Apontamentos sobre tolerância e aceitação



1. Parece haver uma desvalorização quanto à tolerância, como se fosse um mal a ser combatido, para se alcançar uma certa igualdade, religiosa, por exemplo.

2. A intolerância é não suportar a presença do outro, ou pior, a convivência, por algum valor divergente. É uma tristeza, inicialmente intelectual, manifestada, por fim, socialmente. É uma triste honestidade, mas verdadeira, mesmo na maior simplicidade em não saber lidar com a presença do outro. A distância parece ser um bom contorno, não uma solução definitiva. O ideal talvez fosse não haver divergência... E quando o mundo deixará de ter novidades, logo diferenças?

3. A tolerância, por sua vez, é suportar a presença do outro, por causa de um valor maior que a divergência de valores. É um tipo de amor, a um bem maior, não ao suportado, contudo um refreio de um mal interior (intelectual), em nome de uma paz exterior, uma paz social, a coletividade. Em um mundo de novidades não seria melhor assim? Uma virtude da coletividade, para sobrevivência, ou melhor, busca do ideal de todos conhecerem suas diferenças individuais, se possível?

4. Ora, a tolerância pode ser um caminho para a aceitação. Como um caminho, logo envolvendo ação, ou melhor, convivência, ensina de forma bem mais efetiva sobre o outro, que é suportado, porém aproximando, não afastando. Como conciliar a convivência de um pai que não aceita a decisão do filho quanto a uma carreira profissional? Ou como um filho pode conviver com um pai, discordando da decisão dele em não mais ser o marido de sua mãe? Obrigá-los a aceitar? Aceitar sem entender? Entender sem esforço para aprender? Esforço sem disponibilidade de tempo ou educação? Hipocrisia, na certa, ou o mais indiferente pragmático.

5. O demagogo é o político que promete, mesmo com maior zelo, o inviável que não entende, ou pior, não busca entender, para evitar a verdade do mundo: cheio de novidades, tristezas ou alegrias, fora de seu controle. Não é difícil, dessa forma, encontrar publicitários da igualdade intolerantes aos tolerantes. Eles não suportam os que não querem a aceitação de seus valores de que todos são iguais, em determinado contexto.

6. O socialismo apresentada um passo intermediário, do controle estatal, para se chegar ao comunismo, porém este não aceitava a tese daquele, e buscava uma mudança radical sem intermediários. O intolerante da aceitação também não aceita um passo intermediário: a tolerância como um caminho possível para a aceitação. A imposição é o único caminho possível ao ignorante das diferenças, que só alcança, no entanto, o social, nunca o mental, em condições humanas normais.

7. Nem toda diferença é uma verdade objetiva, mas subjetiva, passível de uma reconstrução de valores, entretanto a força nunca mudou o pensamento de ninguém, exceto a sua moral. Ninguém nunca saberá plenamente se o maior defensor da igualdade, no fundo, não passa de um hipócrita.

8. É preciso valorizar a tolerância, como uma virtude de todos, da verdade do mundo em que sempre viveremos, para não perdemos de vista o progresso humano, alcançado com o sangue do passado. Ser verdadeiro consigo e com o outro, sem falsa aceitação, sem falsa humildade.

9. Nem toda diferença é real em seu fundamento, mas o diálogo com convivência nem sempre encontra convergências. Às vezes, há diferenças essenciais e não há outro caminho, exceto o da tolerância, do amor maior ao bem comum.

Esses apontamentos foram apenas um registro da organização de um pensamento sobre um assunto, sem nenhuma pesquisa a respeito de cada conceito citado.

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