De nada adianta a liberdade se não temos a liberdade de errar?


"De nada adianta a liberdade se não temos a liberdade de errar" (Gandhi). Porque de nada adianta a liberdade de errar se já temos o conhecimento do erro.

Ora, porque alguém gostaria de fazer algo errado sabendo do mau desse erro? Só faria então por dois motivos: ou porque sua natureza (mente, coração e/ou vontade) é má ou porque desconhece que erro é de fato um erro.

Se tivéssemos o conhecimento do erro e a impossibilidade de errar não haveria a necessidade da liberdade de errar. Teríamos então uma liberdade perfeita onde haveria uma natureza (mente, coração e vontade) voltada a não errar.

A liberdade que hoje vivemos é verdadeira (porque vivenciamos o que é falso e verdadeiro) contudo não perfeita (porque não temos garantia de vivermos apenas o verdadeiro).

A liberdade perfeita não pode ser alcançada gradualmente com a mesma natureza que tem a liberdade verdadeira. Não pode existir a noção de aos poucos cada vez mais perfeito. Na verdade você pode experimentar cada vez menos situações de erro (e chamar isso de cada vez "mais perfeito"), mas nunca deixará de ser garantia de novamente não cometer um novo erro. Por isso a perfeição só poderá vir com uma nova natureza.

Perfeição é algo essencialmente absoluto (não muda). O que é perfeito é perfeito porque é impossível se tornar imperfeito.

Se a humanidade chegar a uma fase de perfeição (seja aqui ou em outro mundo) então essa liberdade verdadeira que vivemos é temporária porque nunca poderá se tornar perfeita. Contudo falei da liberdade perfeita para o bem, mas pode sim existir para o mal. Exemplo: no cristianismo os anjos eleitos apresentam liberdade perfeita benéfica e os demônios eram anjos com liberdade verdadeira e passaram a ter liberdade perfeita maléfica.

A liberdade verdadeira nos coloca numa prisão sem esperança, porque não podemos sair de uma situação onde a eminência de errar é possível, logo sempre estaremos nos prejudicando ou prejudicando alguém mais cedo ou mais tarde! Mais um motivo de a liberdade verdadeira ser temporário!

Mas apesar de a liberdade verdadeira precisar ser temporária, ela precisa vir a existir se quisermos realmente dar valor ou ter conhecimento da razão de uma liberdade perfeita. Ela então se torna um mal necessário para nós! Esta liberdade verdadeira chega próximo do entendimento popular de "livre-arbítrio".

Apontamentos gerados a partir do conceito de liberdade em Agostinho.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Leituras: Psicologia Cognitiva - Robert J. Sternberg

Ἐν ἀρχῇ ἦν ὁ Λόγος, καὶ ὁ Λόγος ἦν πρὸς τὸν Θεόν, καὶ Θεὸς ἦν ὁ Λόγος. (Como Deus e não Deus?)

Tradução e comentários de Lucas 20:34-38 - os filhos deste e daquele mundo