Momento de Micheli


Micheli é uma cadela. Em seus 14 anos já não ouve tão bem e nem tem o mesmo vigor para correr, saltar e latir a todo instante. Em menos de uma semana na casa dos meus adotados avós, Edith e Achiles Chirol, Micheli já tinha um enorme carinho por mim, como se eu fosse de casa. Muito discreta, chegava perto como se querendo carinho. Enfim, uma cadela tranquila, vivia uma rotina sem estripulias ou andanças. Andando de um quarto para outro, de uma sala para outra, dormindo ou deitada sempre em qualquer um destes lugares.
Por motivos de trabalho precisei fazer essa viagem ao Rio, ficando hospedado na casa dos Chirol. Envolvido numa rotina de trabalho desde o meio do ano passado, sem férias por causa da mudança de emprego, comecei a sentir os sintomas do estresse, da fadiga do trabalho, principalmente após gravidez da minha esposa e ter sido eleito síndico do condomínio onde moro, ocorridos em meados de fim de ano. Em poucos instantes do dia parava para descansar a minha alma de várias preocupações do dia, da semana e do mês.
Micheli estava no corredor e quando cheguei, num dia ordinário, ela comeceu a latir, correr um ou dois metros, indo e voltando, girando, com latidos que mais pareciam de dor, como se alguém tivesse pisado nela. Isto durou em torno de 5 a 10 segundos. Foi o suficiente.
Ao final de um longo percurso turístico pelo Rio, a pé e de ônibus, guiado pelo irmão da minha sogra, Cláudio, tardezinha, andando pelas calçadas do Jardim Botânico, e os dois bem exaustos, tinha resolvido correr. E corri. Corri feito louco aproximadamente 50 metros até parar na entrada do Jardim, já fechado para visitas. Foi o suficiente.
Não importava o cansaço da idade, a simples quebra da rotina deu a Micheli uma injeção de vida, uma relembrança do significado viver e não esquecer dela.
Não importava a exaustão da caminhada, a sequencia de novidades não só pelo dia, mas pelos dias após chegada no Rio, a hospedagem na casa dos Chirol, a belas imagens de vários pontos da Cidade Maravilhosa, proporcionaram uma quebra de rotina, um sequestro adorável do trabalho, um insight do viver.

Comentários

Aislan Fernandes disse…
Estou lendo novamente esse texto e vejo como ainda sofro da mesma coisa... Mas Deus é minha fortaleza.

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