Pedras para humildade - V


A quarta pedra
“Aquilo que a soberba nega e destrói, a humildade reafirma e consolida: a condição de criatura do homem” (Josef Pieper)

Estamos na era da auto-ajuda. Os principais setores de uma livraria são compostos de livros de auto-ajuda, seja área religiosa, sexual, sentimental, financeira, social, familiar, entre outras. Contudo voltando ao passado podemos notar que a prática da auto-ajuda não é algo novo, mas um movimento ou tendência humanos, que Jesus procurou chamar a atenção quanto ao seu perigo quando é mal empregada ou mal entendida ou mal valorizada. O que não queremos dizer é que a auto-ajuda é má em si. Existem centros de auto-ajuda como os AA (Alcoólicos Anônimos) que buscam a partir do exemplo e experiência de outros auxiliar cada membro a encontrar ajudas para superar seus vícios de bebidas – o que na prática acabam se tornando centros de mútua-ajuda. A inteligência pode levar o homem a fazer grandes feitos e assim beneficiar toda uma comunidade. Ninguém duvida disto. Contudo a soberba do homem pode o levar a conclusões precipitadas ou simplistas.

A auto-ajuda é, de forma ampla, a ação de encontrar respostas, habilidades, forças, valores em si mesmo de modo a se ajudar na superação dos problemas. O grande perigo aqui é crer na superação de todos ou da maioria dos problemas através da auto-ajuda, principalmente numa área espiritual. No fim das contas o perigo da auto-ajuda de hoje é fazer do homem o que não é, confundindo sabedoria milenar com obviedades, negando a verdade por causa de sua dureza e aceitando a fábula devido a sua doçura. O que já era previsto: “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo grande desejo de ouvir coisas agradáveis, ajuntarão para si mestres segundo os seus próprios desejos, e não só desviarão os ouvidos da verdade, mas se voltarão às fábulas” (II Timóteo 4.3, 4).

Um dos enganos mais comuns é quando as pessoas criam ou formulam seu próprio deus para se sentirem ajudadas. Freud já alertava para isto. E o profeta Isaías também só que muito antes: “Quem formaria um deus ou fundiria uma imagem de escultura, que é de nenhum préstimo? (...) Pois os mesmos artífices não passam de homens” (Isaias 44.10, 11). Quando um deus é formulado pelo homem se torna tão limitado quanto o próprio homem. Interessante, que neste caso o povo de Israel criou um deus por pecado, pois Deus já havia se revelado a eles como o Criador e Soberano de todas as coisas. Já em outro caso um deus é criado por ignorância, desconhecendo a salvação de Deus: “As multidões, vendo o que Paulo fizera, levantaram a voz, dizendo em língua licaônica: Fizeram-se os deuses semelhantes aos homens e desceram até nós. A Barnabé chamavam Júpiter e a Paulo, Mercúrio, porque era ele o que dirigia a palavra. O sacerdote de Júpiter, cujo templo estava em frente da cidade, trouxe para as portas touros e grinaldas e, juntamente com as multidões, queria oferecer-lhes sacrifícios. Quando, porém, os apóstolos Barnabé e Paulo ouviram isto, rasgaram as suas vestes e saltaram para o meio da multidão, clamando e dizendo: Senhores, por que fazeis estas coisas? Nós também somos homens, de natureza semelhante à vossa, e vos anunciamos o evangelho para que destas práticas vãs vos convertais ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar, e tudo quanto há neles; o qual nos tempos passados permitiu que todas as nações andassem nos seus próprios caminhos” (Atos 14. 11-16). Entretanto alguém pode questionar: “E por quê Deus deixou alguns povos viverem sem nunca terem ouvido falar ou conhecido seu Criador por Ele mesmo?”. Ora, como alguém que não merece bem algum, primariamente por causa de seu representante, teria algum favor de Deus? Que humilhante para o leitor que tem a oportunidade de ouvir o evangelho e outros não tiveram. Isto não é acepção de pessoas? Não. Ainda não chegamos nesta pedra. Por enquanto apenas se detenha ao fato revelado de que outras religiões, outras crenças, outras filosofias religiosas existem por ignorância permitida – e nem um pouco injusta – da parte de Deus. A idéia, portanto, de centelha divina é uma doce fábula para ganhar leitores, adeptos, números, aceitação, crédito, alívio, satisfação... É humilhante saber que Deus não é obrigado a fazer nada de bem a qualquer homem. E se o faz é bondade, misericórdia ou graça então.

Outro engano popular é quando as pessoas ao vencerem certos obstáculos circunstanciais na vida acreditam que a força ou habilidade veio por causa de si mesmo. É o caso do rei da Assíria, que conquistou tantos povos e nações que disse: “Com a força da minha mão o fiz, e com a minha sabedoria, porque sou entendido; eu removi os limites dos povos, e roubei os seus tesouros, e como valente abati os que se sentavam sobre tronos” (Isaías 10.13). Na verdade, o rei estava sendo usado por Deus como instrumento em suas mãos e seria então castigado pela soberba: “Por isso acontecerá que, havendo o Senhor acabado toda a sua obra no monte Sião e em Jerusalém, então castigará o rei da Assíria pela arrogância do seu coração e a pomba da altivez dos seus olhos. Porventura gloriar-se-á o machado contra o que corta com ele? Ou se engrandecerá a serra contra o que a maneja? Como se a vara movesse o que a levanta, ou o bordão levantasse aquele que não é pau!” (Isaías 10.12, 15). Não tem o Criador qualquer direito sobre a coisa criada? Pois, todas “as nações são como nada perante ele; são por ele reputadas menos do que nada, e como coisa vã. A quem, pois, podeis assemelhar a Deus? Ou que figura podeis comparar a ele?” (Isaías 40.17, 18).

O leitor se confia em sua saúde para garantir muitos dias de vida? O que nos impede de morrer a qualquer momento, principalmente se cometermos algo de errado? Ora, existem evidências claras de que a sabedoria dos homens não lhes é segurança contra a morte. Pois senão haveria diferença entre a morte de homens sábios e prudentes, e dos demais, contudo: “Como morre o homem sábio? Assim como um tolo (Eclesiastes 2.16)”. Isto não é terrorismo de vida, porém demonstração do óbvio. Melhor a dura verdade do que se exaltar com qualquer doce fábula.
Nem o futuro pertence a nós ou a alguém. Consultar a sorte não é novo, é uma falácia antiga. E o profeta Isaías já alertava disto: “Deixa-te estar com os teus encantamentos, e com a multidão das tuas feitiçarias em que te hás fatigado desde a tua mocidade, a ver se podes tirar proveito, ou se porventura podes inspirar terror. Cansaste-te na multidão dos teus conselhos; levantem-se pois agora e te salvem os que dissecam os céus e fitam os astros, e os que nas luas novas prognosticam o que há de vir sobre ti.” (Isaías 47.12, 13). Deus estava ironizando com aqueles que buscavam respostas aos que faziam previsão do futuro.

Para quem depende de si mesmo para resolver tudo é humilhante reconhecer que antes de mais nada dependemos da ajuda do “alto” e não do barro. Aliás, a palavra humildade é derivada do latim “humus”, que significa “filhos da terra”.

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