Perfeita harmonia estrangeira

A casa estava pegando fogo. Era madrugada e todos estavam dormindo. Acordei apavorado. Todos estavam correndo desesperados. Parado, olhava o fogo consumir os quadros da sala de estar. Meu primo pegou-me pelos braços. Devemos fugir. Parei. Continuei a olhar os quadros. O fogo pintou outra imagem nos quadros. Meu primo não entendia minha estática atitude. Parado no meio do fogo. Devíamos fugir, tudo estava pegando fogo. Devíamos fugir. Devíamos. Não quis. Empurrei meu primo no fogo. Libertei sua alma do dever. Dever estrangeiro. Não conheço esse dever. Continuei a pensar e morri consumido pelo fogo. Pesadelo de Francis. Acordou querendo respostas naquele dia. Respostas sobre seu ser, sua existência, a realidade imprevisível ao seu redor. 

Meu próprio mundo é estrangeiro. Meus próprios sonhos são estrangeiros. Meus próprios sentimentos são estrangeiros. Não sei defini-los. Sinto o que não sei definir. Vivo no que não sei definir. São estrangeiros dentro de mim. Por que devo obedecer a esses estrangeiros? Francis passava o dia questionando, divagando, pensando, filosofando. Passou a se tornar um amigo do saber. A sabedoria daria liberdade de ser? Parou todas as suas atividades. E olhou para cima. Viu o sol. Nunca tinha parado para ver o sol. Como brilhava e nunca precisou dizer a ninguém que sempre esteve lá. Os olhos começaram a doer. A luz era muito forte. O sol é para ser visto intensamente? O sol não respondeu, continuou a brilhar. Mas ele não agüentou e parou.

Francis, um ser finito. Como ser pessoal procura respostas. As respostas estão além de seu ser. É um ser finito.

Francis lembrou de seu primo no hospício. Havia conversado com Sartre no dia anterior. Palavras estranhas e sinceras de seu primo. O que é a moral? O que é o amor? O que é o medo? A igreja manda segui-los. A sociedade manda segui-los. Você os segue. Seu Deus. Quem Ele é? Nem sabe defini-lo. És finito para compreender o infinito. Um Deus pessoal é um reflexo de nosso desejo existencial frustrado. Eu não matei ninguém. Libertei almas. Descobri a escravidão. Somos escravos. Estamos num mundo estrangeiro, num corpo estrangeiro, numa vida estrangeira. O evangelho de Sartre para seu primo Francis. E o que é a liberdade? Questionamento de Francis depois de ouvir o evangelho de Sartre.

Francis estava lavando o rosto, pois seus olhos não ultrapassavam a realidade além de seu ser, a forte luz do sol daquele dia ensolarado. Uma senhora passando por perto e carregando uma caixa grande e esquisita se chegou a Francis: “Você parece meu bichinho dentro desta caixa. Revelo tudo para que ele viva bem. Mas ele ainda quer saber o que tem fora da caixa. Só posso revelar a suficiente verdade. Não toda a plenitude da verdade. Suficiente verdade para lhe mostrar o caminho para um dia compreender toda a realidade fora da caixa. Ele é ainda limitado”. Francis ponderava essas palavras enquanto caminhava de volta para casa.

Deus, um ser infinito. Não era obrigado a trazer a Revelação, conforme nosso ser pessoal: o Verbo Jesus Cristo. Ele conhece a pessoalidade em sua plenitude, amor, ódio, medo, liberdade. É verdadeiramente um ser infinito.

Deus, um ser perfeito. Não era obrigado a criar uma realidade onde compartilha sua pessoalidade com nossa finita existência. Somos hoje uma estrangeira pessoalidade. Contudo completa harmoniosamente a realidade além de nosso finito ser. Sentimos e não precisamos conhecer a plenitude do nosso sentir. Já sentimos. Somos livres e não precisamos conhecer a plenitude da liberdade. Já somos livres.
Filosofias de Francis sobre seu estrangeiro Deus. E antes de dormir leu um versículo: “Precisamos redescobrir a Revelação do estrangeiro Deus para não cairmos numa vaidosa ou enganosa filosofia de vida” (II Timóteo 4.3,4). 

Francis, não precisa olhar a plenitude do sol. Ele já brilha e nos faz viver. Não precisa se frustrar frente a infinitude de Seu Deus. Seu Deus se revela também pessoal para vivermos um harmonioso relacionamento estrangeiro com Ele. 

A Revelação é o telescópio para fora da caixa.

Comentários

Aislan Fernandes disse…
Texto revisado e corrigido.

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