A Oferta do Pobre Trabalhador



Quem já se sentiu julgado injustamente por baixo compromisso quando na verdade o sacrifício foi exatamente o contrário do que pensaram?

Certa vez, após o culto numa igreja evangélica, uma jovem foi questionada pela sua frequencia. Seus irmãos na fé entendiam que ela participava pouco das atividades da comunidade, por essa razão a julgavam uma cristã de fé vazia.

Anos atrás, trabalhando numa empresa, sempre ficando uma hora mais tarde, uma gerente, durante uma reunião, confessou que aquilo traria ótimos retornos por "tamanho compromisso". Por outro lado, gerou também a desconfiança e antipatia de alguns colegas de trabalho que, segundo a empresa, não tinham o "mesmo compromisso".

Tudo isso, no entanto, é semelhante ao que aconteceu com a oferta da pobre viúva: 
"E viu também uma pobre viúva lançar ali duas pequenas moedas". 
Ela foi julgada pela quantidade de moedas ofertadas, porém ninguém ali sabia que aquelas eram suas únicas moedas.


Aquela jovem cristã tinha dificuldades de ir até a igreja porque precisava cuidar dos avós doentes em casa e só saía se algum vizinho ficasse para cuidar. Toda vez que saía se sentia mal pelo trabalho causado a outras pessoas.

E não era exatamente por compromisso, mas comodidade, que ficava horas mais tarde naquela empresa, pois tudo aquilo era mais uma oportunidade para acumular experiência. Não tinha filho e esposa para cuidar e usufruir depois do trabalho.

O sacrifício a uma empresa dado pelos donos é semelhante ao dado a um pai pelo seu filho ou do marido a sua esposa. É tanto o dever como a paixão de cuidar de algo só seu, que você conhece bem, do qual se dedica tanto. Por outro lado, se o esforço do empregado não é o mesmo, não implica ser indiferente, contudo diferente.

As pessoas às vezes esquecem um pouco da história dos trabalhadores, do quanto foi necessário para criar leis de proteção (como a CLT) de modo a manter uma qualidade de vida (saúde ocupacional) mínima, limitando ao máximo a quantidade de horas por dia, de dias por semana e de meses por ano. 

Certa vez um professor de ergonomia experimentou passar um dia trabalhando nos canaviais para entender melhor esse tipo de trabalho. Ele então concluiu que não era humano: "não deveria ser conduzido por pessoas, mas apenas por máquinas", pois o desastre físico e mental era tão grande que não compensava diante do dinheiro retornado. Ele então ligou essa experiência ao mal do excesso de trabalho dizendo: "são horas que não voltam mais; você vendeu parte de sua saúde também para depois tratá-la, quando é reversível".

Logo, o pagamento das horas extras não são um bônus, todavia uma multa. Elas devem ser uma exceção e não normalidade, por uma razão simples: precisamos preservar uma família, uma humanidade sadia, uma saúde equilibrada. Na verdade, ao final do dia, você normalmente já chega cansado e no fim de semana a disposição também não é mesma, por isso existem férias!

Aliás, dentro da indústria de software, a metodologia de desenvolvimento de software, conhecida como XP, possui uma prática denominada "Semana de 40 Horas", indicando que horas extras por mais de uma semana são o sintoma de um problema sério no projeto. Seu autor, Kent Beck, comenta:
"Mas ninguém consegue agüentar 60 horas por semana durante muitas semanas, e ainda estar disposto, criativo, cuidadoso e confiante. Não fala isso.”
É importante, nesse sentido, a empresa possuir uma estrutura adequada de avaliação de desempenho, não baseada em impressões pessoais (como se essas horas a mais fizessem realmente a diferença!), porém nas competências de seus talentos, refletidas na qualidade de seu trabalho contínuo e ordinário, inclusive prevendo problemas futuros.

Stephen Robbins, em seu livro Comportamento Organizacional, cita práticas como redução de horário de trabalho diário para 6h como alternativas pela melhoria da motivação, satisfação e inclusive da produtividade.

Portanto, um trabalhador, cuja parte de seu plano de vida é construir e manter uma família feliz e amada, quando faz horas extras, não está assumindo (mais) compromisso, porém ofertando ali "duas pequenas moedas".

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