Casos e lições da Graça

O legalismo dentro da igreja é um dos maiores inimigos da Graça, isto é, de seu conhecimento e de sua prática visíveis aos que carecem da mesma. Uma concepção e prática equilibradas são então necessárias principalmente em atividades públicas da igreja, como o culto (público). Neste caso muitas vezes o cristão se encontra num dilema devido a regras de reverência em atos públicos como o culto que podem limitar a sua liberdade no contexto da graça.


Uma diretriz bíblica que exalta a graça*

Libertar os outros significa que jamais podemos assumir uma posição para a qual não estamos qualificados. Isto, numa sentença, basta para impedir que qualquer pessoa julgue outra. Não estamos qualificados. Falta-nos o conhecimento total. Quantas vezes nos precipitamos a tirar conclusões erradas, fazendo declarações críticas, só para descobrir mais tarde nosso erro... e até desejar ter mordido a língua.

O que nos impede de sermos qualificados para julgar
  • Não conhecemos todos os fatos.
  • Somos incapazes de descobrir os motivos.
  • É impossível sermos completamente objetivos.
  • Falta-nos o “quadro total”.
  • Temos pontos cegos.
  • Somos preconceituosos e nossa perspectiva está embaciada.
  • Acima de tudo, nós próprios somos imperfeitos e inconsistentes.
Jamais esquecerei o que me aconteceu há vários anos mostrando como eu podia enganar-me em meu julgamento de outro. Eu estava falando numa conferência bíblica de verão durante uma semana. Um casal que eu não conhecia se achava presente na conferência. Nós tivemos um breve encontro na primeira noite. Ambos eram amáveis e pareciam especialmente satisfeitos em está ali. Comecei a notar no correr da semana que o homem dormia durante cada uma das reuniões. Afirmo que em cada uma delas! E isso geralmente não me aborrece... Eu muitas vezes falo durante o sono de outros! Mas dessa vez, por alguma razão estranha aquele atitude começou a me amolar. Na quarta-feira já me sentia irritado. Como mencionei, isso me aconteceu inúmeras vezes... Mas aquele homem adormecia 10 minutos depois que eu começava a falar. Não fazia diferença se a palestra era de manhã ou à noite – ele dormia. No último encontro na noite de sexta-feira (durante o qual ele dormiu, é claro) eu ficara convencido de que era ela que queria está ali e não o marido. Tirei a conclusão de que ele era uma pessoa que falava de um modo mais vivia de outro. “Provavelmente um cristão carnal”, eu pensei.

Ela ficou depois que a multidão e o marido haviam ido embora. Perguntou se podia falar alguns minutos comigo. Fiquei imaginando que iria contar como se sentia feliz casada com um homem que não tinha mesmo interesse em coisas espirituais que ela. Como eu estava errado! Ela disse que compareceram ao encontro com a insistência dele. Esse fora o seu “último desejo”. Não entendi, e ela então informou que ele tinha câncer terminal e apenas algumas semanas de vida. A pedido dele foram à conferência em que eu deveria falar, embora os remédios que tomava para aliviar a dor o tornasse sonolento – algo que muito me embaraçava. “Ele ama o Senhor”, disse ela, “e você é seu professor de Bíblia favorito. Ele queria está aqui para conhecê-lo e ouvi-lo, sem levar em conta a circunstâncias”. Fiquei sinceramente espantado. Ela me agradeceu pela semana e partiu. Eu havia julgado meu irmão e estava mais errado do que nunca.

Uma característica do despertar da graça**

Onde abunda a graça você não vai encontrar generosidade com os bens pessoais, mas também encorajamento em circunstâncias estranhas. A graça nos mantém flexíveis, dispostos a nos adaptar.

Um jovem entrou em nossa igreja certa noite de domingo. Ele ficou espantado ao ver um prédio cheio de pessoas cantando e se alegrando juntas. Ali estava ele, descalço, sem camisa, barbudo... sozinho. Fiquei olhando da plataforma enquanto ele examinava tudo com os olhos admirados. Descobrimos mais tarde que aquela fora a primeira vez em que ele entrara numa igreja, em meio à congregação. Ele andou pelo corredor, olhando para nós como uma rês olha para um portão novo. Um dos membros convidou-o para sentar perto dele, dividiu o seu hinário e respondeu às suas perguntas. Foi maravilhoso ver tanta graça em ação. Eu apreciei muitíssimo!


Terminada a reunião noturna específica, o jovem apresentou-se na frente para conversar. Ele tinha muitas outras perguntas, todas elas excelentes. Notei que havia areia grudada nos pêlos das suas pernas. Tinha acabado de sair da praia. Foi tratado com bondade e respeito. Ninguém lhe disse o que “devia” usar ou como “devia” agir. Alguns rapazes o convidaram a tomar uma Coca-Cola e comer um hambúrguer com eles. Ele ficou surpreso e aceitou. Não nos admiramos em vê-lo de volta no domingo seguinte. E no outro também. Dentro de poucas semanas ele se tornou cristão, contando como o nosso amor e aceitação o haviam conquistado. Testemunhou publicamente sua fé em Cristo ao ser batizado. O contexto da graça lhe deu espaço para crescer, pensar, ser ele mesmo, fazer perguntas. Esse jovem mais tarde terminou a universidade, freqüentou e se formou no seminário e está agora no ministério. Ele até usa sapatos hoje.

Considerações finais

O problema não são as regras. Às vezes são necessárias para deixar claro o que se quiser dizer. Porém deixemos claro o propósito e/ou o contexto dessas regras – em sua maioria de aplicação local ou ocasional – para não generalizarmos e por fim ensejarmos a liberdade no contexto da graça.

Nem sempre as atividades públicas da igreja saem como queremos e nesse momento precisamos está sensíveis e equilibrados para “quebrar” regras e manifestar a graça de Deus.

* Todo texto contido neste tópico foi extraído de “O Despertar da Graça” de Charles R. Swindoll, pg. 129, 130.
** idem, pg. 169, 171.

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