestação está sendo banida com esse movimento.

Impacto nos outros

Durante o louvor, a ceia do Senhor, batismo nas águas ou mesmo uma manifestação da ação de Deus sobre uma ou mais pessoas algum incrédulo pode se converter devido a alguma exposição do evangelho. Contudo estamos falando de eventualidade e não de normalidade. Se num louvor um incrédulo ouve o evangelho ou um crente entende uma verdade de Deus que alivia seu coração não quer dizer que evangelizar, entreter ou relaxar seja a função do louvor ou mesmo do culto de adoração devida a Deus. Qual é a recomendação bíblica deixada por Deus para provocarmos impactos na vida dos outros de modo a trazer transformação? Podemos encontrar três: ser sal e luz e fazendo discípulos (Mt 5.13-16; 28.18,19). Ora, para fazermos discípulos é necessário sermos sal e luz (mostrar uma vida de sabor e esperança com Cristo), caso contrário não passa de religiosidade. De fato estas recomendações requerem mais esforço para o homem porque envolve um desenvolvimento de caráter cristão conforme a imagem de Cristo – envolve a mortificação do velho homem – que é duradouro e muitas vezes difícil.

É muito perigoso se confiar em manifestações sobrenaturais – sinais, prodígios e poderes – para converter a vida de outras pessoas, porque tais coisas só trazem alegria, esperança, prazer temporários e não têm poder para salvar o pecador da condenação eterna e nem mesmo garantirem a própria salvação, apesar de poder salvar de coisas efêmeras e terrenas. Ora, a Bíblia nos diz que o poder de Deus para salvação do pecador é o evangelho: “Porque não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16). E nós como sal e luz do mundo somos os instrumentos que levam (fazendo discípulos) o poder de Deus para salvação de pecadores. “Contudo, não vos alegreis porque se vos submetem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus” (Lc 10.20). Pois receber poderes e participar de manifestações sobrenaturais não é garantia de alguma coisa no juízo final (Mt 7.22) e até mesmo para quem recebeu poderes de apostolado como foi o caso de Judas (Mt 10.1).Ênfase em poder é mais cômoda do que ênfase em caráter cristão, porque aquele satisfaz o homem além de trazer mais responsabilidade para Deus e este o humilha.
Não se podem negligenciar recomendações explícitas já deixadas por Deus. A presença de Deus se manifesta na vida de outros quando levamos o evangelho (o poder de Deus para salvação) principalmente com o impacto de nossas vidas. Esta manifestação da presença de Deus infelizmente está sendo banida com este movimento.

Refletindo a glória de Deus

Podemos chegar a um nível tal de intimidade com Deus que a glória de Deus passa a ser “refletida por nós” aonde vamos, semelhante a Moisés no deserto (Ex 34.33-35). Mas de que forma ou em que sentido? Segundo esse movimento ao invés do nosso rosto brilhar, a nossa simples presença pessoal já traz a glória de Deus, e seria suficiente para incomodar endemoninhados, curar pessoas, fazer com que ímpios se sintam tocados ou convertidos, fazer com que pessoas sejam cheias do Espírito e caiam...
A passagem de II Co 3.7-18 nos dar as respostas para compreendermos essas questões.
“E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória, a ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda que desvanecente, como não será de maior glória o ministério do Espírito!” (7-8). Isto explica o fato, registrado no Antigo Testamento, de alguns poderem morrer na presença da glória ou face de Deus, porque simbolizada o “ministério da morte” (antiga aliança) em que tudo o que podia fazer era diagnosticar a doença do pecado e condenava aqueles que deixaram de cumprir suas exigências. Ora, justificar um pecador é maior do que condená-lo, porque “se o ministério da condenação foi glória, em muito maior proporção será glorioso o ministério da justiça” (3.9) e nova aliança é permanente, ao contrário da outra, porquanto “na verdade, o que, outrora, foi glorificado, neste respeito, já não resplandece, diante da atual sobreexcelente glória. Porque, se o que se desvanecia teve sua glória, muito mais glória tem o que é permanente” (3.10,11).
“E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito” (18). Podemos notar que podemos contemplar a glória e a face do Senhor hoje não num sentido físico com efeitos sentidos apenas pela nossa presença pessoal, contudo pelo nosso caráter, por causa de Cristo, é que temos cada vez mais intimidade com Deus. A medida que nos tornamos mais conforme a imagem de Cristo nos tornamos mais íntimos de Deus. Esta é a medida de intimidade do Senhor. Esta manifestação da glória de Deus está sendo banida com esse movimento. Isto nos ensina que a idéia de perder capacidades naturais e até espirituais na presença da glória de Deus hoje é ignorar o sentido da nova aliança!
Se viver uma “experiência de poder” ou refletir poder – no sentido que esse movimento requer – é mostrar profunda intimidade com o Senhor então Judas, o traidor, também seria muito íntimo de Deus, pois havia experimentado momentos de poder com Jesus e recebido poder para expulsar demônios e curar enfermos!

Experiências do passado

A atitude de ignorar as experiências do passado da Igreja tem a mesma ofensa na negligência da própria Bíblia, porque essas experiências deviam nos tornar mais maduros quanto a novos acontecimentos ou movimentos, contudo quando ignoramos o aprendizado dos avivamentos do passado na Igreja e descritos na Bíblia, velhos problemas sempre aparecem com novas roupagens e os “ventos de doutrina” imperam em nosso meio, no fim das contas acaba se negando, esquecendo, ignorando ou banindo – sem intenção e não é isto que estamos discutindo – verdades de Deus, descritas na Bíblia.
Qual a lição que os grandes avivamentos do passado nos deixam? Deveríamos antes de qualquer afirmação sobre um movimento olhar para o passado. Este tipo de movimento hoje primeiro não se assemelha aos avivamentos do passado em princípio como o de Pentecostes com os apóstolos, o da Idade Média com a Reforma Protestante, o que ocorreu com Jonathan Edwards com os norte-americanos e logo em seguida com Wesley e Whitefield em parte da Europa. “O encobrimento e a negligência de certas verdades, e de certos aspectos da verdade cristã, sempre tem sido a principal característica de cada período de decadência na longa história da Igreja Cristã. [...] Meu último princípio relativo a este ponto é que, sem exceção, é a redescoberta dessas doutrinas cardeias que sempre tem levado ao avivamento. Um avivamento sempre tem um preliminar” (LLOYD-JONES).
No Pentecostes (Atos 2) houve um impacto inicial aos que estavam próximos dos que ficaram cheios do Espírito Santo (v. 4), contudo ainda não foi um impacto de modo a levar a Deus (v. 6, 7) tanto que até uns zombaram (v. 13). E em seguida Pedro (sem perder ou enfraquecer em nenhuma capacidade natural ou espiritual) pregou a Cristo crucificado (v. 14-36). E só depois de muita pregação, com “muitas outras palavras”, é que houve arrependimento ou aceitação (v. 41) e contrição do coração (v. 37). E os frutos foram perseverança em doutrina, cidadania e orações (v. 42), crescimento de caráter e manifestação de dons (v. 43) e, enfim, avivamento (v. 44-47). Aliás, a manifestação dos dons teve como finalidade auxiliar a pregação de Pedro, porque era uma local de passagem de pessoas de línguas diferentes (v. 8-12). Diferente de hoje em que apenas a presença pessoal dos que estão “cheios do Espírito Santo” – no sentido de manifestar poder – é suficiente para trazer transformações.
Sobre a Reforma bastam tais palavras: “Foi somente depois que Martinho Lutero subitamente descobriu a grande verdade da justificação unicamente pela fé que o avivamento protestante irrompeu. Foi o retorno a essa verdade, na Epístola aos Gálatas e aos Romanos, que preparou o caminho para o derramamento do Espírito” (LLOYD-JONES).
O grande despertamento religioso nos Estados Unidos da América com Jonathan Edwards teve como principal sermão “Pecadores nas mãos de um Deus irado”, mas a ênfase maior dos seus escritos e sermões não estava na ira de Deus, e sim na sua majestade, glória e graça.
“A famosa conversa, na viagem entre Londres e Oxford, entre Peter Bülow e Wesley, foi toda a respeito da justificação somente pela fé. Foi somente depois que Wesley compreendeu esta verdade, e ela o absorveu completamente, que o Espírito Santo veio sobre ele e começou a usá-lo. [...] a mesma coisa já tinha acontecido, de certa forma, com Whitfield” (LLOYD-JONES).

Arrogância na presença de Deus

Existe uma paz que é maior do que a produzida por qualquer experiência: “Justificados, pois, pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1). Esta paz eterna, por meio da justificação pela fé, devia nos produzir uma alegria que é maior do que a produzida por qualquer experiência: “Contudo, não vos alegreis porque se vos submetem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus” (Lc 10.20). Bastasse isso para que tirássemos a intenção ou expectativa em procurar se satisfazer com qualquer experiência, principalmente se for um momento de adoração ou louvor.
Deus se torna manifesto ao homem tanto quanto este reconhece a presença dEle em cada aspecto de sua salvação. Ora, Cristo Jesus é a semente incorruptível para gerar os novos salvos (I Pe 1.23-25), o caminho para Deus (Jo 14.6), a verdade em qual o pecador deve crer para ser salvo (Jo 3.35,36), a imagem pela qual os salvos são transformados (Cl 3.10), o sustento dos salvos (Hb 12.2; Jd 1) e o gerador dos frutos de justiça para a glória e louvor de Deus (Fp 1.11).
A grande lição do avivamento da Reforma sobre a justificação somente pela fé devia nos trazer a maturidade quanto a camuflagens de aceitação do favor de Deus pelas obras, isto é, idéias de que o esforço humano pode adquirir algum favor ou aceitação da parte de Deus como foi o caso das indulgências – um sacrifício humano seria suficiente para adquirir o perdão ou agradar a Deus. 
No meio evangélico as indulgências agora são camufladas pelo coração, pelo arrependimento, pelas emoções ou por quebrantamentos, para não pensarem que são como as boas obras do catolicismo (caridade ou santidade). A base destas práticas é: “O sacrifício aceitável a Deus é o espírito quebrantado; ao coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus” (Sl 51.17). Contudo este texto está ressaltando que um sacrifício de expiação de pecados (Sl 51.16) só é válido se acompanhado de uma mudança interior (Sl 51.19). Mas o que tornou esta mudança possível? 
Lendo apenas o versículo 17 podemos concluir realmente o quebrantar faz Deus mover Seu favor por nós e se agradar de nossa atitude, entretanto isto é um engano ou precipitação quando não se leva em consideração o contexto do Novo Testamento. Ora, Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (I Co 1.30). Jesus já cumpriu tudo aquilo que Deus requer de nós, seja em morte (redenção) ou em vida (santidade, sabedoria e justiça) e de forma perfeita. Geralmente apenas enfatizamos a morte de Cristo em nosso lugar, em vez de também colocarmos a vida de Cristo em nosso lugar.
Nada que façamos irá agradar mais ou menos a Deus, porque o favor de Deus é pela graça. Não é por causa da força, pureza, sinceridade ou qualquer qualidade na nossa fé, em nosso arrependimento (quebrantamento) ou em nosso clamor que o pecador (mesmo justificado) vai agradar ou encontrar aceitação de Deus, pois é por causa da graça por meio da pessoa de Cristo que somos aceitos ou agradáveis a Deus. Ora, se busca santidade mesmo sem alcançar a perfeição (critério de aceitação de Deus), logo buscamos ser agradáveis a Deus mesmo sem conseguir: “Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas vou prosseguindo [...] Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante [...]” (Fp 3.12-16). 
Por isso é que a nossa fé é meramente um instrumento e não tem valor em si, respectivamente um vaso vazio e de barro, como bem expresso em 2 Co 4.7: “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós”. Por isso a idéia de que só “se consegue a presença de Deus uma vez que pagamos o preço de termos um coração puro e mãos limpas” (QUINLAN) acaba por banir a própria idéia de graça ou a glória da pessoa de Jesus Cristo nessa “presença manifesta de Deus”. Tudo que fazemos ou deixamos de fazer é para a glória de Deus somente, portanto devemos buscar entendimento em nosso zelo.

Uma adoração ao Senhor

Abaixo registro a minha adoração ao Senhor e intitulo de “Mãos da Graça”:
Senhor, em teu altar estou.
Mas nada tenho para te oferecer.
Minhas mãos estão vazias.
Miserável homem que sou.
Senhor, em teu altar estou.
Mas agora venho te oferecer.
Não pelas minhas mãos.
Gracioso é o Senhor.
E em teu altar, Senhor.
Agradeço pela tua Oferta.
Eternamente Jesus Cristo.

Conclusão

Podemos notar com a Bíblia e as experiências passadas de avivamento da Igreja que outros aspectos mais importantes da presença manifesta de Deus estão sendo banidos com este novo movimento. Se for de Deus ou não o que cada um está experimentando não me atrevo a dizer, portanto não estamos afirmando ser mais um vento de doutrina, contudo experiência pessoal é inquestionável, mas não posso deixar de falar da negligência de certas verdades bíblicas e históricas essenciais para a glória de Deus e saúde espiritual do homem.
Estamos vivendo uma era de pluralidade de “verdades”, de misticismo cristão e as divisões são cada vez maiores dentro da Igreja e, por isso, corremos o risco em se esconder atrás de experiências sobrenaturais para confirmamos a veracidade, intimidade ou saúde de nossa fé.

Referências

1. QUINLAN, David M. A manifesta presença de Deus. Artigo eletrônico da Internet. http://www.fogoegloria.com.br.
2. TENNEY, Tommy. Caçadores de Deus. Pg. 53-56, 66-71, 73-81.
3. LLOYD-JONES, D. M. Avivamento. Pg. 37, 39, 40.
4. FISHER, Gary. A Glória do Senhor na Face do Discípulo. Artigo eletrônico da Internet. http://www.estudosdabiblia.net.
5. SPROUL, R.C. MARCARTHUR, John Jr. BEEKE, Joel. GERSTNER, John. ARMSTRONG, John. A Marca da Vitalidade Espiritual da Igreja: Justificação Pela Fé Somente. Cultura Cristã.
6. OWENS, Ron. A Quem Devemos Agradar? Artigo eletrônico da Internet. http://www.revistaimpacto.com/arauto/an19n3/an19n3b.htm.

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