Livre liberdade


Livre. Livre para voar. Estou voando! Não acredito! Como é bom passar por entre as nuvens, sentir o vento em meu rosto, voar por sobre as ondas do mar, pegar a fruta intocável na mais alta árvore, na mais alta criação de Deus. Sonho maravilhoso que Paulo teve noite passada. 

Foi um dia lembrando esse inesquecível sonho. Andava pelas ruas, mas se sentia ainda voando pelas nuvens. Ele quer ser livre para voar. É maravilhoso fugir da dura realidade de casa.

Na manhã do dia anterior ao sonho, Paulo teve uma conversa com seus pais adotivos sobre seu futuro profissional. Os tios de Paulo querem o melhor para ele. Eles o amam de coração ardente e não querem ver seu filho adotivo sofrendo sem necessidade. Seus tios oferecem experiência e sapiência. Paulo oferece existência e obediência. Seus tios querem dar independência financeira, raiz da verdadeira liberdade. Todos os recursos estão ao dispor de Paulo para receber a liberdade de seus tios. É a liberdade de seus tios. É a liberdade dada pelos seus tios.

Quero ser livre para escolher minha destruição profissional. Quero ser livre para experimentar as minhas frustrações. Nunca saberei se serei um derrotado. Um frustrado. Um péssimo exemplo profissional. Quero ser livre para voar. Sentir os prazeres do vôo. Quero fazer o que desejo. Se não faço a vontade de meu ser quem sou então? Não é mais a minha vontade. É a de outrem. Palavras que Paulo queria dizer, mas temia o poder destrutivo da língua, a morte e a vida caminham nela. Contudo, aquele sonho reascendeu a chama de sua almejada liberdade. É a sua liberdade.

Um peixe no aquário. Nadava, nadava e nadava. Paulo então começou a ouvir coisas do peixe do aquário. “Peixe, livre como um peixe” – eram as misteriosas palavras de um peixe. Paulo não entendeu. “Nado na água, não nado no chão, nem nado no ar”. A curiosidade tomou conta de Paulo. Seu medo também. Alguém poderia lhe achar louco. Ele correu e não parou. Corria e sentia o vento em seu rosto. Corria nas areias da praia, na beira do mar. As ondas do mar batiam de forma suave em seus pés. Era como aquele sonho. E então parou porque viu um porco e uma gata.

Alguns homens tentavam limpar o porco e sujar a gata. O porco voltava para a lama e a gata tentava se limpar. As naturezas desses animais frustravam os planos desses homens. Como ninguém percebia o óbvio? Como um porco começa a agir como uma gata e uma gata agir como um porco? Muros inquebráveis por esses homens e esses animais. A mente e o coração do porco fazem parte da mesma natureza. Sua vontade não poderia ir de encontro ao seu ser. Se a vontade da gata obedecesse à vontade daqueles homens e começasse a agir como uma porca então como a gata pode ser responsável por um ato não característico, definidor de seu ser? Questionamentos que Paulo levou ao passado, o passado de sua vida, de sua decisão existencial e eterna.

O Evangelho é uma bobagem em muitas partes. Jesus é um tolo porque sou mau demais para ser amado. Deus? Duvido de sua existência. Onde Ele está? Igreja, covil de fanáticos e manipuladores. Pensamentos obscuros do passado de Paulo antes da eterna mudança – de vida e mentalidade. O passado de um apóstolo de Jesus era ainda pior do que esse.

Natureza. Liberdade. Natureza e liberdade.

Natureza decaída. Coração, mente e vontade não são virtuais, estão em mim, na mesma natureza decaída. Então como um porco agiu como uma gata? Como caminhei na direção da grande mudança? Liberdade inerente ao meu ser? Mas um peixe não pode nada no ar e nem nadar na terra. É liberdade dada. Não poderia mais haver uma natureza decaída. O Consumador é também Autor da fé. Não é companheiro. É Autor. Iniciativa dEle, não minha. Paulo começou a retornar os pensamentos para seus tios, sua realidade. Percebeu em sua eterna decisão quem era e que não precisava se sentir coagido para ser alguma coisa. Começou a acordar de seu sonho. Acordou! Assim como ocorreu em sua eterna mudança.

Meus tios precisam se libertar de suas liberdades. Mas eles se acham livres e não posso mudá-los. Não conheço suas naturezas, suas mentes, seus corações. Nem mesmo as minhas eu conhecia. Só Deus pode mudar sua natureza, sua liberdade. Iniciativa dEle, não minha. Se Ele liberta de uma decaída liberdade para uma santa liberdade, então confiante na Sua Graciosa Soberania devo esperar. Últimos pensamentos de Paulo antes de dormir.

Comentários

Aislan Fernandes disse…
Texto revisado e corrigido.

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