Jornalismo Eleitoreiro - Furadeiras
Furadeira doméstica usada em cirurgias |
Por isso o papel do jornalista é de extrema importância: coletar o máximo de informações possíveis para deixar o ouvinte seguro para tomar sua própria decisão, sem cabresto. Infelizmente encontramos cada vez mais jornalistas eleitoreiros. Estes usam a informação apenas como pano de fundo para atacar ou beneficiar a imagem de políticos; esqueceram o valor da informação e tornou o jornalismo um negócio extremamente lucrativo para si não importando os meios para alcançar os fins.
A bola da vez é o caso das furadeiras usadas em cirurgias de hospitais da Paraíba a partir de uma "denúncia" de um médico:
"Em e-mail enviado à reportagem do G1, Valdir Delmiro, médico e
presidente da Cooperativa dos Cirurgiões do Hospital de Emergência e
Trauma Senador Humberto Lucena, em João Pessoa, divulgou fotos das
furadeiras usadas para realizar cirurgias cranianas. Segundo o médico, o
procedimento também é adotado no Hospital Ortotrauma, localizado em
Mangabeira, bairro de João Pessoa."(G1 Paraíba).
Logo a notícia ganhou uma grande dimensão política:
"Mas, mesmo com a agenda positiva, o
governador Ricardo Coutinho acabou tendo o tempo de comemorações
empanado pela grave denúncia de uso de furadeiras no Trauma – matéria
essa que ganhou dimensão nacional com forte repercussão negativa." (Walter Santos, Wscom).
No entanto quando você assiste à entrevista com o Dr. Ronald Farias as coisas começam a ficar melhor esclarecidas.
Dr. Ronald Farias |
Com base nessa entrevista conseguimos coletar alguns fatos e nos deixa cientes de questões maiores.
1. Uso de furadeira não é ponto!
O ponto levantando pelo médico na audiência pública não era o uso de furadeiras, tanto que afirma ser um "caso pontual". Ora, se um profissional que conhece melhor do ninguém o problema que passa diz que esse não é ponto, por quê as notícias dizem o contrário? E pior, agora é a bandeira dos políticos! Ou os políticos não entenderam o problema ou não intencionam...
O ponto era a discussão em torno do "Modelo de Gestão para o SUS", de fato, extremamente válido e importante para os cidadãos. E o próprio faz elogios a representantes do governo (para deixar claro sua maior preocupação com o modelo em si e não com quem o utiliza!). Porém os políticos envolvidos nesse "escândalo" da furadeira realmente entendem isso? Os cidadãos também entendem isso? Quem poderia melhor nos explicar a coisa toda? Os jornalistas, mas...
Só para deixar claro, o uso de furadeira segundo o próprio médico não é problema e nem é o problema! Porque é algo que excepcionalmente é usado e não gera riscos de saúde ao paciente (apesar do jornalista na entrevista não aceitar isso!). Só é menos eficiente em termos de tempo!
2. Se o uso de furadeira foi uma denúncia, então...
Segundo a Cruz Vermelha o uso de furadeira virou rotina, por causa da quebra dos equipamentos mais recomendados, há mais de um ano (fora das atuais gestões de governo e do hospital).
E pelas declarações do médico o uso de furadeira faz parte apenas de um dos equipamentos alternativos daqueles que frequentemente quebram "há muito tempo".
Então, como imagino, se é um problema de tanto tempo por quê antes não havia denúncia?
Isso é praticado em outros lugares ou estados? Em hospitais privados? Qual a opinião técnica dos médicos? Existem outros equipamentos usados em casos excepcionais? Quais os riscos?
Quem é Valdir Delmiro? E por quê a realidade dele se apresentou diferente da relatada por Ronald Farias como se fosse uma novidade e absurda?
3. Políticos usam das mesmas furadeiras em nós
Ora, fica clara a manipulação política em cima da ignorância da população (e de jornalistas também!) quanto a essa realidade pontual (e técnica?) dos médicos.
No fim, somos furados diariamente com a desinformação. Antes de fazer uma pequena pesquisa sobre todo esse assunto, alguns chegavam para mim com piadas envolvendo o governador e furadeiras e não sabia o que falar. Preferia ficar calado. Agora pelo menos sei mais de que menos está sendo dito.
Disso tudo tiramos uma lição valiosa: político eleitoreiro sempre "resolve" o problema da pior maneira (lembra da "PEC 300"?): não se importa com o gasto de recursos porque não conhece princípios básicos de gerenciamento, pois sua única preocupação é a "felicidade" de todos durante as eleições. E um dos seus principais instrumentos de poder são os jornalistas eleitoreiros.
Quem está fazendo algo garantido (pensando gerencialmente) e quem está pensando nas eleições?
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