Vivendo sob a Justificação pela Fé Somente

Este é a continuação de "A Essência da Justificação pela Fé Somente".

Quem nunca ouviu falar de um evangélico com um passado obscuro se dizendo justificado e salvo dos pecados? Para quem não conhece adequadamente a doutrina cristão da justificação pela fé certamente vai interpretar tudo isso como arrogância ou desculpa para a imoralidade.

“De que adianta boas obras se já estamos justificados?”.
“De que adianta santidade se estou justificado de todo jeito?”.
“De que adianta vigilância se já estou salvo mesmo?”.

Como é viver sendo um pecador justificado? Não importa se faço boas obras de agora em diante pois já estou salvo? O ponto é compreender o lugar das boas obras na vida de um pecador já justificado.


Aquelas perguntas são típicas de pessoas que não entenderam a obediência pela fé ou não receberam uma nova natureza para obedecer pela fé.

Quando ocorre a justificação o pecador é também regenerado em sua natureza de forma a não ser o mesmo pecador de antes. Ele agora busca ser justo diante dos homens – sabendo que diante de Deus só será justo pela fé – e santo diante de Deus. Ora, “Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (I Coríntios 1.30). Regeneração é um tema que foge ao escopo do estudo atual, mas crucial para um entendimento maior e completo.

Jesus já cumpriu tudo aquilo que Deus requer de nós em sua lei de forma perfeita: santidade, sabedoria e justiça. Nada que façamos irá aumentar (diminuir) alguma coisa em nossa justificação.

Justificados pela fé diante de Deus não implica “justificados” diante dos homens. É preciso demonstrar isso aos homens. A fé precisa ser justificada, no sentido de validada, com as boas obras. E é exatamente isso que Tiago diz em sua carta. O erro de Roma foi entender Tiago 2.14-26 como justificação pela fé e pelas obras quando na verdade se estava falando de justificação da fé e não do pecador.

Em Gênesis 15, Abraão é justificado por sua fé. Em Gênesis 22.9-18, a fé de Abraão é justificada por sua obediência. Mas esse entendimento só se torna claro usando-se de um princípio básico de hermenêutica: contexto.

Essa questão de justificação diante dos homens é uma coisa séria. Como pode um justificado não se comportar como um? Ora, para algo ser justificado como sabedoria deve ter frutos de sabedoria (Mateus 11.19). Portanto a palavra justificado usado por Tiago tem um sentido de validado.

Além de não demonstrar hipocrisia aos homens o justificado deve ser santo diante de Deus, não para alcançar ou melhorar sua justificação (salvação), pois não pode, porém para não atrapalhar a sua vida espiritual e sua intimidade com Deus (Salmos 32; 51).

O sentido de boas obras não é apenas caridade. Santidade também é uma boa obra, porque se feita de forma perfeita pelo homem então este recebe merecidamente aceitação de Deus. Ora, não foi pela santificação e justiça perfeita de Cristo que o pecador foi justificado?

Um grande problema na vida de um pecador justificado é exatamente achar que não é mais pecador e pensar ter alcançado a perfeição. Isto porque ele não compreende muitas vezes que apesar de não poder mais sofrer a condenação de algum pecado (Romanos 8.1,2), pensa que não pecou, que não é culpado por algum pecado cometido.

Isso fica mais claro em determinados contextos evangélicos em que a culpa dos pecados pertencem aos demônios. Quem comete o pecado é o culpado e não quem monta a circunstância.

Portanto a justificação pela fé tira a condenação do pecado, mas não a culpabilidade do pecado. Por isso, devemos confessá-los para reconhecer que somos os autores desse pecados e assim progredirmos na santificação. E não esquecendo o Advogado junto ao Pai (1 João 2.1).


A justificação nos tira de uma prisão onde fomos sentenciados à morte (perdoado) e a santificação nos tira de uma doença mortal (curado).

Quem obedece com boas obras e santificação para garantir a salvação ou alcançá-la não obedece pela fé pois está tentando acrescentar algo à justiça perfeita de Cristo.

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1. A Marca da Vitalidade Espiritual da Igreja: Justificação Pela Fé Somente. Autores: RC Sproul; John Marcarthur, Jr; Joel Beeke; John Gerstner; John Armstrong. Editora: Cultura Cristã.

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