Amor Santo
Existem basicamente duas concepções a respeito da pessoa de Jesus quanto à finalidade de seu sacrifício:
- Ser um exemplo, guia, modelo, inspiração, catalisador de expiação pessoal;
- Ser expiação vicária.
A primeira é mais comum entre religiões de origem oriental ou de tradição não-cristã. A segunda é de origem judaica-cristã.
O ponto é saber qual a implicação de cada uma, não para saber quem está certo ou errado, mas pelo menos para compreender as diferenças.
Expiação é o pagamento de crimes ou pecados cometidos. O termo "pessoal" significa que quem cometeu o pecado pagará por ele inevitavelmente. E o termo "vicário" significa substituto, quer dizer, outro paga pelo pecado de quem o cometeu.
Pode parecer incomum o termo "vicário" mas expiação pertence a um contexto jurídico, onde é permitido a imputação da culpa dos pecados a quem não os cometeu por meio de delegação. Por exemplo, um gerente delega uma função para seu subordinado. O mérito ou ônus do resultado será dado (imputado) ao responsável da função perante o superior do gerente, que é o próprio gerente e não quem a executou. Isto já é comum do dia-a-dia e utilizado em várias relações humanas, inclusive de julgamento de ações.
A primeira crença (do exemplo moral) é fundamentada nos seguintes pontos:
- Crença na existência de uma lei universal de retribuição moral - semelhante a uma lei natural de causa e efeito. Isto é, toda boa conduta produz bons resultados e toda má conduta maus resultados. Inclusive com reforço na interpretação de textos bíblicos como “colha o que você semeou” (Gálatas 6.7).
- O preceito de justiça: inocente não pode ser punido por pecados que não cometeu. Também com reforço bíblico como o texto de Ezequiel 18.20: "A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai, a iniqüidade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a perversidade do perverso cairá sobre este.".
No entanto, a segunda crença (expiação vicária) é apoiada no seguinte:
- A crença num princípio geral de causa e efeito moral. Esta diferencia daquela (lei universal de retribuição moral), porque não é uma lei inquebrável ou absoluta, porém um recurso de coerção. Ela serve para pressionar as pessoas a não cometerem injustiças, por isso textos bíblicos como “olho por olho” (Êxodo 21.26,27) e “colha o que você semeou” (Gálatas 6.7).
- A crença numa hierarquia de mandamentos morais. Com base nela, Deus dispensaria a pessoa do dever de guardar uma lei moral menor, desde que tal pessoa não a pudesse guardar, sem com isso quebrar uma lei maior. Ora, um soldado que se deita sobre uma granada para restringir o impacto sobre o pelotão ao redor não será culpado de suicídio, entretanto admirado pelo seu sacrifício.
Com relação ao segundo ponto, são usados dois textos bíblicos com mandamentos conflitantes:
- O inocente não pode ser punido por pecados que não cometeu (Ezequiel 18.20).
- A pessoa deve salvar os outros ao ponto do auto-sacrifício (Marcos 10.45; João 15.13).
Inclusive, Paulo chegou a dizer: “pois, se a justiça é mediante a lei, segue-se que morreu Cristo em vão” (Gálatas 2.21). Quer dizer, se não é mediante uma expiação pessoal, para os cristãos, sua fé é vã.
Entretanto este sacrifício de Jesus não implica:
- Num amor sentimental que arbitrariamente desconsidera a justiça, como ocorre comumente. Porque o ato significou tanto o pagamento de pecados (justiça), como o recebimento de perdão (amor): amor santo.
- Numa diminuição de seu exemplo moral grandioso de amor para com a humanidade.
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