Entenda os principais problemas das avaliações de desempenho
É melhor não fazer do que ter uma avaliação de desempenho problemática na empresa. As razões disso são várias e apesar de antigas continuam bem atuais.
Apesar de levantamentos
em pesquisas terem mostrado que a maioria das pessoas achava a avaliação de
desempenho uma boa idéia para ter uma clara noção de sua posição, entretanto na
prática poucos podiam citar exemplos reais de atitudes construtivas que foram
tomadas ou melhorias significativas que foram obtidas (Meyer, Kay, & French, 1997). Os sistemas de avaliação de
desempenho não têm cumprido bem nenhuma de suas funções básicas (Levinson, 1997). Chiavenato (2004)
critica os métodos tradicionais por terem sido utilizados como fim e não meio
para a melhoria do desempenho.
Um primeiro problema é
a avaliação associada à promoção. Meyer, Kay e French (1997) em pesquisa
científica realizada na General Electric Company sobre a avaliação de
desempenho, executada anualmente, concluíram que seus objetivos principais – justificar a ação
salarial recomendada e promover as melhorias necessárias de desempenho – são
conflitantes, pois transformam o sistema de avaliação tradicional em
basicamente uma discussão salarial na qual o gerente justifica as medidas
tomadas, com influência reduzida neste sentido sobre o futuro desempenho do
trabalho.
Quando a entrevista com
o objetivo de melhorar o desempenho coloca na balança simultaneamente salário
ou promoção impossibilita haver uma estrutura psicológica adequada, em ambas as
partes, para discutir planos de melhoria de desempenho (Meyer, Kay, & French, 1997). Não dá para ser conselheiro
e juiz num mesmo momento. Hanashiro, Teixeira e Zaccarelli (2007) colocam como
equívoco vincular avaliação de desempenho e bônus.
Um segundo problema é a
avaliação tardia. A crítica por um mau desempenho geralmente tem um efeito
negativo no alcance das metas e já o elogio tem um efeito reduzido em ambos os
sentidos, pois raramente há atitudes construtivas perante um recheio de críticas
concentradas do ano e diante de um feedback,
que se torna menos eficaz, devido ao grande período de
tempo (Meyer, Kay, & French,
1997).
Baldwin, Rubin e Bommer
(2008) aponta como um dos erros mais comuns avaliar o empregado levando em
conta somente o desempenho mais recente ou o inicial, em vez do desempenho em
todo o período de avaliação.
Martins (2008) coloca
que o feedback precisa ser imediato,
de modo a só fazer sentido se for no momento exato ou lembrado do acontecimento.
Dentre os aspectos presentes no feedback
Reis (2006) aponta para a oportunidade em que haja rapidez, mas que seja em
local e momento psicológico adequados. Levinson (1997) comenta que o feedback demorado, além de criar
frustração, quando o bom desempenho não é reconhecido rapidamente, gera raiva,
quando o julgamento se baseia em inadequações passadas.
Diante de uma avaliação
associada à promoção e tardia, só é possível então realizar melhorias
apreciáveis com a definição de metas e prazos específicos, acordados entre os
subordinados e o gerente em uma entrevista a parte e mais freqüente,
independente da entrevista de avaliação para promoção (Meyer, Kay, & French, 1997).
Na avaliação de
desempenho com foco no desenvolvimento e na aprendizagem, as metas são
planejadas com base nas competências e até mesmo na motivação do funcionário e
num momento posterior é verificado o que foi cumprido e o que precisa ser
revisto ou superado (Hanashiro, Teixeira,
& Zaccarelli, 2007). Uma avaliação tardia é então resultado de uma
avaliação sem metas de desempenho.
Quando os subordinados passam
a preparar suas próprias metas para melhorar o desempenho na função e o gerente
passa a analisá-las (dando um melhor direcionamento de acordo com os objetivos
organizacionais), essa maior participação do subordinado na fixação de metas gera
maiores resultados (Meyer, Kay, &
French, 1997). O subordinado passa a ser um agente ativo assumindo a
responsabilidade pelo desenvolvimento de suas próprias potencialidades.
Segundo Baldwin, Rubin
e Bommer (2008), a fixação mútua de metas é a ocasião perfeita para começar a
realçar o compromisso dos empregados.
Inclusive a análise (mais)
freqüente do progresso proporciona oportunidades naturais para discussão de
formas de melhorar o desempenho no momento em que a necessidade ocorre, e essas
análises são menos ameaçadores do que a avaliação anual (Meyer, Kay, & French, 1997). Essa
melhoria do desempenho no momento da necessidade promove um aprendizado
contínuo em contraste ao treinamento estático que não traz aprendizado (Antonello, 2004).
As mudanças apontadas
por Meyer, Kay e French (1997) para solucionar os problemas do programa
tradicional de avaliação foram apoiadas por uma abordagem de trabalho
denominada Planejamento e Análise do Trabalho (WP&R – Work Planning e
Review), cujas características básicas são discussões mais freqüentes sobre o
desempenho, inexistência de julgamentos ou classificações sumárias, discussões
sobre ações salariais conduzidas separadamente e ênfase no planejamento mútuo
de metas e na resolução de problemas.
Nessa abordagem de
trabalho de Meyer, Kay e French (1997) há um modelo ação-reflexão cuja
freqüência da análise depende tanto da natureza do trabalho quanto do estilo de
operação do gerente. O Scrum [1]
é um modelo ação-reflexão de trabalho com uma estrutura de organização adequada
a esse tipo de abordagem.
Um terceiro problema é
a avaliação subjetiva. Levinson (1997) coloca que “independente de quão bem
definidas sejam as dimensões de avaliação de desempenho em relação às metas
quantitativas, os julgamentos do desempenho normalmente são subjetivos e
impressionistas” por serem baseados em informações inadequadas.
Alguns reflexos dessas
inadequações ocorrem quando cabe ao gerente reconhecer o que é um bom trabalho
de um subordinado sem considerar metas ou quando a avaliação de desempenho
possui categorias como, por exemplo, trabalho, eficácia, organização e
planejamento, processo decisório, fixação de metas e desenvolvimento pessoal sendo
cada dividida em exemplos de declarações como “exibe alto nível de
independência”; ou “identifica problemas e os resolve”, no entanto,
desassociado de um comportamento verificável (Levinson,
1997).
Não há como fornecer um
feedback contínuo e eficaz, e suprir
as necessidades de dados sobre treinamento, promoções e salários quando a
avaliação é baseada apenas nos resultados do comportamento e não no
comportamento em si. Isto
não implica em excluir a importância dos resultados, contudo em não
confundi-los (Levinson, 1997). O
colaborador deve gerar resultados, dinheiro e resolver os problemas da
organização, porém deve saber como definir um bom desempenho numa avaliação. Baldwin,
Rubin e Bommer (2008) utiliza uma matriz resultados-comportamento como uma
maneira visual de classificar e avaliar como o comportamento e os resultados do
desempenho de um empregado funcionam juntos.
A técnica de incidentes
críticos remove a subjetividade da avaliação ao oferecer as informações
adequadas através de um registro de comportamento, como de feitos em relação a
problemas, contextos ou circunstâncias (Levinson,
1997). Hanashiro, Teixeira e Zaccarelli (2007) também falam da importância dos
incidentes críticos para a avaliação de desempenho, assim como Chiavenato
(2004). Esse registro promove um feedback
sem surpresas, um treinamento contínuo e promoções adequadamente julgadas
uma vez que o comportamento passa a ser verificável (registrado), acompanhado e
analisado pelo gerente em curtos espaços de tempo, e o acúmulo dessas análises
posteriormente é utilizada na avaliação para promoções (Levinson, 1997). A vida dos dados é mais longa nos registros
do que na memória das pessoas.
Reis (2006) utiliza o chamado
portfólio do desempenho, um registro das principais realizações ao longo de um
período significativo de tempo, tanto para aplicação individual e em equipes de
trabalho, com o objetivo de oferecer dados para acompanhamento e avaliação do
desempenho de modo a destacar áreas de competências já existentes e identificar
o que ainda precisa ser adquirido pela equipe ou por seus integrantes.
Na abordagem da
avaliação de desempenho centrada no desenvolvimento e na aprendizagem os
principais métodos utilizados são a avaliação 360 graus e a auto-avaliação.
Enquanto no primeiro a proposta é a melhoria da produtividade e a integração
das pessoas num mesmo ambiente com os mesmos objetivos, no segundo o
colaborador pratica sua própria avaliação, refletindo os pontos positivos do
seu desempenho e os pontos críticos que precisam de melhoria (Hanashiro, Teixeira, & Zaccarelli, 2007).
Nem sempre os problemas
comuns são inerentes ao método, porém ao seu uso impróprio. Na avaliação 360
graus, Hanashiro, Teixeira e Zaccarelli (2007) aponta os erros comuns de
insucessos dessa avaliação como a mensuração inapropriada dos tipos de desempenho,
pessoas mal-preparadas e erradas para fazer a avaliação, monitoramento do
programa inapropriado, condução autoritária, entre outros. Segundo Baldwin,
Rubin e Bommer (2008) a boa avaliação focaliza o comportamento e não traços ou
características pessoais e para isto várias fontes de dados ou pessoas podem
ser utilizadas, de modo a evitar que em alguns casos colaboradores “manipulem”
o sistema dependendo do quanto gostem ou não de seu colega.
Com um acompanhamento
contínuo, com metas e objetivos específicos de desempenho, podem-se evitar
surpresas em feedbacks negativos,
pois o funcionário receberá uma avaliação negativa sem ressentimento e de
maneira objetiva por ter tido a oportunidade de ter sido acompanhado durante
todo o processo no período estipulado e não apenas na hora da avaliação (Hanashiro, Teixeira, & Zaccarelli, 2007).
Métodos mistos podem
ser adotados para atender às peculiaridades e necessidades específicas. Para Baldwin,
Rubin e Bommer (2008), o uso de vários métodos produz um entendimento completo
do desempenho. Por exemplo, pode-se adotar uma abordagem mista em que na auto-avaliação
a base de dados é construída com o portfólio do desempenho e na avaliação 360
graus (do grupo, do superior ou dos subordinados) a concordância a esse portfólio
passa a significar os pontos positivos e negativos dos fatos do comportamento,
isto é, o quanto os feitos obtiveram sucesso ou fracasso na observação dos
interessados. Contudo tal concordância sem metas (critérios) associadas pode
levar ao problema da avaliação ineficaz ou de pobres resultados quanto ao
desempenho.
As mudanças apontadas
para os problemas do sistema tradicional de avaliação de desempenho colocam em
evidência que não há como mudar o programa tradicional de avaliação sem uma
orientação ou coordenação de um processo adequado: a gestão do desempenho.
[1] Scrum é um modelo de trabalho
aplicado em gerência de projetos, principalmente em empresas de TI, baseado em
equipes autogerenciadas com intervalos de reflexão e revisão entre fases de um
projeto.
ANTONELLO,
Claudia Simone. O Autodesenvolvimento e a perspectiva da aprendizagem organizacional.
In: BITENCOURT, Claudia (org.). Gestão contemporânea de pessoas: novas
práticas, conceitos tradicionais. Porto Alegre: Bookman, 2004. p. 52-75.
BALDWIN, Timothy; RUBIN, Robert;
BOMMER, Willian. Desenvolvimento
de habilidades gerenciais. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
CHIAVENATO,
Idalberto. Gestão de pessoas. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2004.
HANASHIRO,
Darcy Mitiko Mori; TEIXEIRA, Maria Luisa Mendes; ZACCARELLI, Laura Menegon. Gestão do Fator Humano: Uma visão
baseada em Stakeholders. São Paulo:
Saraiva, 2007.
LEVINSON,
Harry. Avaliação de Que Desempenho? In:
RODRIGUES, Ana Beatriz (trad.); CELESTE, Priscilla Martins (trad.). Gestão de pessoas, não de pessoal. Rio
de Janeiro: Campus, 1997. p. 189-204.
MEYER,
Herbert H.; KAY, Emanuel; FRENCH, John R.P. Jr.. Divisão de Papéis na Avaliação
de Desempenho. In: RODRIGUES, Ana Beatriz
(trad.); CELESTE, Priscilla Martins (trad.). Gestão de pessoas, não de pessoal. Rio de Janeiro: Campus, 1997. p.
175-188.
REIS,
Ana Maria Viegas et al. Desenvolvimento de equipes. Rio de
Janeiro: FGV, 2006.
Comentários
Postar um comentário