Pedras para humildade - VIII


A sétima pedra
“Miserável homem que sou” (O apóstolo Paulo)

Esta pedra é diferente das outras. É uma pedra de descanso, de consolo, depois de uma caminhada dura. É a pedra da fé. É também a oportunidade de arrependimento. Aqui você colocará todo o fardo pesado que tem carregado até agora em sua humilhação. Era necessário passarmos por todo aquele caminho anterior para que agora verdadeiramente pudéssemos descansar na pedra da fé, na pedra da boa notícia e pudéssemos nos arrepender humildemente dos nossos pecados até hoje cometidos. Se de fato o leitor usou a nossa bússola, caso contrário, esta será mais uma pedra no meio do caminho, mais uma ferramenta de humildade. E talvez ambas as coisas podem acontecer: descanso e crescimento na humildade.

Necessitamos de uma boa notícia, de um alívio. Não que isto nos faça merecedor de algum perdão – o fato de contrairmos uma doença na prisão não nos dar a liberdade da mesma. A boa notícia é que Deus fez por nós pecadores aquilo que não podíamos conseguir: a vida eterna, a perfeição de obediência, a dívida pelos nossos pecados. E isto reflete exatamente as palavras de Paulo: “Mas agora, sem lei, tem-se manifestado a justiça de Deus, que é atestada pela lei e pelos profetas; isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos os que crêem; pois não há distinção. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; sendo justificados gratuitamente pela sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs como propiciação, pela fé, no seu sangue, para demonstração da sua justiça por ter ele na sua paciência, deixado de lado os delitos outrora cometidos; para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e também justificador daquele que tem fé em Jesus. Onde está logo a vanglória? Foi excluída. Por que lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé. concluímos pois que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei” (Romanos 3.21-28). Por hora, saibamos que a lei referida no texto é a lei, tanto específica aos costumes judaicos como morais em geral, dada aos judeus pela qual o homem poderia conseguir a salvação se fosse perfeito nela – ninguém conseguiu e acabou servindo como meio para mostrar os pecados dos homens: “porquanto pelas obras da lei nenhum homem será justificado diante dele; pois o que vem pela lei é o pleno conhecimento do pecado” (Romanos 3.20). A palavra propiciação significa o afastamento da ira de Deus. E Deus é justo e justificador porque respectivamente nenhum pecado deixou de ser pago (injustiça não cometida) e quem pagou por esses pecados foi Ele mesmo na pessoa de Jesus (amor).

Deus na pessoa de Jesus conseguiu para nós uma justiça perfeita, mas a forma como nos é dada é através da fé. Para quem quer pagar pelos seus próprios pecados e conseguir sua própria justificação seria humilhante aceitar o fato de que outro a conseguiu por ele. Não é à toa que Jesus condenava a exaltação dos judeus quanto a se acharem justos pelos próprios esforços.
“Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida. Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça” (Romanos 4.4-5, ênfase nossa). Não “tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé” (Filipenses 3.8,9, ênfase nossa). Isto é, a justiça que nos justifica é a de outro: justiça imputada – recurso forense, legal. Portanto, Cristo precisou morrer no lugar do pecador para pagar por seus pecados e precisou viver perfeitamente a lei no lugar do pecador para que este tivesse uma justiça perfeita diante de Deus. Portanto o pecador, por imputação por meio da fé em Jesus, pagou sua dívida paga e já cumpriu perfeitamente a lei. Isto tira qualquer exaltação que venhamos a ter durante toda a nossa vida com Deus.

No momento da fé o pecador é justificado, logo a justificação é um ato e não um processo nosso de se evoluir moralmente até conseguir a aceitação de Deus – o que nunca ocorrerá. Por isso encontramos nas Escrituras que ao ser justificado o pecador já não entra mais em condenação – “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte” (Romanos 8.1,2, ênfase nossa) – ou em juízo – “Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida” (João 5.24, ênfase nossa).

“Justificados, pois mediante a fé, temos paz com Deus por meio do nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes” (Romanos 5.1,2, ênfase nossa). “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto não vem de vós; é dom de Deus” (Efésios 2.8, ênfase nossa). Estes textos dizem que não é por causa do poder, da pureza, da sinceridade ou qualquer qualidade na fé que o pecador é justificado, pois é a justiça de Cristo por causa da graça que nos justifica. A fé é meramente um instrumento e não tem valor em si, um vaso vazio e de barro: “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós” (2 Coríntios 4.7, ênfase nossa). É por causa da graça (favor imerecido) que a justiça de Cristo nos é imputada mediante a fé. A fé, portanto, não tem nenhuma condição meritória, mas uma condição instrumental ou lógica. A fé em si é vazia para a justificação, pois ela apenas recebe o que realmente tem valor: a justiça de Cristo. A causa da justificação não é a fé do homem, mas a graça de Deus. A justificação é pela graça somente porque a fé é um instrumento e não mais uma obra de mérito nosso: “E, se é pela graça, já não pelas obras; do contrário, a graça já não é graça” (Romanos 11.6). Aliás, se a fé em si salvasse (ajudasse a salvar) então ela teria que ser perfeita para gerar uma salvação perfeita.

Seria humilhante quando pensamos que temos algo que faça Deus olhar por nós, mesmo sendo a fé, mesmo crendo na salvação de Deus, e no fim das contas temos na verdade um instrumento que devemos usar, dado por Deus, para recebermos o que Deus conseguiu por nós. A bússola ainda serve aqui.

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