Afinal, o que é mito? Alguns apontamentos.


Novamente, para posterior reflexão, seguem alguns apontamentos sobre o conhecimento mítico, principalmente após o contato com uma explanação confusa de sua diferença com o conhecimento filosófico.

1. Parece haver uma tentativa comum em identificar o mito sempre como reflexo de determinados grupos religiosos (especialmente os cristãos) ou de uma fase primitiva da humanidade.

2. No século XVII, para os vários biólogos, questionar a teoria da abiogênese era o mesmo que "questionar a razão, senso e experiência". Assim era popular e científico acreditar na "geração espontânea de diversos animais, como sapos, ratos, enguias e tartarugas, a partir de fontes como água, ar, madeira podre, palha, entre outras" (Wikipedia).

3. Anthony Hoekema, um dos maiores contribuintes da antropologia teológica protestante, a respeito da narração da criação do homem a partir do barro, em sua obra "A Bíblia e o Futuro", afirma que não é necessário supor que o homem foi formado como uma espécie de boneco de barro, mas de substâncias similares às encontradas na terra.

4. Battista Mondin, na introdução de sua obra "Curso de Filosofia - Volume 1", coloca o mito (na verdade, o "mito-verdade") como "uma representação fantasiosa que pretende exprimir uma verdade" (pretensão teórica), "a fim de dar interpretação e explicação aos fenômenos da natureza e da vida".

5. Segundo Augustus Nicodemus, os autores bíblicos faziam uso de antropomorfismos dentro de uma linguagem de acomodação, do qual esses autores se expressavam “nos termos e dentro do conhecimento disponível naquela época, acomodando a verdade revelada em termos do que sabiam do mundo”.

6. A tal fase "primitiva" da humanidade parece ser relativa, ao contexto em que vivemos. Na verdade, isso tem haver com o mundo em que vivemos, "que não é o da pura ciência; em um mundo que não é um jogo, mas que nem por isso está submetido ao cego acaso. (...) onde a previsão é mais ou menos provável, onde a decisão é mais ou menos justa. (..) onde, embora possamos “refutar no real”, com uma certeza demonstrativa, devemos nos contentar com provais mais ou menos convincentes, com opções mais ou menos razoáveis". Um mundo "em que a verdade não é dada e talvez jamais seja alcançada senão sob a forma de verossimilhança", "enquanto não tivermos chegado à ciência total" (Olivier Reboul, em sua obra Introdução à Retórica).

7. Uma leitura de obras em Filosofia da Ciência, especialmente da Biologia, parece ser uma boa ferramenta (atualizada) para detectar muitos mitos nas ciências. A forma, por exemplo, como cientistas atualmente apelam para o acaso parece repetir os mesmos erros do passado, quando tudo era animado por deuses.

8. O mito, assim, sempre nos parece lembrar de nossa finitude, e os desavisados acabam excluindo o todo (ou a si mesmos) por causa de uma parte provisória (!).

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