Aos que divulgam blitz: penalizam os que "defendem" (Parte 3)


Por que não há indignados no Brasil? (Juan Arias, El País).

Esta é mais uma continuação do post "Aos que divulgam blitz: não é uma questão de lei, mas de moral (Parte 2)". Recomendo uma leitura também do primeiro: "Aos que divulgam blitz: fazer o mal é também promovê-lo". E um bem interessante em outro blog: "Atenção: Blitz a 1000 metros".

Normalmente nenhum ser humano gosta de ter a mente maculada, com a consciência acusando de alguma coisa. Por isso é comum tentar contrabalancear, manobrar, dá um jeitinho na própria razão para continuar a mesma ação que em outro contexto menos dependente não aprovaria. É o comportamento típico de dissonância cognitiva, que pode envolver toda uma arte de se enganar.

Muitos hotéis e motéis já incorporam nas diárias os prejuízos de toalhas roubadas por ser algo muito comum. E todos podem até concordar que as mesmas pessoas envolvidas nesses roubos não praticam necessariamente grandes crimes ou furtos porque acreditam no valor da justiça (atitude) de fazer o bem às pessoas (comportamento). No entanto em outras situações, quando o interesse, o afeto ou o benefício é mais forte, a discrepância é mantida por um tipo de racionalização baseada num valor distorcido de justiça ou de um critério ético inconsistente.


Deputada flagrada recebendo dinheiro
Recentemente por 265 votos a 166, a Câmara de Deputados absolveu a deputada Jaqueline Roriz, flagrada recebendo dinheiro do delator do mensalão do DEM. Nesse episódio ficou claro que todos que a defenderam tinha um ponto, um argumento, uma razão para tal atitude, como se a defesa em si fosse suficiente! Porém eram argumentos nobres ou mesquinhos? A quem estavam defendendo naquele momento?







O filme Tropa de Elite mostra uma imagem bem clara dessa confusão de valores: consumo de drogas por jovens universitários oriundos da classe média e que atuam em projetos sociais. Nobres de um lado e sujos do outro? "Quem perde com isso é o povo da favela, onde a droga se esconde, não sou contra a descriminalização das drogas, mas quero que as pessoas pensem que do jeito que está não pode ficar. Quem compra droga dessa maneira ajuda a manter uma realidade de terror e mortes. As pessoas devem ter consciência disso." (Padilha, 09/10/2007).




Os que divulgam a blitz também  não estão nessa mesma linha de pensamento ou comportamento? É só verificar seus principais argumentos contrastando com as implicações de seus atos para tirar sua própria conclusão.

Vejamos seus principais pontos de defesa:

1. Não há estatística comprovando implicações negativas


É preciso haver? Não havia também argumentos para defender a deputada flagrada em ato de corrupção?

Se for feito um levantamento das divulgações, será que estão motivadas por causa de problemas de transporte urbano inadequados ou caros após ingestão de bebidas alcoólicas? Ou estão usando isso apenas como uma forma de defesa da própria consciência contra os "acusadores"?

Ora, se a divulgação existe só porque a lei não criminaliza então os nazistas não seriam inocentes?

2. É uma forma de justiça social contra a "Lei Seca"

Não é a pior forma?! A liberdade de consumir tal informação não é semelhante ao consumo de drogas?

A blitz era diferente antes dessa mudança da lei? Deixou de perseguir infratores?

E por quê agora penalizamos um instrumento de segurança tão importante quando deveríamos lutar contra quem criou tal lei? Ou pelo menos cobrar do Legislativo algo mais efetivo, se de fato este é o problema dos que reclamam.

Indiretamente não estamos também penalizando mais ainda o "cidadão de bem" já que diminuímos o poder coercivo desse instrumento?

Se a crítica dos que divulgam a blitz é que essa mudança trouxe algo menos efetivo (seja de conforto ou segurança), então os usuários desses perfis de divulgação de blitz são os cidadãos mais conscientes e preocupados com o bem-estar dos outros, como os estudantes universitários envolvidos em projetos sociais ou como os políticos buscando sempre o melhor para o seu povo.

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