Implicação da Cruz: Segurança Eterna


Certamente todo crente reconheceria que toda a glória da salvação do pecador pertence a Deus. Mas isto normalmente fica na intenção, na prática ocorre diferente quando avaliamos as causas e conseqüências de seus pensamentos. Ora, nenhum crente deve se vangloriar na presença de Deus (I Coríntios 1.29), mas as implicações de seu pensamento ou prática podem levar a isso. Devemos está sempre nos policiando de nossos próprios pensamentos e caminhos.

O crente perde ou não a salvação? Esta é um pergunta antiga, que para alguns é um assunto polêmico e já para outros é secundário. Contudo, não podemos negar a importância do assunto porque acreditamos com o exposto bíblico ser uma implicação da “palavra da cruz”, mais especificamente da justificação pela fé. E diminuir ou negligenciar algum ponto da justificação pela fé é afetar diretamente a glória devida a Deus.

Graves implicações bíblicas

Vejamos quais as implicações em se adotar a perda da salvação como possível ou verdadeira:

1. Insuficiência de Jesus como Advogado junto a Deus.

Sabemos que o pecado ainda é uma realidade na vida do crente, contudo o pecado não tem mais nenhum poder acusador e condenatório sobre os justificados, mas atrapalha a vida espiritual do crente e sua intimidade com Deus (ver Salmos 32; 51).

Tanto é que no dia a dia da nossa salvação é necessário que haja um advogado. E esta é a razão de não sermos consumidos por causa dos nossos pecados atuais: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (I João 2.1). Por isso, toda vez que Deus olha para nós, mesmo que estejamos em pecado, Ele considera a justiça de Cristo como a nossa, pois Jesus é a “propiciação pelos nossos pecados” (I João 2.1). Propiciação significa “afastar a ira de Deus” de sobre aquele que merece a ira (João 3:36; Efésios 2:3).

2. Insuficiência da justiça de Jesus na justificação pela fé.

A perda da salvação significa não crer na perfeição da justiça de Cristo como suficiente para satisfazer a Lei de Deus em tudo o que ela exige do pecador. Segundo o ensinamento do Novo Testamento sobre a expiação e propiciação, se um pecador volta a ser condenado por causa de seus pecados, isso indicará falhas na obra expiatória de Cristo. O que nos levaria, conseqüentemente, a concluir que a obra vicária de Jesus foi muito fraca para nos salvar da condenação eterna do pecado.

Ora, a Bíblia diz que é somente pela justiça de Jesus que somos justificados (Filipensses 3.8,9), nossa justiça não participa da justiça de Cristo, porque a nossa é imperfeita (Romanos 4.4-5) e trapo de imundícia para Deus (Isaías 64.6), por isso toda glória é dada a Deus por causa de Cristo.

3. A justificação pela fé fica prejudicada.

Se a justiça de Cristo não é suficiente ou nossa justiça participa da salvação então a justificação não é pela fé, mas inicialmente pela fé e depois pelas obras do pecador como a santificação que é o entendimento católico de justificação pela fé.

Ora, por imputação o pecador teve não apenas a dívida de seus pecados paga com a morte de Cristo, mas também a dívida de cumprir perfeitamente a lei ou os mandamentos de Deus também paga pela vida de Cristo (Romanos 4.4-5; Filipenses 3.8,9). Cristo não é apenas a nossa redenção, mas “o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação” (I Coríntios 1.30).

Aliás, a dívida de cumprirmos uma vida de obediência perfeita normalmente é negligenciada nos púlpitos. Só se fala da dívida dos pecados. Era exatamente o que Jesus estava querendo relembrar quando disse o seguinte para a multidão: “Pois eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus.” (Mateus 5.20). Já era difícil viver um padrão como a dos fariseus e escribas, maior padrão de obediência conhecido entre os homens na época, pior seria ultrapassar tal padrão. E ultrapassar tal padrão era na verdade chegar a perfeição moral como Jesus queria: “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial” (Mateus 5.48). Este é o ponto crucial para Cristo e fatal para nós: a perfeição.

4. A intercessão de Jesus é falha.

Cristo faz constante intercessão por aqueles que Lhe são dados pelo Pai, e a Sua oração intercessória por Seu povo é sempre eficaz – “eu sabia que sempre me ouves” (João 11.42); “vivendo sempre para interceder por eles” (Hebreus 7.25). Quem de atreve a dizer que a intercessão de Jesus, sendo Deus, pode ser falha? (João 17.11; Lucas 22.31-32).

5. O amor de Deus é mutável e temporário.

Não importa o que nos aconteça no futuro; não importa a tentação que possa nos rodear; não importa as obras de Satanás; não importa se ele nos deixar desanimados ou nos tiver sob a sua mira, nunca mais o salvo “entrará em condenação”, porque a causa de nossa salvação é imutável (não muda) e eterna: o amor de Deus, não o nosso amor frágil, infiel e inconstante (Romanos 8.31-39; João 5.24).

6. A vida “eterna” não é eterna.

Algo eterno não se dá por um dia, um mês, um ano ou mesmo cem anos. É eterno. (João 3.14-16; 10.27-29; 1 João 2.25; 5.10-11,13; Romanos 6.23). Tanto que já somos considerados como que estando no “monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, a miríades de anjos; à universal assembléia e igreja dos primogênitos inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados; e a Jesus, o mediador de um novo pacto, e ao sangue da aspersão” (Hebreus 12.22-24). Não sabendo ou entendendo esta verdade as pessoas ainda vivem como que querendo entrar no monte Sião (nova aliança), com se não estivesse lá.

7. Não pode haver esperança na salvação.

Alguns textos afirmam que podemos ter esperança ou alegria na eterna salvação (Hebreus 6.11; 10.23; Romanos 5.2,5; Tito 1.1-2; 1 Pedro 1.3-6). Isto seria impossível se pudéssemos cair dessa salvação a qualquer momento.

Um cristão nunca vai poder está alegre (com segurança) com sua justificação, salvação de Deus, porque de fato ela ainda não ocorreu. A qualquer momento pode perdê-la. Na prática, para não caírem numa auto-ilusão religiosa, muitos cristãos começam a trocar a idéia da salvação da morte eterna dos pecados pela salvação das conseqüências temporárias do pecado, como o sofrimento, a doença, as dificuldades financeiras, os vícios.

Para assim se achar convencido de que tem “paz” com Deus ou é feliz com Jesus e acaba esquecendo a paz da reconciliação do pecador com Deus (Romanos 5.1,11).

8. Existem pecados dos quais Cristo não tem força para nos salvar.

Quem se atreve a dizer qual pecado, que tipo e com que freqüência o sacrifício vicário (substitutivo) de Jesus (Deus) não tem força ou valor?
Mas alguns falam do pecado imperdoável que seria a blasfêmia contra o Espírito Santo (Mateus 12.31, 32) ou o pecado “para morte” (I João 5.16). Contudo a Bíblia não diz sobre a natureza desses pecados imperdoáveis.

É o mesmo problema do espinho da carne de Paulo: o que é afinal? Nem diz que um crente salvo pode comete-la. Aliás, será que Deus “tampou os olhos” quando nos salvou? Quer dizer, Ele não sabia como seria toda a nossa vida e todos os nossos pecados quando nos salvou? E quando Jesus fala da blasfêmia era uma resposta aos fariseus e não a crentes.

Ou ainda falam de pecados “ainda não cumpridos” como se Cristo só pudesse morrer quando o pecado fosse cometido, isto é, Cristo só pode morrer por aquilo que de fato ocorre e não pela possibilidade do pecado acontecer. Contudo quem disse que Deus não conhece todas as possibilidades? Ora, Paulo fala de duas possibilidades conhecidas por Deus que os “poderosos deste século” poderiam cometer: crucificar a Cristo ou não (I Coríntios 2.8). Porém Deus garantiu que apenas uma acontecesse: a crucificação de Cristo (I Coríntios 2.9, 10; cf. Atos 2.22, 23).

9. A salvação não é obra de Deus.

A salvação é pela graça porque é Deus quem salva, por isso recebermos a salvação mediante a fé (instrumento) e não mediante obras, que então se tornariam (parte da) causa da salvação (Efésios 2.8). E Deus é quem salva, porque sua salvação é completa do início ao fim, por isso Ele é o Autor e Consumador de nossa fé, aquele que inicia e termina a obra da salvação (Filipenses 1.6; Hebreus 12.2; Hebreus 5.9; 1 Coríntios 1.5-8). Portanto, é um equívoco grande alguém perder a salvação porque nunca a ganhou, nem no início, nem durante e nem no fim da obra. Caso contrário, teríamos um Deus descuidado que começa obras, principalmente a salvação de almas, e não termina. Ele não é Onisciente e Soberano? E mesmo que alguém pense tolamente em devolver a salvação a Deus estará perdendo seu tempo, porque novamente afirmo: a salvação do pecador não está em suas mãos, pois ele mesmo é propriedade exclusiva e incondicional de Deus (João 6.37; 10.27-29).

10. Não há herança guardada e não há filiação nenhuma.

Há uma herança – incorruptível, incontaminável – guardada nos céus para os salvos (1 Pedro 1.3-6; 2 Timóteo 1.12). Como Deus pode guardar algo “nos céus” se não tiver a certeza de que em vida não cairemos da salvação?

Mas alguém pode questionar: “Deus é soberano, portanto pode refazer quantas vezes quiser a nossa herança”. Este é com certeza um Deus mutável de tanta inconstância, ignorante por não saber de nada do futuro e bobo por acreditar na impossibilidade de queda do pecador. É mais cômodo, portanto, da parte de Deus não preparar lugar nenhum para os salvos (João 14.2-3). Ora, a Bíblia também ensina que o salvo é adotado e gerado como filho de Deus ou irmão de Jesus (Romanos 8.15-17; Gálatas 4.4-7) e se torna, portanto, herdeiro de Deus, co-herdeiro de Cristo. Deus não nos deserta porque a causa exclusiva de nossa adoção está em Seu filho Jesus Cristo.

11. Não há selo do Espírito Santo.

A Bíblia diz que somos selados pelo Espírito Santo (Efésios 4.30). Mas tem muito crente que não sabe o significado disto. E somos selados no momento da conversão: “Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa sa1vação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa herança, para a redenção da possessão de Deus, para louvor de sua glória” (Efésios 1.13-14). Deus colocando a si mesmo (Espírito Santo) como garantia de que nunca perderemos a salvação. Já imaginou tal garantia ser falha?

12. Os anjos seriam bobos em ficar alegres com o arrependimento do pecador.

“Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lucas 15.10). Acho que já cansaram disto. Imagine todos no céu numa só alegria, mas ninguém no céu tem segurança nenhuma de sua alegria. Aliás, como posso ficar alegre com a salvação de alguém com a eminência de perdê-la a qualquer momento?

Sentimento, prática e fato

Não crer na perda da salvação não garante a salvação. A salvação é garantida pela graça. Da mesma forma quem não crê na segurança eterna do crente não deixa de ser crente, porque a salvação depende da graça e não de um conhecimento profundo da mesma.

Então é um assunto secundário? Não para os sentimentos do crente. Crer ou não nessa doutrina não fará o crente mais ou menos salvo, entretanto o fará se sentir mais ou menos salvo. Este é o ponto.

Muitos acreditam na perda da salvação devido à prática de outros, principalmente de líderes e pessoas próximas. Mas a Bíblia não nega a apostasia de líderes, amigos e membros da igreja, pois:

1. É difícil distinguir o verdadeiro do falso crente. Quem sabe distinguir o joio do trigo? (Mateus 13.24-30). E quem conhece realmente qual solo é espinhoso ou rochoso ou bom? (Mateus 13.20). Mas existe o joio junto com o trigo na mesma igreja.

2. Um falso crente chega tão perto da fé genuína que pode se enganar a si mesmo e a outros. A lista de fatos na Bíblia impressiona:

a. Alguns diziam ter “comunhão” com Deus, que “não tinham pecado”, que “o tinham conhecido”, que “permaneciam” nele, e que estavam “na luz”, mas João nega todas essas afirmações (1 João 1.6, 8, 10; 2.4).

b. Pedro fala daqueles que “escaparam das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo” e todavia “se deixam enredar de novo e são vencidos” (2 Pedro 2.20, 21).

c. Paulo tinha Demas como seu “cooperador” (Colossenses 4.14; Filemon 24), mas lamentou que “Demas, tendo amado o presente século, me abandonou” (2 Timóteo 4.10).

d. Judas Iscariotes recebeu dons celestiais de apostolado com poder de expulsar demônios e curar enfermos, mas nunca foi regenerado (Mateus 10.1). Jesus já sabia ser ele o traidor.

e. Há outros que farão milagres e expulsaram demônios e nunca foram crentes de verdade, mas se achavam (Mateus 7.22, 23).
“Restitui-me a alegria da tua salvação” (Salmos 51.12). Davi não pedia para restituir a salvação. A confirmação da nossa salvação nos serve para nos dar conforto e alegria, não para nos dar salvação. Uma coisa é o fato e outra é o sentimento. Nosso sentimento precisa ser alimentado e nós mesmos podemos fazer isso, na salvação não. Por isso a perseverança não deve ser anulada por causa da preservação do poder de Deus na salvação (1 Pe 1.5).

Entretanto os sentimentos podem atrapalhar. É necessário que aquele que queira ser renovado por está frio ou em pecado creia na eficácia da justiça de Cristo, pois se “confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 João 1.9). E aqui os sentimentos não ajudam, porque a lembrança do pecado ainda pode ser forte. É necessário crer para a alegria ser renovada e não contrário, esperar sentir algo bom para crer.

Textos bíblicos mal-interpretados

As graves implicações mostradas num tópico anterior deveriam ser suficientes para não sermos precipitados em nossas conclusões diante de textos que aparentam falar de perda da salvação. A Bíblia parece dar margem a duas opiniões. É verdade. E não apenas quanto a esse assunto, mas a qualquer um que se queira, bastando fazer uma interpretação sem seguir regras básicas de hermenêutica como o contexto.

1. Parábola da figueira, do bom servo e do mau, das dez virgens e dos talentos (Mateus 24.32-25.30)

Então essas parábolas falam da vigilância em não perder a salvação ou em crer em Cristo?

Para responder a esta pergunta e outras usaremos da regra básica de hermenêutica de usar o contexto para interpretar um texto, isto porque o “texto bíblico intertreta a si próprio” – lição da Reforma. Ora, se você fosse Jesus contando essas parábolas você falaria de perda da salvação para quem não é salvo (multidão)?

Logo, será o público-alvo que vai definir qual o caráter da pregação. O contexto começa em Mateus 24.1 e termina em Mateus 26.5, e em Mateus 24.37-39 sabemos quem é o público-alvo, logo sabemos a resposta: vigilância em relação em crer ou não em Cristo. Aliás, depois dessas parábolas o assunto é sobre separação entre cabritos (ímpios) e ovelhas (crentes).

2. Persistência até o fim para ser salvo (Mateus 24.13; Hebreus 3.14; Apocalipse 2.10)

Esses textos são muitos citados para justificar a perda da salvação também, mas são na verdade equívocos básicos de interpretação, pois no texto de Mateus Jesus estava falando da Tribulação, como se vê pela referência que fez ao “abominável da desolação” (v.15). Ele estava falando dos judeus que seriam perseguidos naquele período, pois menciona “os que estiverem na Judéia” (v.16). Logo, parece indicar que os crentes judeus que sobreviverem à tribulação, sem ser martirizados, serão libertos (“salvos”) no fim, quando Cristo voltar. Para o texto de Hebreus basta ler o versículo seguinte (v. 15): “Nós, porém, não somos daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que crêem para a conservação da alma”. A passagem de Apocalipse não oferece qualquer dúvida se a pessoa souber diferenciar vida de coroa da vida. Ora, as boas obras do crente – já salvo – serão recompensadas.

Aliás, devemos diferenciar o fruto da condição, a conseqüência da causa. Uma característica visível do crente é a constância na fé, não quer dizer o fator determinante. É mais um fruto do crente.

Permanecer fiel à Palavra de Cristo não nos faz mais salvos (João 8.31), nem tampouco o fato de produzirmos frutos é um processo para sustentar a salvação (João 15.8), mas são evidências de quem foi salvo. Assim como “confessar diante dos homens” (Mateus 10.32-33) é um dever cristão (marca indispensável de um cristão) e não uma condição de se tornar cristão ou sustentar a salvação.

3. A queda dos iluminados (Hebreus 6.4-6; 10.26; Gálatas 5.1-4)

Há os chamados hebreus que foram “iluminados”, “provaram o dom celestial”, tinham “se tornado participantes do Espírito Santo”, tinham “provado a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro”, e tinham recebido “o pleno conhecimento da verdade”, contudo “cairam” e de tal forma que não há mais retorno ou arrependimento. E muitos acreditam ser isto uma perda da salvação. Da mesma forma se entende com os galátas que “decaíram da graça”.

Primeiro, muito é negligenciado ou desconhecido a respeito da profundidade da graça de Deus no incrédulo. Ora, há os que “ouvindo a palavra, logo a recebem com alegria”, contudo como “não têm raiz em si mesmos, sendo, antes, de pouca duração, e lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da Palavra, logo se escandalizam. Os outros, os semeados entre espinhos, são os que ouvem a palavra, mas os cuidados do mundo, a fascinação da riqueza e as demais ambições, concorrendo, sufocam a Palavra, ficando ela infrutífera. Os que foram semeados em boa terra são aqueles que ouvem a palavra e a recebem, frutificando a trinta, a sessenta e a cem, por um” (Marcos 4.14-19). Os que se escandalizam ficam assim porque “não têm raiz em si mesmos”. Por isso não duram, são de pouca duração. A obra do Espírito na regeneração tem a dimensão de uma raiz que é cravada no interior do homem, num coração preparado por Deus (Ezequiel 36.24-27). Aliás, podemos traçar uma comparação entre a profundidade da graça na vida de um incrédulo e na vida de um crente:

  • Incrédulo
    • Recebe iluminação. E pode se afastar das trevas do paganismo e do judaísmo.
    • Prova o dom celestial, Jesus Cristo. E pode ser curado de problemas terrenos.
    • Participa e prova do Espírito.
    • Prova os poderes do mundo vindouro como milagres ou prodígios.
  • Crente
    • Tem a luz da vida (João 8.12).
    • Digere verdadeiramente o corpo e o sangue de Cristo (João 6.53). E é curado de problemas eternos, independente dos terrenos.
    • Regenerado e habitado pelo Espírito.
    • Já é parte do mundo vindouro (Hebreus 12.22).
Enfim, o sentido de queda para os hebreus era a volta ao judaísmo e ao sacrifício judaico e para os gálatas era a circuncisão já que “se os da lei é que são os herdeiros, anula-se a fé e cancela-se a promessa” (Romanos 4.14), porque eles estavam buscando novamente a justificação pela lei quando não havia mais necessidade. Não era portanto o pecado imperdoável ou a crença numa filosofia vã o motivo da queda. E não tinham as mesmas características de um crente regenerado, apesar da profundidade com a graça de Deus.

E quando Paulo fala que “se voluntariamente continuarmos no pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados” deve ser lido com um olhar contextual quando ele afirma em seguida “Nós, porém, não somos daqueles que recuam para a perdição, mas daqueles que crêem para a conservação da alma” (Hebreus 10.39).

Conclusão: Glória de Deus

Não crer na perda da salvação não garante a salvação. A salvação é garantida pela graça. Da mesma forma quem não crê na segurança eterna do crente não deixa de ser crente, porque a salvação depende da graça e não de um conhecimento profundo da mesma. Então é um assunto secundário? Não para a glória de Deus. Crer ou não nessa doutrina não fará o crente mais ou menos salvo, entretanto o poderá fazer glorificar menos ou mais a Deus. Este é o ponto.

Um pensamento corrente de “pecarei o quanto quiser, porque sempre estarei salvo”. Este não pode ser um pensamento de quem foi gerado de Deus. Será que Deus seria bobo de adotar alguém e não gerar uma nova natureza (Gálatas 4.4-7)? Será que um filho, que ama sua mãe de todo coração diria: “Pecarei o quanto quiser. Sei que mamãe ainda vai continuar me amando, por isso continuarei fazendo que é errado”? Quem pensa assim não está preocupado com a glória de Deus e da mesma forma o líder que pensa em não tocar nesse assunto com medo de alguém chegar a essa incrédula conclusão também não está preocupado com a glória de Deus. Portanto na nova aliança o amor é a motivação íntima da obediência e a lei de Cristo é sua orientação: “A lei são os olhos do amor. Sem lei, o amor é cego”.

Portanto não basta a intenção de glorificar a Deus, devemos sondar nossos pensamentos – verificar as implicações e motivos deles – para assegurarmos se não estamos diminuindo a glória devida a Deus, mesmo que seja um assunto antigo e os nossos sentimentos e os testemunhos de outros mostrem o contrário.

“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho perverso, e guia-me pelo caminho eterno” (Salmos 139.23, 24).

Referências

1. A Queda dos Iluminados de Hebreus 6:4-6. Moisés Bezerril.

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