"Isto vos escandaliza?"

"Muitos de seus discípulos, ouvindo isto, disseram: Duro é este discurso, quem o pode ouvir? Compreendendo que seus discípulos murmuravam a respeito disto, Jesus lhes disse: Isto vos escandaliza?" (João 6:60,61).

Outra coisa que não consta num "guia prático de virtudes e pecados" (ver "A Praga do Legalismo"*), acredito ser a dificuldade em separar escândalo legítimo do ilegítimo ou diferenciar discordância de fraqueza.

Diante de um sermão que acreditamos ter pontos divergentes da própria Bíblia podemos nos "escandalizar". Podemos ter normalmente um ato de discordância - com certa surpresa, já que um pregador deveria zelar pelo entendimento correto das Escrituras. Da mesma forma pode ocorrer com a prática de um determinado líder - este acreditando ser correta - mas pensamos ser de encontro com a moralidade cristã. Logo, casos legítimos num contexto de liberdade de pensamento: cada um defende aquilo que acredita ser verdadeiro biblicamente.

É comum, então, no meio evangélico as pessoas se escandalizarem - faz parte da dinâmica do crescimento mútuo no conhecimento da graça. O problema é o uso indevido deste escândalo. Isto porque líderes ou pessoas formadoras de opinião do meio podem sofrer muito com a indevida atitude do escândalo por parte de outros. Muitas pessoas "escandalizadas" passam a "exigir" - tomando como base a condenação de Paulo aos "fortes"de Coríntios (ver I Coríntios 8) - que se não puder deixar a prática (ensino) geradora do escândalo, pelo menos limite a sua liberdade diante dos "fracos". Muitas vezes não dá nem para limitar a liberdade. Ela é "castrada".

Certa vez conversando com um amigo, Hunter, sobre o "irmão fraco" finalmente consegui entender a diferença - pelo menos melhor do que antes.

Vou colocar dois casos:

1. Uma mulher tem dúvidas se usar batom é pecado ou não.

2. Uma mulher não concorda com o uso de batom pois acredita ser pecado de vaidade.

Podemos substituir o batom por vários outros casos: usar bermuda, jogar futebol, ouvir músicas seculares, ler livros seculares, ir para a praia, tomar um copo de vinho (cerveja), evangelizar na multidão do carnaval, ter amigos não-crentes, dançar um forró, desenhar um pentagrama, falar "oi" em vez da "paz do Senhor", ensinar teologia na EBD, falar sobre predestinação ou eleição, questionar, cantar numa banda secular...

O que fazer?

No primeiro caso podemos ou aconselhar a "irmã fraca" orientando sobre o assunto; ou passar a não usar batom em sua frente - o que pode gerar desconfortos ou mal entendimentos para ambas. De qualquer forma o importante é não gerar ativamente na pessoa o pecado.

No segundo caso não se trata do "irmão fraco" (como de Coríntios) mas de uma irmã que apenas discorda. Ela não se vê na possibilidade de fazer algo que já discorda. Pode vir a fazer mas aí já será para pecar pois "uma mulher que é disciplinada a crer que usar batom é pecado pode chegar a pecar um dia se usar o batom, porque cometeu um ato que acreditava ser mau." (ver "A Praga do Legalismo").

Mas a outra, a "irmã fraca", pode ter um prejuízo maior ainda: espiritual e mentalmente. Já que não sabe se deve ou se arrepender ou continuar o seu caminho. E o pecado pode lhe consumir a alma silenciosamente.

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